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Civilidade é coisa de branco opressor?
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O leitor sabia que a civilidade é coisa de branco opressor? Não? Nem eu. Mas é a mais nova invenção na “marcha das minorias oprimidas”. A civilidade agora passou a ser uma manifestação do patriarcado branco. Uma dupla de professores da Universidade de Iowa alega que “a civilidade no ensino superior é uma norma racializada e não universal”. É o que Steve Salermo mostra nesse artigo no WSJ.

O artigo que os professores publicaram no Howard Journal of Communications já estampa no título a visão curiosa: “Civility and White Institutional Presence: An Exploration of White Students’ Understanding of Race-Talk at a Traditionally White Institution”. Nele, eles descrevem a necessidade de se eliminar a “civilidade branca”, pois sua persistência apaga a “identidade racial” e reforça o “poder racial branco”.

Sua tese pode ser um pouco difícil de seguir, desenvolvendo-se naquela atmosfera densa que é típica da academia. Mas sua principal alegação é dupla: um, que a civilidade, como atualmente praticada na América, é uma construção branca; dois, que em um ambiente de universidade, o esforço de “acordar” o aluno branco para evitar “microagressões” contra pares negros é em si uma “microagressão” – uma forma de noblesse oblige, pelo qual os alunos brancos bancam os paternalistas com os estudantes negros.

Não só isso, mas tratando estudantes negros com cortesia comum e esperando o mesmo em troca, estudantes brancos ignoram as queixas dos negros, desviando a “conversa de raça” que deveria ocorrer no preâmbulo de todas as outras conversas. Entendeu?

Algo semelhante está acontecendo no debate das faculdades, onde padrões historicamente elevados de decoro estão sob cerco como manifestações do pensamento patriarcal branco. Assim como as provas factuais e lógicas que os debatedores normalmente esperam oferecer na argumentação de seu caso. Alguns participantes estão desafiando o formato, os objetivos e as regras básicas do próprio debate, em alguns casos se recusando a manter o tópico em questão.

Mais uma vez, a teoria principal é que todas as conversas devem começar abordando a raça. Como escreve um debatedor negro, Elijah J. Smith, o debate deve, antes de mais nada, “reconhecer a realidade dos oprimidos”. Ele resiste a tentativa, por parte de debatedores brancos, de “afastar a conversa da realidade material que os debatedores negros são forçados a lidar todos os dias”. 

Tudo deveria virar “estudos de negros”. Antes do debate propriamente dito, deveria haver um pré-debate sobre os aspectos raciais. Em vez de focar apenas na lógica dos argumentos e nos fatos, seria preciso considerar as “emoções” dos debatedores, sua experiência de vida, como opressores (brancos) ou oprimidos (negros). Paulo Freire ficaria orgulhoso.

Aliás, os esquerdistas que reagem aos ataques que nosso “patrono da educação” vem sofrendo, por ter sido um comunista embusteiro que levou o marxismo para dentro da sala de aula e que ficava elogiando ditadores e guerrilheiros assassinos, costumam lembrar que Freire é reconhecido “até nos Estados Unidos”. Pois é: quem disse que não exportamos lixo? Eis aí um dos efeitos dessa influência…

Os protocolos normais das salas de aula estão em xeque. Um paper produzido na Universidade do Arizona afirma que o debate deve ser “um lugar acessível” e que as trocas devem ser baseadas nos sentimentos, percepções e emoções de cada um. Para o inferno com essa coisa ultrapassada de busca da verdade! É o subjetivismo epistemológico levado ao extremo: cada um tem a “sua” verdade, e o que ele sente é o que importa. Claro que, na prática, só importa mesmo o sentimento das “minorias oprimidas”.

Para Salermo, esse crescente santuário acadêmico para a inclusão das “minorias” repousa sobre um par de pilares duvidosos. Tal como acontece com o ataque à “civilização branca”, assume que os estudantes de cor desejam falar apenas de cor. Mesmo que isso seja verdade para alguns, não é uma propensão que os educadores devem incentivar. O conhecimento é objetivo e universal. Uma ponte construída por um branco ou por um negro deve se sustentar, ponto.

Pior ainda, um cínico pode concluir que o objetivo não declarado é tornar possível aos alunos negros ter sucesso acadêmico, falando apenas de cor, permitindo que a raça ocupe todas as áreas de pesquisa nas quais a raça é irrelevante. Tais práticas desnaturalizam a experiência da faculdade e mostram um nível de condescendência de tirar o fôlego, conclui o autor.

Civilidade é civilidade. Debate é debate. Educação é educação. Tais conceitos independem de raça. E quem tenta transformar tudo em raça, pois só consegue enxergar isso na frente, além de ser racista está prejudicando justamente as minorias que pretende, no discurso, defender. É como os que acusam negros em guetos da periferia de “agir como branco” quando querem avançar, estudar, ouvir música clássica, falar a língua de forma correta.

É como se os negros não devessem buscar esse comportamento. É como se a civilidade, a educação e o conhecimento fossem monopólios dos brancos. Quem alega algo desse tipo pode até ganhar a ascensão de sua carreira acadêmica na área de humanas, mas será à custa dos próprios negros. Com “amigos” assim, as minorias não precisam de inimigos…

Rodrigo Constantino

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