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A União Soviética salvou a Europa da escravidão?
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O fim da Segunda Guerra Mundial completou 70 anos, e traz à memória muitos sofrimentos e sentimentos. Em um artigo publicado hoje na Folha, quatro embaixadores de países que compunham a antiga União Soviética comentam sobre a bravura popular dos soldados comunistas que teriam impedido a escravidão na Europa. Dizem eles:

Já se passaram 70 anos. No entanto, todos os anos neste dia, iremos lamentar os mortos e lembrar de uma guerra que chama à consciência. Ela nos encarrega de grande responsabilidade e faz perceber de modo mais profundo o abismo infinito, à beira do qual o mundo estava. Ela nos mostrou as consequências monstruosas da violência, intolerância racial, genocídio e do tratamento degradante ao homem.

Sempre recordaremos que esses excessos levam medo, humilhação e morte para as pessoas. Eternamente respeitaremos os que sacrificaram as próprias vidas, tanto quem combateu, quanto quem trabalhou abnegadamente na retaguarda.

[…] Nós nunca dividimos a vitória em nossa e dos outros. Reconhecemos a coragem de todos os aliados que se opuseram ao nazismo, inclusive dos membros da Força Expedicionária Brasileira. Sabemos, por outro lado, que a União Soviética perdeu naqueles anos de guerra dezenas de milhões de seus cidadãos.

A vitória foi forjada corajosamente e foi ficando mais próxima com a bravura da Leningrado cercada, com a coragem dos defensores de Sebastopol, com a proeza de milhares de combatentes na retaguarda. A vontade de ferro do povo soviético, o seu destemor e resistência, salvaram a Europa da escravidão.

Não resta dúvida de que a União Soviética teve papel importante na derrota nazista. Mas é preciso tomar cuidado para não reescrevermos a história, transformando em heróis aqueles que também eram vilões, como os nazistas que combatiam. Quando os autores descrevem o regime nazista acima, sobre as consequências monstruosas da violência, a intolerância, o genocídio e o tratamento degradante ao homem, eles poderiam estar muito bem descrevendo o próprio comunismo.

Os aliados tiveram que se unir ao Diabo para derrotar Hitler, como o próprio pragmatismo de Churchill disse. Mas isso não faz do Diabo um santo! O comunismo e o nazismo eram ambos monstros que deveriam ser derrotados, mas se era necessário se unir a um dos monstros antes para derrotar a maior ameaça do momento, então os aliados estavam dispostos a isso. Democracias liberais se juntaram aos soviéticos por essa causa comum, mas logo depois teve início a Guerra Fria, já que eram incompatíveis entre si.

Quanto ao número de mortos na União Soviética, um fato, é preciso levar em conta que justamente por se tratar de um regime opressor e ditatorial, Stalin podia usar os “cidadãos” (súditos) como bem desejasse, e foi isso mesmo que fez. Mandava para o sacrifício milhões sabendo que seriam dizimados, sem levar em conta o valor da vida humana como tinham que fazer os líderes do mundo livre.

Li há muitos anos, mas ainda guardo fresco na mente os detalhes incríveis de Stalingrado, de Antony Beevor, um livro sobre os terrores dessa gigantesca batalha decisiva. Os russos e soviéticos eram tratados de forma desumana pelo próprio governo, e muitos morreram por traição ao tentar desesperadamente se entregar ao lado nazista, por não suportarem mais o próprio regime.

Alegar, portanto, que a União Soviética salvou a Europa da escravidão é repetir uma meia verdade que se torna uma imensa mentira. Sim, a União Soviética teve seu papel no combate ao nazismo, e com isso impediu a escravidão da Europa. Mas seu objetivo era impor outra escravidão, tão cruel e desumana quanto aquela que combatia. O comunismo era parecido com o nazismo em muitos aspectos, e as diferenças nas “intenções” propagadas não eram sentidas por suas vítimas. O kulak era o judeu dos comunistas, morto apenas por ser um pequeno proprietário de terras.

“Tendo em vista as ameaças reais do terrorismo de hoje em dia, o ultranacionalismo e o neonazismo, devemos permanecer fiéis à memória dos nossas ancestrais. Temos a obrigação de defender a nossa ordem mundial, baseada em segurança e justiça, e evitar o retorno às guerras frias e incandescentes”, concluem os autores. Mas é bom ter em mente que parte dessa ameaça ao mundo livre vem justamente dos que ainda pregam o comunismo ou suas variantes, e que são as democracias liberais que precisam ser preservadas, contra as diferentes formas de coletivismo totalitário.

Rodrigo Constantino

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