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greg maconha

Aconteceu novamente, o que já está ficando repetitivo e reforça minha “teoria conspiratória”: alguém na Folha mostra a coluna de Gregorio Duviver antes para Luiz Felipe Pondé, para que o filósofo possa massacrar o sensacionalismo boboca do humorista. Lemos, com algum sacrifício, as besteiras de Greg, e na página seguinte temos a alma lavada com a paulada certeira do filósofo.

Hoje, Greg resolveu “reclamar” que fez apologia às drogas e não foi preso. Ele diz que a droga já foi legalizada para a classe média alta, e que somente negros e pobres vão presos. Estranho: Greg não sabe que Playboy, um dos maiores traficantes do Rio, que foi morto recentemente, pertencia à classe média e era branco? Sabe ele que Marcola também vem da classe média e é branco? Detalhes…

Sensacionalistas atacam com frases desse tipo: “Quando você sair do armário, vai ver que a maconha já está descriminalizada há muito tempo. O que continua criminalizada é a pobreza”. Levando ao pé da letra a frase idiota, concluiríamos que ser pobre é crime no país. Mas alguém com um mínimo de bom senso e honestidade está mesmo disposto a sustentar a “tese” de que basta ser pobre para ir preso, mesmo quando o pobre é um cidadão trabalhador que respeita as leis?

Mas não é dessas incoerências e desses absurdos que quero falar. É do coletivismo do “bom moço”, ou daquele que faz de tudo para bancar o bom moço. Greg puxa Deleuze da cartola para separar a direita e a esquerda com base na sua (suposta) “preocupação” com o indivíduo ou o coletivo. A esquerda se preocupa com o “mundo”, a direita com o próprio umbigo. É o que diz o rapaz:

Deleuze diz que o que difere a direita da esquerda é a forma que cada uma pensa o endereço postal. A direita diz: Gilles Deleuze. 12. Rue de Bizerte. Paris. França. Mundo. A esquerda diz: Mundo. França. Paris. Rue de Bizerte. 12. Gilles Deleuze. Ser de esquerda é perceber que os problemas do mundo vêm antes dos problemas do bairro que vêm antes dos meus problemas pessoais. Ali, Simba, tudo o que seus olhos podem ver, tudo isso é problema seu.

Como não rir? Greg até é um comediante razoável às vezes, ainda que involuntariamente. O próprio Pondé já cansou de detonar esse tipo, o filhinho de papai que quer “salvar o mundo”, mas nunca arruma seu quarto ou ajuda a mãe a lavar a louça. As abstrações seduzem os preguiçosos e vaidosos, pois não é preciso fazer nada de fato para posar de alma caridosa. É o que define o poser das redes sociais.

Se um indivíduo trabalha sério, é honesto, cria e educa bem seus filhos, é um bom marido e um cidadão ordeiro, ele já faz muito pelo mundo. Mas a esquerda coletivista discorda: esse é o “coxinha”, o “burguês”, a “classe média fascista”. Pela ótica bizarra dessa esquerda, o maconheiro vagabundo que vive falando sobre como ama a Humanidade é muito superior do ponto de vista moral. Ajuda a sustentar traficantes, mas depois diz que o traficante é vítima da polícia “fascista” por ser negro e pobre, e se acha o melhor sujeito que já pisou na Terra.

Pondé, por sua vez, cita Paul Dolan, um “misto de psicólogo comportamental e economista”, para concluir algo bem diferente:

Devemos agir mais em pequenos ajustes na vida (“cutucões”, na linguagem do autor), do que pensando em grandes projetos de mudança (“empurrões”, ainda de acordo com Dolan). Os detalhes contam e não as grandes teorias sobre a vida. Enfim, fazer, mais do que sonhar.

Eis uma definição de direita e esquerda muito melhor do que a utilizada por Greg: a esquerda sonha, a direita faz. A esquerda gosta dos grandes projetos ambiciosos, como criar o “novo homem”, uma desculpa para nada fazer de fato pelo próximo de carne e osso. A direita está lá, trabalhando para criar riqueza, empregos, progresso, inclusive para a esquerda sonhadora.

É por isso que Greg, mesmo ajudando a sustentar ou defender moralmente traficantes que prejudicam a vida de milhares de pessoas, inclusive e principalmente de negros e pobres, julga-se melhor do que os conservadores e liberais, só porque fala em nome dos negros e pobres como abstrações coletivistas. Os resultados concretos nunca interessaram muito aos que preferem apenas sonhar ou posar de abnegados.

E quanto à “reclamação” de Greg por não ter sido preso ou processado, nunca é tarde para remediar. Os liberais e conservadores, ao contrário da esquerda, defendem o império das leis, a igualdade de todos perante as mesmas regras, independentemente de classe social, cor ou gênero. Greg está certo nisso ao menos: ele deveria sofrer as consequências de seus atos da mesma forma que qualquer outro, mesmo sendo riquinho e filhinho de papai. O problema é que o Brasil não é um país liberal…

Rodrigo Constantino

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