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A "nova classe média" vive de bico?
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O editorial do Estadão hoje mostra em pesquisa como uma parcela razoável da “nova classe média” depende de “bicos” para se manter nesse patamar social:

Uma parte da “nova classe média” brasileira depende de bicos para manter-se no patamar socioeconômico que alcançou. Essa constatação está em uma pesquisa que acompanhou o modo como as famílias dessa classe gerenciam sua renda. O levantamento, divulgado pelo Estado, indica uma grande dificuldade de obter estabilidade apenas com os ganhos do emprego formal, obrigando as famílias a complementar a renda com diversas atividades de caráter incerto. Dependentes da demanda por esses serviços informais, os pesquisados podem passar da classe B para a D em um curto espaço de tempo, às vezes de um mês para o outro.

Embora não tenha abrangido o País todo, a pesquisa é um claro indício de que a má qualidade do emprego no Brasil condena uma parcela importante dessa festejada classe de renda ao aperto permanente em razão das dívidas, da ignorância em relação à sua situação real e do despreparo técnico e educacional para buscar uma colocação mais rentável e estável.

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Isso acontece porque essas famílias têm um ganho fixo muito baixo, que frequentemente nem é fruto de trabalho formal, e só de benefícios sociais, como aposentadoria e Bolsa Família. A renda, portanto, tem de ser complementada com serviços eventuais – que muitas vezes resultam em ganhos maiores do que os proporcionados pelo fixo.

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Um aspecto importante do levantamento é que muitos entrevistados só entendem que estão endividados quando não conseguem pagar as prestações ou renegociar os débitos. Parte da “nova classe média” não reconhece como dívida as prestações que ainda não venceram nem as que já estão em atraso, mas somente aquelas que o credor não aceitou renegociar. Isso significa que, mesmo endividadas, as famílias dessa classe continuam a consumir sem fazer provisão para pagar os débitos. Ao contrário: para seguir o padrão imaginado para a classe, elas ampliaram o cardápio de consumo, incluindo TV por assinatura, internet, plano de saúde e escola particular, estreitando ainda mais sua margem de manobra para enfrentar a oscilação de renda.

Sabemos como o governo Dilma, munido pelos estudos de Marcelo Neri (o Mr. M. do Ipea), tem alardeado esse espantoso crescimento da “nova classe média”, que inclui até gente que vive em favelas e depende de “bicos”. Mas muito disso não passa de engodo, de aparências.

Muitos são membros da “nova classe média” graças ao crédito farto, que não é sustentável, como podemos observar pela alta na taxa de juros e na inadimplência. A falta de conhecimento sobre finanças é algo assustador também. Quando junta o consumismo típico dos brasileiros, com essa ignorância financeira, o resultado é um excesso de alavancagem só porque a prestação cabe (por enquanto) no orçamento mensal. Até o dia em que isso não for mais verdade.

Não quero parecer alarmista, mas é preciso ser realista. Desenvolvimento sustentável só se consegue com aumento da produtividade, com uma mão de obra mais qualificada em um ambiente mais competitivo de livre mercado. O resto é sonho de uma noite de verão, que costuma acabar como pesadelo quando chega o inverno…

Rodrigo Constantino

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