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 | Daniel Castellano    /    Gazeta do Povo
| Foto: Daniel Castellano / Gazeta do Povo

Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay. Com nome e apelido, o advogado é famoso em Brasília pelo estilo midiático, pela boa vida, pela vaidade confessa e pela amizade com políticos petistas – e de diversos outros partidos. Ele é o autor da medida cautelar no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a prisão em segunda instância que pode beneficiar o ex-presidente Lula.

Nega, contudo, que tenha entrado com o pedido de liminar, feito no dia seguinte do julgamento que rejeitou habeas corpus a Lula, por estar agindo em favor do PT ou de Lula. “Não tenho nenhuma preocupação com esse tipo de pensamento. Estou acostumado a esse tipo de coisa. Às vezes, sou o inimigo público número um. Advogado não tem de ter esse tipo de preocupação”, afirmou Kakay, nesta terça-feira (10). 

Seu apreço por Lula ou pelo ex-ministro petista José Dirceu, a quem teria chamado de “amigo irmão” em diversas ocasiões, não é escondido em entrevistas e declarações à imprensa. Mas Kakay também é próximo de outros políticos influentes, como o ex-presidente José Sarney e já trabalhou para correligionários do PSDB, PMDB e PP, como Edison Lobão (PMDB-MA), Aécio Neves (PSDB-MG), Romero Jucá (PMDB-RR) e Ciro Nogueira (PP-PI). 

Qual a motivação de Kakay para apresentar questionamento em um processo que ele apresentou em 2016, como representante do Partido Ecológico Nacional (PEN, atual Patriotas), e que causou atritos entre ele e o presidente do partido nanico?

Entre advogados, especula-se que Kakay não estaria agindo por partidarismo, para salvar Lula, mas porque a prisão logo após a segunda instância reduz a possibilidade de recursos às cortes superiores, o que diminui o número de casos que seu escritório atende. 

Também há quem especule que ele teria outros clientes na mesma situação de Lula que seriam soltos com a mudança do entendimento atual da Suprema Corte sobre o caso. Kakay negou essa tese ao ser questionado pela Gazeta do Povo quantos clientes dele estão na mesma situação do ex-presidente. “Nenhum. Meus clientes têm foro privilegiado. Sou contra o foro, mas eles não terão benefício com essa decisão”, disse o advogado.

“Acredito na Constituição. Se quiser mudar isso [permitir prisão após condenação da segunda instância], tem de mudar na Constituição. O STF fez algo que não tem poder de fazer. Nenhum Poder pode ser absoluto. Uma parte da população apoia a mudança do princípio de presunção de inocência. Mas, se hoje defendem isso, eles têm de imaginar que o STF pode mudar também a liberdade de expressão ou liberdade à propriedade privada. São cláusulas pétreas”, disse. 

Estilo de vida luxuoso e trânsito entre juízes e ministros do STF

Sua personalidade expansiva e a fama acumulada nos mais de 30 anos de advocacia ajudaram a criar amigos e inimigos. Kakay gosta de festas (ele é dono de dois restaurantes na capital federal), de cantar, de fazer discursos (quando costuma citar o poeta português Fernando Pessoa), de viajar para a Europa e levar um estilo de vida luxuoso, tomando bons vinhos e fumando charutos caros. Vaidoso, admite, mas alfineta: “Não sou tão vaidoso quando o Moro ou o Barroso, mas sou vaidoso”, citando o juiz federal da Lava Jato Sergio Moro e o ministro do STF Luís Roberto Barroso. 

A seus críticos, diz que sua felicidade e alegria incomodam e, por isso, sofre ataques. “Sou um cara solto e leve. E infelizmente sou um cara feliz, e felicidade no Brasil é quase um soco na cara”, afirmou. 

Alguns advogados ouvidos sob condição de anonimato criticam Kakay. Seu estilo histriônico atrapalharia a categoria, ao se colocar como um “publicitário” da profissão. Tecnicamente, sua especialidade seria o alegado trânsito com os juízes para convencê-los na defesa de seus casos em reuniões e despachos, ou em uma expressão jocosa, os “embargos auriculares”. 

Também há rumores de que diversos ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do STF evitam atendê-lo e que Moro já teceu críticas nos bastidores a seu estilo. Ele rebate: “isso é papo de advogado [que não gosta de mim]. Que o juiz Moro não gosta de mim, eu nunca ouvi falar. Eu respeito o trabalho dele. Eu tenho uma divergência jurídica e de visão do mundo com ele. Mas o respeito. No caso do STJ e STF, é intriga de quem fala. Eu sou recebido... “, disse. 

E se gabou: “De hoje para amanhã (terça para quarta-feira), serei recebido por sete ministros do STF. Também sou recebido pelos ministros do STJ. Mas não recebo ministro em casa, não despacho em casa”, declarou.

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