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A jornalista Valéria Monteiro afirma que pretende concorrer nas eleições de 2018. | José Luiz da Conceição
A jornalista Valéria Monteiro afirma que pretende concorrer nas eleições de 2018.| Foto: José Luiz da Conceição

Uma das consequências da atual crise política é a falta de confiança da população em partidos e políticos tradicionais. Uma pesquisa divulgada nesta semana pela CNT/MDA mostrou que a maioria dos eleitores quer votar em um nome novo para a Presidência da República em 2018. Nesta sexta-feira (22) surgiu mais um nome na tentativa de se enquadrar nessa categoria: a ex-apresentadora do Jornal Nacional e do Fantástico, Valéria Monteiro, lançou sua pré-candidatura.

Em entrevista ao portal Uol, Valéria disse que sua intenção é fazer uma campanha independente e que está conversando com alguns partidos, mas ainda é cedo para falar em “bandeiras”. Mas a apresentadora – e qualquer cidadão brasileiro – pode tentar se candidatar sem estar filiado a um partido político?

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) entendeu, nas últimas eleições, que não. O advogado Rodrigo Mezzomo, que lançou uma candidatura independente à prefeitura do Rio em 2016, teve o registro negado em todas as instâncias, incluindo o TSE. Tem prevalecido até agora o entendimento de que a Constituição exige a filiação partidária para alguém ser elegível.

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Nesta sexta-feira (22), porém, o juiz Hamilton Gomes Carneiro, da 132ª Zonal Eleitoral de Goiás, em Aparecida de Goiânia, concedeu ao advogado Mauro Junqueira o direito de se candidatar a qualquer cargo eletivo no pleito de 2018 sem estar filiado a um partido político.

Na sentença, o magistrado afirma que dois tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário têm peso de emenda à Constituição e garantem a legalidade das candidaturas independentes - ou avulsas - nas quais o candidato não tem filiação partidária. “O cidadão não pode ficar à mercê dos dirigentes partidários e partidos políticos em suas regras que excluem àquelas pessoas ditas independentes”, diz Carneiro na decisão.

Uma das autoras da ação é a União Nacional dos Juízes Federais (Unajuf), que deflagrou uma campanha em defesa das candidaturas avulsas. “A decisão abre espaço para a mudança de nível da política brasileira”, disse Eduardo Cubas, presidente da Unajuf. Segundo Cubas, esse é o primeiro caso no Brasil de uma candidatura avulsa com aval da Justiça.

STF deve deliberar

O Supremo Tribunal Federal (STF) pode deliberar em breve sobre o caso. O ministro Luís Roberto Barroso liberou recentemente para julgamento uma ação que discute a possibilidade de pessoas sem filiação a partidos políticos concorrerem em eleições. Ele concluiu o relatório de uma ação que chegou ao Supremo em junho deste ano sobre o tema. Agora, cabe à presidente da Corte, ministra Cármen Lúcia, decidir quando deverá entrar na pauta de julgamento.

Apesar de ainda não haver uma data prevista, a presidência do STF deve marcar o julgamento a tempo de valer já para as eleições de 2018. O prazo que o Congresso tem para modificar o sistema eleitoral termina em 7 de outubro, um ano antes da disputa do ano que vem. Mas diversas decisões já foram proferidas pelo Supremo e cumpridas após o prazo de modificações no Legislativo.

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A ação é de autoria do advogado Rodrigo Mezzomo, citado no início da reportagem. No TSE, os ministros Gilmar Mendes, Luiz Fux e Rosa Weber votaram contra o recurso de Mezzomo, rejeitado por unanimidade.

O recurso extraordinário com agravo (nome do tipo da ação) chegou ao Supremo em junho, em meio à discussão no Legislativo sobre reforma política. Inicialmente, Fux foi sorteado o relator no STF, mas apontou necessidade de redistribuição por já ter julgado o caso no TSE. As discussões no Congresso sobre a reforma política não incluem este tema.

Pacto

O autor da ação alega que é preciso considerar o Pacto de São José, firmado na Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969 e ratificado pelo Brasil em 1992. O pacto prevê que “todos os cidadãos devem gozar dos seguintes direitos e oportunidades: (...) de votar e ser eleito em eleições periódicas, autênticas, realizadas por sufrágio universal e igualitário e por voto secreto, que garantam a livre expressão da vontade dos eleitores; e de ter acesso, em condições gerais de igualdade, às funções públicas de seu país”.

Barroso, que tem se manifestado frequentemente sobre a necessidade de uma reforma política ampla no Brasil, não adiantou que posicionamento deverá adotar no julgamento. Mas, em ação anterior sobre outro tema relacionado ao sistema eleitoral, afirmou que a Constituição não institui uma “democracia de partidos”.

“Não se pretende negar o relevantíssimo papel reservado aos partidos políticos nas democracias representativas modernas. Porém, não parece certo afirmar que o constituinte de 1988 haja instituído uma ‘democracia de partidos’”, disse, em julgamento em 2015, no qual o STF decidiu que a perda do mandato em razão de mudança de partido não se aplica a candidatos eleitos pelo sistema majoritário (prefeito, governador, presidente e vices).

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