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Como descobrir o liberal que existem em você?
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Por Laírcia Vieira Lemos, publicado pelo Instituto Liberal

Posso listar rapidamente inúmeras pessoas que criticam o liberalismo, mas nunca leram um autor liberal. A maioria não entende direito o que realmente defende, apesar de o fazer com unhas e dentes. A prova disso é a falta de coerência no discurso. Uma das incoerências mais drásticas é o fato de pessoas que defendem ideias marxistas criticarem a lógica da meritocracia.

O absurdo consiste no fato de que o conceito de meritocracia condiz com a teoria marxista do valor-trabalho. Para Marx, o valor de um produto é a quantidade final de trabalho investido nele. Por essa razão, o lucro dos empresários resultaria (nesse entendimento) na mais-valia, que seria o valor indevidamente auferido pelos patrões que pertenceria aos trabalhadores por estes terem investido força laboral no produto. Ou seja, quanto mais esforço ou força laboral empregada, maior os valores dos bens, conforme entendimento de Marx. Assim, a lógica esforço-resultado da meritocracia coaduna com a teoria marxista e não com as ideais defendidas por liberais.

Em verdade, liberais entendem que o resultado não depende exatamente do esforço. Böhm-Bawerk, mestre de Ludwig von Mises, contestou tal teoria em sua obra intitulada “A teoria da exploração do socialismo-comunismo” e explanou que os bens podem ser valorados de acordo com a sua utilidade, raridade, tempo de produção, dentre outros fatores, e não de acordo com a quantidade de esforço empregado para produzir o mesmo.

Claro que, se você investir maior quantidade de esforço em algo que já se sabe render resultados, pode obter resultados melhores. Mas o esforço isolado ou mal administrado nunca será premiado. O trabalhador que sai de casa cinco horas da manhã e volta na hora de pôr os filhos para dormir não obterá bons resultados simplesmente porque se esforça muito, pois ele pode estar investindo incorretamente seus esforços. Ele talvez não saiba exatamente onde investir esforços para aumentar sua renda e enquanto ele não souber ou não entender isso (e investigar onde poderá melhor investir seus esforços) irá sempre se manter no ciclo vicioso em que se encontra: se esgotar e não mudar sua situação.

É por essa razão que eu defendo TANTO das ideias de liberdade. Porque É PRECISO que um número crescente de pessoas saibam disso. Porque eu sei que mesmo as pessoas que mencionei poder rapidamente listar no início deste texto, pessoas com acesso à educação universitária, à internet, à livros, não sabem disso. Porque sei que estes leram a coletânea de textos de Marx e Weber indicada pelo professor de Sociologia na faculdade, assim como eu, mas não tiveram a sorte de receberem a indicação de leitura liberal, como eu.

As pessoas precisam de instrução que as faça superar a defesa da manutenção de privilégios estatais. Estes são concedidos a quem está dentro da máquina pública e aos seus compadres. E eu tenho certeza, apesar de saber o quão prepotente isso pode soar, que não houve leitura de autores liberais por parte dessas pessoas. Então, eu vos convido a ler um livro que demorei mais do que deveria para ler: A Lei, de Bastiat. Independentemente de sua área de atuação profissional, você deverá ler este livro, que parece ser direcionado somente aos juristas em razão de seu título (o que é uma inverdade), para compreender as ideias que talvez rebata cegamente.

O primeiro livro que li de algum autor liberal foi O Caminho da Servidão, de Hayek. Eu não sabia que era liberal antes desse livro. Achei sim que o problema era má gestão de verbas públicas e que as soluções encontravam-se nas políticas estatais. Hoje, eu sei que o conhecimento é disperso, como Hayek ensinou a mim, não sendo possível que o Estado detenha o melhor conhecimento acerca das soluções dos problemas sociais. Sei também que política pública estatal é uma solução rasa e superficial principalmente em razão disso, que me leva a concluir que a sociedade estabeleceria melhores políticas públicas.

Nunca o Estado se mostrou mais eficiente do que a iniciativa privada em obter melhores soluções, em verdade, ele tem atrapalhado muito. O problema encontra-se nos incentivos. Não se pode esperar que o agente estatal seja sempre dotado de boa-fé e conceder a ele o privilégio de determinar se deve ou não embargar obras, fechar estabelecimentos, aplicar uma multa e afins. É aqui que surge o incentivo à corrupção. O Estado é corrupto em sua essência. E ele sempre tenderá a crescer, pois usará do poder que já tem para legitimar, através da lei, atos que favoreçam ao seu crescimento.

Finalizo apenas reforçando o pedido para que leiam este livro de Bastiat para a melhor compreensão do que expliquei anteriormente, o qual ele denomina de perversão da lei. O livro, que tem pouco mais de sessenta páginas, pode ser lido rapidamente. Eu garanto que você irá se encantar com iluminação das ideias e o esclarecimento de diversos temas que você mesmo já defende, como o combate ao capitalismo de compadres. Vocês irão, assim como eu, se descobrir liberais.

Sobre autora: Laírcia Vieira Lemos é Advogada, Pós-graduanda em Direito Processual Civil pela Universidade de Fortaleza, Graduada em Direito pela Universidade de Fortaleza, Coordenadora do Grupo de Estudos Clube Atlas, articulista.

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