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Tasso Jereissati defende o rompimento do PSDB com o governo federal. | Marcelo Camargo/Agência Brasil
Tasso Jereissati defende o rompimento do PSDB com o governo federal.| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A peça de dez minutos que foi ao ar na quinta-feira em rádio e televisão imediatamente agravou a crise interna no PSDB, além de causar mal-estar dentro do governo de Michel Temer, ao fazer uma autocrítica e dizer que o PSDB errou ao deixar de lado suas origens e “ceder” ao fisiologismo. Enquanto alguns dirigentes partidários tentam apagar o incêndio, outros disseram concordar com seu conteúdo.

Um dos pontos mais criticados do programa foi o uso da expressão “presidencialismo de cooptação”. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso assumiu a autoria do termo. Indagado pela reportagem, o tucano disse que viu o roteiro antes da gravação e fez “uma correção”. “Como havia uma crítica ao presidencialismo de coalizão, eu corrigi, dizendo que a crítica deveria ser ao ‘presidencialismo de cooptação’”, afirmou. “Qual é a diferença? É que, neste último, dá-se uma relação com pessoas, mediada por nomeações e interesses pessoais, chegando aos financeiros”, explicou. “O outro [presidencialismo de coalizão] supõe uma convergência de pontos programáticos em consequência de apoio aos quais se abrem espaços no governo”, completou.

O vídeo despertou reação de três dos quatro ministros tucanos no governo de Michel Temer. Um deles, o chanceler Aloysio Nunes, disse que “o PT, do Lula ao mais modesto dos seus aderentes, deve estar dando gargalhadas diante desse enorme tiro que a direção interina do PSDB desferiu no nosso próprio pé”. Além dele, Bruno Araújo (Cidades) e Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo) divulgaram notas oficiais condenando o conteúdo do programa.

Bombeiros

Os ministros tucanos e o senador Aécio Neves (MG), presidente afastado do partido, se mobilizaram na sexta-feira para minimizar o mal-estar causado com o Palácio do Planalto após a exibição do programa tucano na televisão. Imbassahy e Nunes almoçaram com Temer no Palácio do Planalto e disseram que o conteúdo do programa foi todo definido de forma isolada pelo senador Tasso Jereissati (CE) e que ele não contaria com o apoio da executiva nacional do partido. Para ilustrar o “isolamento” do presidente em exercício do PSDB, os ministros exibiram mensagens de WhatsApp e celular de lideranças do partido com críticas ao conteúdo do comercial. À noite, foi a vez de Aécio, presidente afastado do PSDB, se reunir com Temer em um jantar no Palácio do Jaburu, residencial oficial do presidente.

O prefeito de São Paulo, João Doria, minimizou as divergências, comparando as reações contrárias de políticos tucanos à propaganda do partido a “caneladas” em um jogo de futebol entre amigos. Ele afirmou, ainda, que o PSDB não saíra fissurado desse episódio, mas fortalecido e mais próximo das demandas da população. “Quando você disputa uma partida de futebol entre amigos em um sítio, de um lado ou de outro, sempre tem uma ‘caneladazinha’ ou uma machucadura, mas depois todos se reúnem em torno da pizza ou de um bom churrasco. No PSDB é assim, ninguém se odeia. As pessoas têm posições distintas, mas são do bem”, disse.

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Segundo Dória, os ministros tucanos fazem um bom trabalho e devem continuar no governo. “Eles devem manter sua posição. Agora estamos na fase da estabilidade para proteger as reformas. Participar ativamente para que a reforma trabalhista seja aprovada o mais rápido possível e na sequência reabrir o debate sobre a reforma previdenciária, finalizar dentro do prazo a reforma política pelo menos com vista às eleições do ano que vem e iniciarmos o período no Congresso debatendo a reforma tributária”, disse, apesar de a reforma trabalhista já ter sido aprovada e sancionada. Doria também negou que seja contraditório criticar o presidencialismo de cooptação e continuar no governo. “A crítica é sempre construtiva, não é separatista. Não há ruptura, há um entendimento de que podemos melhorar, mas sempre com serenidade e equilíbrio.”

Sem arrependimentos

O senador Tasso Jereissati reagiu às críticas na sexta-feira, em Fortaleza. “A polêmica é necessária. Quem faz autocrítica não espera que não haja uma determinada polêmica. É bom porque desperta, de todos, posições diferentes e eu acho que a população quer isso hoje”, disse. “Eu não me arrependo de nada. Tenho responsabilidade total pelo programa”, afirmou, ao responder sobre não ter ouvido correligionários sobre a peça antes de levá-la ao ar. Segundo o prefeito João Doria, Tasso reforçou que a peça não era uma crítica direta a Temer ou a seu governo. Os dois estiveram juntos em um evento com empresários em Fortaleza.

O publicitário Einhart Jacome, que elaborou o programa, disse que “a ideia era fazer um mea culpa, mas também trazer o PSDB de volta para os trilhos onde estava em 1988, quando foi criado para lutar contra o fisiologismo, na época contra o quercismo”. Jacome trabalhou em campanhas de Tasso ao governo do Ceará e na reeleição de Fernando Henrique Cardoso. Desde que se tornou presidente interino, o senador cearense vem defendendo que o PSDB entregue os quatro ministérios que comanda.

“Pinguela”

O publicitário Elcio Mouco, que atua como marqueteiro do presidente Michel Temer, ironizou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso após saber que o tucano deu aval e fez sugestões para o polêmico vídeo do PSDB no qual o partido faz uma “autocrítica” por ter participado do “presidencialismo de cooptação” que seria praticado pelo governo federal.

“FHC chamou [o governo Temer] de pinguela, mas o programa do PSDB é uma pinguela para o passado”, disse Mouco. Procurado, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) não quis comentar a declaração. No ano passado, o ex-presidente havia comparado o governo do presidente Michel Temer a uma pinguela (uma ponte frágil, improvisada). As assessorias do PSDB e de FHC foram procuradas, mas não se pronunciaram sobre a declaração de Mouco.

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