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Ministro da Justiça, Torquato Jardim , deu posse nesta sexta-feira (10) ao novo diretor-geral da Polícia Federal Fernando Segóvia. | Ronaldo Caldas/MJ
Ministro da Justiça, Torquato Jardim , deu posse nesta sexta-feira (10) ao novo diretor-geral da Polícia Federal Fernando Segóvia.| Foto: Ronaldo Caldas/MJ

O novo diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segóvia, usou palavras tranquilizadoras nesta sexta-feira (10), após assinatura do termo de posse no Ministério da Justiça, em Brasília, ao se referir à Lava Jato e outras operações de combate à corrupção. “O que a PF pretende é aumentar, ampliar o combate à corrupção. Então não será só uma ampliação, uma melhoria na Lava Jato, será em todas as operações que a PF já vem empreendendo. Bem como ampliar, criar novas operações”, disse ele, avaliando que a corrupção no Brasil é “sistêmica”.

O discurso público, porém, parece diferente do reservado. Nem bem assumiu o posto que foi do delegado Leandro Daiello por quase sete anos e Segóvia já articula mudanças profundas na equipe que vai comandar as ações da instituição nos próximos meses. O primeiro nome especulado já causa desconforto entre alguns policiais federais: Sandro Avelar é cotado para ser o número 2 na hierarquia da PF, assumindo a diretoria executiva.

Nada demais não fossem as ligações políticas com Tadeu Filippeli, ex-governador do Distrito Federal que é alvo da Lava Jato e até recentemente assessorou o presidente Michel Temer. Avelar tentou se eleger a deputado em 2014 pelo PMDB, após três como secretário de Segurança da gestão Filippeli.

Segóvia deve, neste primeiro momento, só fazer alterações na diretoria da PF. Substituições nas superintendências da PF nos estados deverão ser feitas em um segundo momento. Mas duas possíveis mudanças em especial causam preocupação a policiais da instituição. A primeira na Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado (Dicor), hoje ocupada pelo delegado Maurício Leite Valeixo, que é responsável pela condução de inquéritos contra pessoas com foro privilegiado que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

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A segunda atinge um dos assessores mais próximos do relator da Lava Jato no STF, ministro Edson Fachin: o delegado Josélio Azevedo de Sousa. Em uma composição estrutural recente na Polícia Federal, Josélio foi indicado para assumir como coordenador-geral de combate à corrupção da PF, além de já ter acumulado a chefia do grupo de inquéritos de pessoas com prerrogativa de foro perante o Supremo.

Em maio deste ano, o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, solicitou a Fachin que apenas Josélio tivesse acesso ao inquérito aberto para investigar o presidente Michel Temer, o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) e o deputado afastado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) no caso da JBS. À época, Janot alegou “sensibilidade” do caso para pedir um delegado exclusivo para a investigação.

Mudanças paulatinas

Segóvia foi indicado pelo presidente Temer para assumir o comando da PF na quarta-feira (8), após uma suposta recomendação do ex-presidente e ex-senador José Sarney (PMDB) e do ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha.

Um dos primeiros pedidos do novo diretor-geral foi receber a listagem de todos os superintendentes, diretores e nomes de delegados que compõem funções de gerenciamento na Polícia Federal. Questionado sobre mudanças na equipe da Lava Jato, Segóvia explicou que o tema está sendo trabalhado dentro do “processo de transição” e mudanças são naturais e serão feitas “paulatinamente”.

“A Polícia Federal está tranquila, já tive reuniões com todos os atuais diretores, todos os atuais superintendentes regionais e todos estão tranquilos. A gente pretende continuar o trabalho da Polícia Federal e as mudanças serão feitas paulatinamente e, com certeza, sempre tem gente que está cansada e quer sair e tem gente que está nova e quer começar um trabalho”, disse.

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Para as demais diretorias da PF alguns nomes que despontam como favoritos: Alfredo Junqueira, como novo diretor de administração e logística; Cláudio Gomes na Diretoria de Inteligência Policial; Eugênio Rica, para a diretoria de Combate ao Crime Organizado. Segóvia ainda não se decidiu pelos nomes das diretorias de Gestão Pessoal e a Técnico-Científica. O único nome que não será alterado por ter, internamente, um mandato, é o corregedor-geral Omar Mussi.

Silêncio sepulcral

A chegada de Segovia ao mais alto cargo da Polícia Federal ainda gera desconforto na corporação. Na quarta-feira (8), quando Daiello recebeu Segóvia no gabinete do prédio, que fica no 9.º andar do Máscara Negra (assim apelidado o edifício-sede da PF, em Brasília), foi realizada uma videoconferência com todos os superintendentes regionais.

Daiello agradeceu aos últimos anos de atuação e versou palavras de que o trabalho na instituição continua. Cedeu a vez e a voz a Segóvia, que ao dizer as boas-vindas, deu a palavra para que os delegados lotados nos estados pudessem falar. O silêncio foi sepulcral.

“É um gesto de como a tropa recebeu a notícia tempestiva da troca de comando da PF”, revela um interlocutor que acompanha o processo de transição e de equipes. As críticas sobre a atuação de Segóvia soam quase unânimes: nunca ter ficado à frente de uma grande investigação, não ter assumido alguma superintendência com elevada capacidade administrativa – como São Paulo, Rio de Janeiro ou Brasília –, e também não ter assumido nenhum cargo relevante de direção.

Em 22 anos de corporação, Segóvia passou a última metade em cargos administrativos. Entre 2008 e 2011, esteve no comando da Superintendência no Maranhão. Com 48 anos, o delegado entrou na PF em 1995. Foi chefe da Coordenação-Geral de Defesa Institucional e do Serviço Nacional de Armas, entre 2003 e 2007, adido na África do Sul e número 2 na corregedoria da PF, cargo que ocupava antes de ser escolhido para chefiar a instituição.

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