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Por acaso o tema da minha aula do curso “Bases da Economia” nesta terça foi sobre o mercado de trabalho e o desemprego. Expliquei o funcionamento do mercado de trabalho, o salário, as implicações do intervencionismo e como salvar empregos ineficientes prejudica os próprios trabalhadores e a sociedade como um todo. Não poderia ser um tema mais atual, já que o governo acaba de anunciar que vai, uma vez mais, usar bancos públicos para ajudar a indústria em crise:

O anúncio da presidente da Caixa Econômica Federal, Miriam Belchior, nesta terça-feira, de que reduzirá os juros de linhas de crédito para o setor automotivo como forma de estimular o emprego no setor, mostra que o governo persiste nos mesmos erros. Ainda que a orientação da política econômica tenha dado uma guinada necessária em direção à ortodoxia, a medida sugere que há restos apodrecidos da ‘nova matriz econômica’ que ainda não foram completamente extirpados. Miriam Belchior atribuiu a Dilma a autoria do projeto que prevê o uso da Caixa e do Banco do Brasil para replicar a mesma política de redução de juros a outros setores, como o de celulose, o da construção civil e o de eletroeletrônicos. Com apenas uma tacada, o governo comete equívoco duplo: se compromete a dar estímulos num momento de escassez de recursos públicos – e sem que o ajuste fiscal prometido desde o começo do ano tenha sido concluído – e volta a selecionar setores específicos como alvo das benesses, criando bolsões artificiais protegidos contra a crise.

A medida se assemelha à que foi anunciada em 2012, quando o governo forçou a redução dos juros bancários ao consumidor por meio da Caixa e do Banco do Brasil, com o objetivo de atingir, indiretamente, as taxas praticadas também pelos bancos privados. À época, a Selic estava em 9% ao ano e a presidente não se acanhava em dizer publicamente para onde queria que caminhassem os juros básicos – movimento periogoso tendo em vista que as decisões do BC são, em teoria, técnicas, não políticas. Neste período, rompeu-se, entre outras coisas, a confiança do mercado na independência do Banco Central – confiança que não se recompôs mesmo com a sequência de aumentos na taxa de juros que já se estende por mais de um ano, na tentativa de conter o avanço da inflação.

O setor automotivo talvez seja um dos que mais contam com a “proteção” do governo. No entanto, eis o resultado: crise atrás de crise. Não seria o caso de deixar o setor funcionar mais livremente? Até quando o argumento da “indústria infante” será usado para impedir a livre concorrência que beneficiaria todos os consumidores?

O exemplo citado na aula foi comparar Detroit com o Vale do Silício. Detroit era o centro automotivo americano, e foi governada pelos Democratas de esquerda por décadas. Faliu. Parece uma cidade fantasma. Por quê? Porque não tentou se adaptar à realidade econômica, preferindo a “proteção” estatal aos novos concorrentes asiáticos. Já o Vale do Silício tem dinamismo impressionante, flexibilidade trabalhista, “destruição criadora” típica do capitalismo. Quem será que está pior?

Eis o que o governo Dilma está fazendo: usando recursos públicos escassos, em tempo de “ajuste fiscal” necessário, para subsidiar setores ineficientes. É análogo ao perdedor que pega cada vez mais crédito na esperança tola de que a sorte, finalmente, irá virar, e continua apostando no cavalo errado. No mercado financeiro, aprendemos a importância vital do conceito do “stop loss”, ou seja, parar de cavar mais fundo quando estiver num buraco.

O que o governo vai conseguir, com tais medidas, é piorar as contas públicas, o balanço dos bancos estatais, e dar sobrevida a empregos que deveriam partir para outras atividades, adaptar-se, já que não é mais realista esperar o velho patamar de produção de automóveis. A crise é como a ressaca após a bebedeira, àquela farra irresponsável. Postergar o sofrimento com mais bebida é pedir por uma ressaca maior à frente, quiçá uma cirrose fatal.

E tal erro primário cometido durante a gestão de Joaquim Levy, o “neoliberal” com Ph.D. em Chicago! Reinaldo Azevedo já resumiu bem: temos um pouco de “manteguismo” na gestão de Levy, um ato desesperado de um governo sem credibilidade. Levy não para de decepcionar os “neoliberais”, ao se mostrar cada vez mais intervencionista, além de obcecado com mais arrecadação tributária, num país cuja carga já chega a quase 40% do PIB!

Os bancos públicos estão em situação preocupante e ajudaram a fomentar a bolha que agora estourou justamente porque foram politizados. A indústria, especialmente a automotiva, está em frangalhos porque o governo não fez o dever de casa nas reformas estruturais para reduzir o Custo Brasil e preferiu criar vários privilégios via protecionismo. Dilma prova que nada aprendeu com seus erros passados. Levy prova que tudo esqueceu de suas aulas em Chicago, casa de Milton Friedman. É uma combinação explosiva!

Rodrigo Constantino

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