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| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Depois de encerrar uma caravana pelo Nordeste e prestes a iniciar uma nova viagem por Minas Gerais em pré-campanha eleitoral, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda vai ter que encarar uma “caravana penal” entre Curitiba e Brasília para se defender dos processos na Lava Jato e na Zelotes. Além da ação do tríplex do Guarujá em que já foi condenado, Lula é réu em seis processos em primeira instância e ainda vai ser interrogado em quatro deles.

O petista esteve em Curitiba na semana passada para prestar depoimento pela segunda vez ao juiz federal Sergio Moro no processo referente ao terreno do Instituto Lula. Dessa vez, a mobilização de apoiadores foi bem menor em comparação com a primeira, em maio, quando foi interrogado no processo do tríplex.

Em maio, os manifestantes pró Lula se reuniram na Praça Santos Andrade, no Centro de Curitiba, e aguardaram mais de quatro horas e meia para a chegada de Lula ao palanque montado no local. Dessa vez, a manifestação ocorreu no Paço da Liberdade – espaço consideravelmente menor – e contou apenas com um trio elétrico, e não com um palco, para receber Lula.

A mobilização menor da semana passada foi calculada pelo próprio ex-presidente, segundo a avaliação do especialista em marketing político e professor de opinião pública da PUC-PR, Marcos Zablonsky. “O que importa nesse momento é a visibilidade do discurso, da fala. As narrativas e essas filmagens são todas guardadas para futura campanha eleitoral”, explica.

“Tem a fala dele, que estava mobilizado com os senadores, era uma outra configuração. Até para não desgastar demais e nem criar um ambiente dentro da própria cidade de polícia. O efetivo da polícia foi bem menor, teve menos ônibus. Eles configuraram de outra forma esse segundo momento”, analisa.

A tendência, segundo Zablonsky, é que a mobilização para um futuro interrogatório em Curitiba, relacionado ao caso do sítio em Atibaia, seja ainda menor e mais pulverizada. Isso porque os próprios movimentos de apoio ao ex-presidente podem perder a força. “Eu acho que ela [manifestação] tende a mudar de configuração. Os movimentos também têm o seu esgotamento natural, em termos de dinheiro para mobilização, têm outras estratégias de comunicação”, explica.

Para o especialista, a estratégia de Lula no âmbito judicial será focada nos advogados de defesa e em formadores de opinião. “Dependendo da posição, o Lula resolva fazer [o próximo interrogatório] por videoconferência. Porque ele desmobiliza também a relevância do juiz, se ele achar que isso é mais interessante”, explica Zablonsky. Lula teve a opção de ser interrogado por Moro via videoconferência na semana passada, mas a defesa do petista negou e preferiu que ele viesse até a capital.

Interrogatórios em Brasília

Dois meses antes de ser interrogado por Moro na Lava Jato, Lula foi ouvido em Brasília em um processo da Lava Jato. O processo é referente à compra de silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró e o Ministério Público Federal (MPF) pediu recentemente a absolvição de Lula no caso. Na ocasião, em março, praticamente não houve mobilização em favor do petista. Apenas cerca de 30 manifestantes se concentraram em frente à Justiça Federal de Brasília no momento do interrogatório.

Para Zablonsky, o fato tende a se repetir nos próximos três interrogatórios de Lula no Distrito Federal. O motivo: o juiz não é Moro. Não há no imaginário popular um embate entre Lula e o magistrado de Brasília.

“É um outro posicionamento. Talvez lá não tenha essa pressão política, esse cenário que estamos vivendo”, diz. “A mobilização em Brasília vai ser completamente diferente, até porque está longe do grande centro da discussão judicial. O centro da discussão judicial está em Curitiba”, completa Zablonsky.

Os três processos em Brasília em que Lula ainda não foi ouvido são referentes à Operação Zelotes. Um deles acusa o ex-presidente de tráfico de influência – ele teria atuado para liberar verba do BNDES em obra da Odebrecht em Angola. No outro, Lula é acusado de receber R$ 6 milhões para favorecer montadoras na edição de medidas provisórias. O terceiro processo é sobre as negociações que levaram a compra, pelo governo brasileiro, de caças Gripen da sueca Saab. Lula também é acusado de corrupção e tráfico de influência.

Os interrogatórios de Lula em Brasília e o próximo em Curitiba ainda não foram agendados pelos juízes que conduzem os casos e não têm prazo para acontecer.

O número de “paradas” na “caravana penal” de Lula ainda pode crescer. Isso porque há duas denúncias contra o petista que podem ser aceitas pela Justiça a qualquer momento. Uma delas, no Supremo Tribunal Federal (STF), acusa o ex-presidente de ser o chefe do “quadrilhão do PT”. Outra, em primeira instância, acusa Lula e a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) de obstrução de Justiça no caso da tentativa de nomeá-lo ministro da Casa Civil.

Segunda instância

Lula já foi condenado por Moro em primeira instância no caso do tríplex no Guarujá. Cabe agora ao Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF4) analisar a sentença do juiz paranaense e selar o futuro político de Lula. Se for condenado em segunda instância, Lula cai na Lei Ficha Limpa e fica inelegível em 2018.

Para Zablonsky, a pressão dos movimentos sociais não vai mudar a decisão dos desembargadores, mas quanto mais perto das eleições a decisão do TRF4 sair, mais politizada vai ficar a questão. “Se deixar muito para perto da eleição, cria uma condição de ruptura de um candidato que não poderá se candidatar. Talvez a pressão política no mês de junho, julho do ano que vem seja mais complexa e mais difícil de ser resolvida pelo Judiciário”, diz.

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