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Campeonato de atraso entre direita e esquerda?
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Ando com pouca paciência para os “isentões”, confesso. Esse papinho de quem posa acima da disputa “ultrapassada” entre direita e esquerda é quase sempre de esquerdista fingindo ser imparcial, de centro e superior aos partidários. Hoje foi a vez de Ricardo Rangel adotar tal discurso em sua coluna no GLOBO, usando como base o caso da policial que reagiu e matou um marginal em São Paulo.

Ele tenta o tempo todo pairar acima de nós, reles mortais com visões de mundo ideológicas, buscando compreender o que cada lado tem de certo. Para ele, ambos estão certos e possuem visões complementares. Mas esse esforço budista, no fundo, serve para tecer algumas críticas superficiais aos esquerdistas mais radicais, que tratam bandidos como heróis, e preservar, na prática, a essência da visão esquerdista: criminoso é uma “vítima da sociedade”. Diz ele:

Quem vê a realidade de forma concreta enxerga uma guardiã da lei que cumpre seu dever de eliminar uma ameaça a inocentes indefesos (a morte do assaltante não é desejada, é contingencial). Quem vê o mundo assim se concentra nos inocentes e na agente de segurança que os protege, os vê como vítimas, se solidariza com eles.

Quem vê a realidade de forma simbólica enxerga um homem negro e pobre, excluído e embrutecido, que, pressionado pela recessão e pelo desemprego, recorre ao crime. Quem vê o mundo assim enxerga o criminoso como resultado de uma realidade perversa.

Uns e outros raramente se entendem: simbólicos consideram concretos cansativos, sem imaginação, sem poesia, sem solidariedade; concretos acham simbólicos frívolos, irracionais, extravagantes, um entrave. Se tivessem um pouco mais de boa vontade e de bom senso, veriam que nenhuma das duas visões está errada, que ambas são verdadeiras, e que não se contradizem, pelo contrário, se complementam.

Rangel chega perto da verdade quando diz que a direita foca no que é concreto, ou seja, nos humanos de carne e osso, enquanto a esquerda abraça o simbólico, ou seja, o mundo da estética, da narrativa, da poesia. Mas, em que pese a tentativa de ver razão em ambos os lados, o jornalista acaba endossando a visão esquerdista, ao assumir a premissa absurda (e estética) de que alguém aponta uma arma carregada para crianças por conta do desemprego. Eis onde o autor trai seu esquerdismo. Ele conclui:

No fundo, a esquerda guarda o ranço de enxergar o Estado liberal-democrata como mecanismo de dominação do povo, e o criminoso, que desafia a ordem “burguesa”, como herói da resistência. “Seja marginal, seja herói”, escreveu Hélio Oiticica.

A direita precisa abandonar a curiosa suposição de que aumentar a violência é um bom caminho para diminuir a violência. A esquerda precisa abandonar a absurda ideia de que criminosos são românticos.

Enquanto a direita repete Washington Luís, insistindo que “a questão social é um caso de polícia”, e a esquerda teima em tratar casos de polícia como questão social. Estão ambos parados nos anos 1920, e, no campeonato do atraso, todos somos derrotados.

Eis a tática do “isentão”: criticar uma extrema esquerda, que chama marginal de herói, para no fundo atacar a posição razoável, de bom senso, da imensa maioria, que é endurecer no combate ao crime. O caminho para reduzir a violência é reduzir a impunidade e, se preciso, reagir com mais rigor sim. Chamar isso de “mais violência”, ou condenar a ideia sensata de armar a população ordeira, eis o que quer no fundo o autor com essa coluna, e é uma mensagem totalmente de esquerda.

Quem acha que um marginal aponta uma arma para crianças por conta de desemprego, e não por maldade, por impunidade, por perversão e por valores morais degradados, pode falar o que quiser, tentar com todo esforço do mundo bancar o imparcial, mas já aderiu às premissas da esquerda. E quem acha que é “aumentar a violência” reagir a tais marginais também pode fingir o quanto quiser, mas é de esquerda.

Não há um campeonato de atraso entre esquerda e direita; há uma hegemonia da esquerda há décadas no Brasil, e o resultado está aí, esse caos social e econômico, um inferno que elimina mais de 60 mil vidas por ano. A solução não é a equidistância entre a esquerda e a direita, entre quem chama assassino de herói ou quem reconhece que uma policial corajosa é, de fato, uma heroína que salvou vidas. A solução é definitivamente uma guinada à direita!

PS: Debatemos em nosso podcast desta semana o caso da policial, e o ouvinte terá uma opinião bem mais contundente, firme e correta do que essa em cima do muro do “isentão” que aceita as premissas da esquerda:

Rodrigo Constantino

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