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As ideias malucas de Trump. Ou: Nem todo conservador é liberal em economia
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Por João Luiz Mauad, publicado pelo Instituto Liberal

Muita gente boa, como meu amigo Nivaldo Cordeiro, acredita, sem maiores questionamentos, que, pelo simples fato de apoiar alguém autoproclamado conservador, está apoiando também o liberalismo econômico. Não é verdade.

Com o intuito de aproximar liberais e conservadores, criou-se um mantra segundo o qual todo conservador é um liberal em economia. Lamento informar que não é bem assim que as coisas funcionam. Assim como há liberais e liberais, há conservadores e conservadores. Assim como Ronald Reagan era, realmente, um ardoroso defensor do livre mercado (embora tenha aumentado os gastos públicos com investimentos maciços em defesa), há conservadores nem um pouco preocupados com livre mercado ou liberdade econômica, muito pelo contrário. Um desses é Donald Trump, candidato favorito disparado do Partido Republicano – e, portanto, da maioria dos conservadores americanos – à presidência dos EUA.

Já falei aqui sobre a xenofobia atávica de Trump, que julga os latinos e os muçulmanos seres inferiores, portadores de uma índole intrinsecamente criminosa. Muitos dirão, distraidamente, que a questão da imigração não tem nada a ver com mercado, o que é um equívoco, pois a liberdade econômica envolve não apenas a livre circulação de mercadorias e serviços, mas também de pessoas e mão-de-obra.

Infelizmente, entretanto, esta não é a única opinião de Trump em frontal desacordo com os ideais de liberdade econômica. O fanfarrão já se disse também favorável à taxação pesada de produtos importados (chegou a dizer que proporia taxar em 45% todos os produtos chineses) e à revisão de vários acordos de livre comércio recentemente celebrados entre os EUA e outros países, como forma de defender a indústria doméstica. No mesmo compasso, Trump defende a proibição de empresas nacionais de levarem suas linhas de produção para outros países (outsourcing), inclusive gigantes bem sucedidas como a Apple, cujas linhas de montagem, sob um eventual governo ditatorial de Trump teriam de ser trazidas de volta aos Estados Unidos, à força.

Mas não é só isso. Além de mercantilista empedernido e nacionalista xenófobo, Donald Trump também já demonstrou ter muito pouco apreço pela propriedade privada – a dos outros, é claro. Há poucos anos, depois de ver todas as suas ofertas de compra recusadas pela proprietária de um imóvel vizinho a um de seus hotéis, ele pretendeu, com o apoio de amigos na prefeitura de Atlantic City, desapropriá-lo, em nome do interesse público, pelo simples motivo de achá-lo … feioso. Felizmente, a justiça americana bloqueou a pretensão de Trump e seus asseclas instalados na prefeitura daquela cidade, mas o episódio dá uma boa amostra do que ele seria capaz de fazer com o poder presidencial nas mãos. (Cruz credo!)

Em resumo, nada contra o fato de os conservadores tupiniquins apoiarem e/ou torcerem pela vitória de Donald Trump ou qualquer outro candidato do GOP ao governo americano, bem como defenderem suas ideias antiliberais, mas, por favor, dizer que o bufão de topete amarelo defende a liberdade econômica, aí já é um pouco demais. Aliás, se me permitem a comparação, Trump só não é menos antimercado que o comuna Bernie Sanders.

PS: por favor, me poupem daqueles comentários de estar semeando a discórdia entre a direita tupiniquim. Não vou deixar de dizer o que penso a pretexto de um fusionismo descabido, apenas para “combater o inimigo comum”. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

Nota do blog: Depois de tanta polêmica sobre Trump e seu fôlego nas primárias do GOP, resolvi ler seu livro Time to get tough, em que ele explica a necessidade de “falar mais grosso”. Ainda estou no começo, intercalando com outras leituras, mas o que emerge é, de fato, alguém com pouco apreço pela liberdade econômica. Ou por outra: Trump se diz um grande defensor do livre mercado, e alega que o estado deveria atrapalhar menos. Mas quando é hora de propostas práticas, ele acaba pregando algumas bizarrices mesmo, bem nacionalistas e mercantilistas. Sem falar que é um tanto populista no estilo. Talvez seja um “mal necessário”, pois qualquer coisa é melhor do que mais um mandato “progressista”. Mas não quero crer que alguém como Trump seja a única opção, em prévias tão disputadas com gente tão boa. Onde está o novo Reagan?

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