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A corajosa transformação de Sara Winter
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Por Lucas Berlanza, publicado no Instituto Liberal

A mentalidade coletivista, entronizada pelo esquerdismo pós-moderno e suas radicais certezas sobre não haver certezas e ser necessário demolir todos os padrões, exerce um poder imenso sobre aqueles que tiveram a infelicidade de se enredar em suas teias. Uma vez capturado pelo fanatismo do grupo, o indivíduo se vê em maus lençóis para escapar. Nem sempre está tudo perdido, porém, e acredito seja importante enaltecer a coragem daqueles que ousam remar contra a maré, por mais difícil que pareça. É o caso, para surpresa de muitos, da conhecida jovem militante feminista Sara Winter.

Fundadora da célula brasileira do ucraniano Femen, Sara Winter era um ícone daquele tipo de feminismo mais caricato, do tipo que vai às ruas como veio ao mundo para enfrentar a terrível e opressora “sociedade patriarcal”. Do tipo que, normalmente, despeja ódio contra o sexo masculino, a ponto de nos tratar a todos como a escória moral da humanidade. Sara era um emblema humano desse tipo de destempero repulsivo, que quer chocar apenas por chocar, desafiar apenas por desafiar, que acredita promover algum tipo de conscientização pela melhoria da sociedade agredindo os valores e princípios referenciais dessa mesma sociedade. Há alguns meses, porém, muita coisa mudou.

Em seu perfil na rede social Facebook, em que divulga suas ideias, Sara Winter revelou-se mãe e apaixonada por seu filho e seu namorado. Segundo ela, por conta de sua nova experiência, de estar constituindo uma família, e de abraçar uma fé religiosa, abandonou o radicalismo de tempos tão recentes.  De alguns meses para cá, a ativista fez publicações bastante inesperadas. Em uma delas, arrependeu-se de ter praticado abortos, embora permaneça, a nosso ver particular, muito infelizmente, favorável à legalização deles. Disse que “o feminismo jovem e online brasileiro (…) é um ninho de cobras”, onde “existem fofoca, inveja, brigas horríveis”.

Em outra publicação, Sara bombardeia a ideologia de gênero, em que diz não acreditar; para ela, sentir-se pertencente a outro gênero, ou adornar-se com apetrechos ou fazer cirurgias para assemelhar-se a ele, não faz com que um homem se torne mulher ou vice-versa. Em gesto de robusta coragem, ela aponta o dedo para as antigas “companheiras” que afrontam e ofendem mulheres religiosas, dizendo-se entristecida ao ver uma campanha feminista que ironizava ícones católicos. “O feminismo deveria ser mais plural, deve ser menos violento com mulheres que têm qualquer tipo de fé”. Ela vai além: deveriam ser acolhidas mulheres de todas as crenças, inclusive políticas.

Sem deixar de se fazer alvo das próprias críticas, tendo em vista sua atuação pregressa, Sara aponta que o problema do feminismo está nas próprias feministas. Elas teriam “banalizado” expressões como “opressor” e “estuprador”, distribuindo-as a torto e à direita para todos os homens, quase sem exceções e controle, menosprezando os casos realmente delicados e que exigem o barulho das inconformadas – e DOS INCONFORMADOS, porquanto a indignação com o abuso não está condicionada pelo sexo. Para coroar, Sara questionou a Parada Gay, além de demonstrações “artísticas” obscenas patrocinadas pelo Ministério da Cultura, levantadas como formas válidas de expressão e conscientização. Sobre a Parada, o que era para servir de alerta e passar uma mensagem, segundo ela, “está recheado de sexo ao ar livre, sem a mínima preocupação em ofender as demais pessoas que precisam passar pelo mesmo local, overdose por abuso de drogas, coma alcoólico, estupros”, entre outras obscenidades. Sara contesta, ainda, o fato de essa exibição, ofensiva a boa parcela dos pagadores de impostos, ser financiada pelo dinheiro público. É a mesma crítica que fizemos há um tempo, e sempre faremos, a esse evento. Ela ataca ainda o deputado do PSOL, Jean Wyllys, se posiciona contrariamente ao chamado Kit Gay, e defende a melhoria da segurança pública.

Apesar da transformação radical, Sara Winter continua se identificando como feminista. Ela considera que o feminismo é uma causa justa, englobando o enfrentamento da violência psicológica e sexual contra a mulher, o fim da vitimização da mulher estuprada, o fim do turismo sexual, entre outras bandeiras – algumas, evidentemente, contando com nosso total apoio e alvejando abominações morais notórias; outras que derivam, a nosso ver, ainda, de uma exageração da realidade. Particularmente, confesso não simpatizar com nenhuma noção de feminismo na contemporaneidade, nem mesmo aquele que se identifica como “liberal”. Não gosto da palavra, não gosto de identificar uma bandeira em torno de um bloco baseado em um critério como o gênero sexual. Prefiro enxergar indivíduos lutando pelo respeito à sua dignidade como seres humanos, e não homens ou mulheres, que precisariam de um tratamento especial do ordenamento jurídico por pertencerem a esse ou aquele gênero. Mas isso é outra questão. Quaisquer que sejam, em suas minúcias, as opiniões de Sara Winter, ela visivelmente mudou, e mudou muito. Arrependeu-se de se ter privado de muitas coisas, de se ter obrigado a agir de determinadas formas, para agradar as companheiras. Anunciou que está escrevendo um livro contando histórias bizarras com que travou contato em seu envolvimento com os movimentos feministas e de esquerda, com direito a bebidas, drogas, orgias e até ameaças de morte. Por sua fantástica ousadia, Sara Winter se diz agredida e hostilizada por outras feministas e militantes de esquerda, ameaçada de ter sua página na Internet derrubada, constrangida por suas ideias.

Por isso, aqui vai nosso recado: não escrevemos este artigo para, de alguma forma, expor ou prejudicar Sara Winter; não escrevemos para expressar afinidade por todas as suas ideias, o que sequer é o caso, e não precisa ser para que haja respeito mútuo. Não. Não importa se ela é feminista, liberal, conservadora, social democrata, ou o que seja; não importa por que decidiu expressar o que expressou. Escrevemos apenas para demonstrar solidariedade ao seu direito de mudar de ideia, ao seu direito de pensar o que desejar. E escrevemos, sobretudo, para explicitar a sua evidente coragem. Seu gesto não é comum, mas é absolutamente necessário, e precisa ser reconhecido em seu valor, a fim de que sirva de exemplo e estimule outras pessoas a seguirem pelo mesmo caminho e não se sentirem instadas à inércia, à paralisia no coletivismo insidioso e sectário. Portanto, Sara Winter, não concordamos em tudo, somos até bastante diferentes, mas você está de parabéns!

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