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| Foto: Igo Estrela/Estadão Conteúdo

Depois de um café da manhã com analistas de mercado e investidores, em Nova York, um e-mail pulou na caixa de entrada de Gerald Brant, cicerone de Jair Bolsonaro em recente viagem aos Estados Unidos. A reputada especialista em América Latina Shannon O’Neil escrevia para convidar o pré-candidato a presidente do Brasil a ter uma reunião reservada na sede do Council of Foreing Relations, prestigiado “think tank” (centro de estudos) americano.

Lá foram eles, Bolsonaro e os três filhos, falar de sua visão de país no coração do “establishment” dos Estados Unidos, conduzidos (e traduzidos) por Brant. O convite superou as expectativas da equipe. A viagem, afinal, foi considerada um passo importante para construir as bases da campanha, calcada na ideia de que o deputado federal deixou os ideais intervencionistas para trás e agora é um defensor do liberalismo econômico.

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Para que Bolsonaro se sentasse frente a frente com investidores e analistas durante uma semana em outubro, foram necessários meses de articulação até que as portas das instituições fossem abertas, o que ocorreu com a ajuda de Brant.

O brasileiro-americano de 45 anos frequenta a Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos e o Conselho das Américas por conta de seu trabalho. De estilo discreto, ele trabalha como diretor na empresa de investimentos Stonehaven em Manhattan, no seio do mercado financeiro. Passou por NewOak e o banco Merrill Lynch, entre outros.

A colaboração de Brant com o pré-candidato é voluntária, corre por fora do horário comercial e resulta de uma amizade de anos com o filho mais velho de Bolsonaro, Flavio. Procurado pela reportagem, Gerald Brant não quis dar entrevista.

Anticomunista

Filho de mãe americana e pai brasileiro, Brant nasceu em Chicago e se mudou para o Rio de Janeiro nos anos 1980. Da parte brasileira, ele pertence à tradicional família mineira Brant, vizinha de Juscelino Kubitcheck em Diamantina, onde nasceu o presidente, e que se dividiu posteriormente entre Rio e Belo Horizonte, onde vive, por exemplo, o ex-deputado federal Roberto Brant, ministro da Previdência de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

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Por conta do trabalho do pai, que era diplomata, Gerald viveu em Bruxelas e em Varsóvia quando a Polônia ainda estava sob influência da União Soviética. Ele brinca entre amigos que é “anticomunista desde criancinha”. Nos anos 2000, Brant voltou a viver no Rio e o início do governo Lula o aproximou de integrantes do que se chama internamente de “movimento conservador”.

Católico praticante, cientista político com mestrado em administração pela Universidade Duke (nos Estados Unidos), ele defendia bandeiras de valores tradicionais, ao mesmo tempo em que atuava no mercado financeiro, propagador do “laissez-faire”.

Poucos anos depois, voltou aos Estados Unidos, primeiro Boston, depois Nova York, mas não perdeu contato com os amigos cariocas. Botafoguense como Bolsonaro, viaja ao Brasil pelo menos uma vez por ano para visitar a mãe, no Rio. Nessas ocasiões, sempre janta com Flavio Bolsonaro no restaurante Artigiano, em Ipanema.

Outras figuras do “movimento”, como o economista e blogueiro da Gazeta do Povo Rodrigo Constantino, se juntam à mesa. Inicialmente, o esforço era de juntar a tribo dos conservadores à dos liberais, até alguns anos atrás antagônicos.

Flavio, considerado jeitoso politicamente, empenhou-se especialmente em aproximar as correntes, lembram alguns dos frequentadores que atribuem ao primogênito do presidenciável papel relevante na formação desse eleitorado nuclear do pai.

Brant, por sua vez, não tem função na campanha. Interlocutores de Bolsonaro dizem que, mais adiante, se formalizada a candidatura, ele poderá ser o formulador para assuntos internacionais, o que não deverá ser tarefa lateral.

Com o discurso favorável a comércio bilateral e abertura econômica, além da agenda de viagens previstas – Londres, Coreia do Sul e Japão – , o pré-candidato sinaliza ter a área como prioritária.

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