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Gravidez precoce: um gigantesco problema social fruto da cultura da permissividade
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Estudos estatísticos comprovam: a gravidez precoce produz enormes problemas sociais, aumenta as chances de miséria e criminalidade dos filhos, impede o avanço da escolarização dessas jovens mães, condenando-as e a seus filhos a uma vida desgraçada. E como está o Brasil nisso?

Adolescentes deram à luz 431 mil bebês em 2016, o equivalente a 21% dos nascimentos no ano no Brasil. A gravidez precoce é hoje no Brasil a maior causa da evasão escolar entre garotas de 10 a 17 anos. Precisamos falar mais desse assunto. É o que faz o jornalista Carlos Alberto Di Franco em sua coluna de hoje, tocando na ferida do problema:

A culpa não é só do entretenimento permissivo ou da TV, que, frequentemente, apresenta bons programas. É de todos nós — governantes, formadores de opinião e pais de família—, que, num exercício de anticidadania, aceitamos que o país seja definido mundo afora como o paraíso do sexo fácil, barato, descartável. É triste, para não dizer trágico, ver o Brasil ser citado como um oásis excitante para os turistas que querem satisfazer suas taras e fantasias sexuais com crianças e adolescentes.

O governo, assustado com o crescimento da gravidez precoce e com o crescente descaso dos usuários da camisinha, investe pesadamente nas campanhas em defesa do preservativo. A estratégia não funciona. E não funcionará. Afinal, milhões de reais já foram gastos num inglório combate aos efeitos. A raiz do problema, independentemente da irritação que eu possa despertar em certas falanges politicamente corretas, está na onda de baixaria e vulgaridade que tomou conta do ambiente nacional. Hoje, diariamente, na televisão, nos outdoors, nas mensagens publicitárias, o sexo foi guindado à condição de produto de primeira necessidade.

Se quisermos um entretenimento de qualidade, precisamos separar o exercício da liberdade de expressão da prática do entretenimento mundo cão. Há uma liberdade de mercado que produz um mercado da liberdade. De resto, mesmo que exista uma demanda de vulgaridade e perversão, deve-se aceder a ela?

Muitos colegas liberais ou libertários não se dão conta de que nem toda demanda é louvável. Claro que o livre mercado é fundamental para o progresso de uma sociedade, mas o mercado é amoral, não faz julgamento de valor. Quem deve fazer isso são os cidadãos. E por isso a importância, em minha opinião, do casamento intelectual entre liberalismo e conservadorismo: os conservadores são aqueles que focam mais nesses aspectos culturais, e por isso acabam acusados com frequência de “moralistas”.

Mas não é moralismo barato se preocupar com o nosso entorno, com os valores morais disseminados pela sociedade, pois isso tem impacto direto sobre nossas vidas. O argumento da empatia deveria bastar: liberais individualistas não precisam ser sociopatas, e podem muito bem se importar com o destino de estranhos à sua volta, com a vida do próximo. Mas se esse apelo cristão não for suficiente, então que sirva o próprio “egoísmo racional” mesmo: uma sociedade destroçada é muito pior para o próprio indivíduo que vive nela.

Acredito muito na interação entre cultura e instituição, entre valores morais e mecanismo de incentivos. Acho que um não se sustenta sem o outro. A liberdade do mercado não sobrevive num vácuo de valores. Se todas as instituições americanas fossem adotadas no Brasil hoje, não seríamos como a América, pois a cultura ficaria faltando. Precisamos mudar nossa cultura também, não só nossas instituições.

Se considerarmos como equivalente moral atender a demanda de quem quer consumir alta cultura e a de quem quer consumir pornografia, por exemplo, tratando ambos como “empreendedores de sucesso” sem qualquer juízo de valor, estaremos contribuindo para a decadência cultural de nossa sociedade.

Até onde deve ir o apreço, ou pior, o endeusamento do livre mercado? Di Franco coloca uma questão para nossa reflexão: “Suponhamos que exista um público interessado em abuso sexual de crianças, assassinatos ao vivo, violência desse tipo. Nem por isso a TV deveria ter programas especializados em pedofilia e assassinatos. O mercado não é um juiz inapelável. Não se deve atuar à margem dele, mas não se pode sobrevalorizá-lo”.

Quando algo assim é defendido, não precisamos, como liberais, reagir instintivamente contra alguma censura ou intervenção estatal, pois não é disso que se trata. Estamos falando apenas de uma responsabilidade moral que deveria ser cobrada de qualquer cidadão, mais ainda de quem tem o poder de influenciar milhões de cabeças, como no caso dos grandes grupos de comunicação. Di Franco parece dar um recado direto a essa turma:

A iniciação sexual precoce, o abuso sexual e a prostituição infantil são, de fato, o resultado da cultura da promiscuidade que está aí. Sem nenhum moralismo, creio que chegou a hora de dar nome aos bois, de repensar o setor de entretenimento, e de investir em programação de qualidade.

Ninguém quer criar um Conselho da Moral e dos Bons Costumes que vai avaliar cada programa. Isso seria absurdo e extremamente perigoso. Mas não podemos cair no extremo oposto, que seria ignorar totalmente qualquer aspecto moral do livre mercado. Sim, a empresa é livre para produzir um programa como “Amor & Sexo”. Sim, cada um é livre para assistir ou não a tal programa. E sim: também somos livres, como cidadãos, para exercer esse papel de condenar publicamente essa mensagem hedonista, imoral e irresponsável.

É nesse campo dos valores que penso que mais liberais deveriam entrar também, sem medo de serem “acusados” de conservadores. A alternativa é negligenciar um grave e crescente problema social, só por receio de ser rotulado pela patrulha. Confundir liberalismo com libertinagem tem sido o “pecado capital” de muito “liberal” moderno. O relativismo moral só interessa aos que defendem a imoralidade.

Como prova de que a cultura importa e tem total ligação com esse problema da gravidez precoce, basta ver a proporção bem maior de meninas latinas que passam por isso, em relação às americanas. Nos Estados Unidos, as hispânicas têm sete vezes mais chance de ter um filho entre 10 e 14 anos do que as brancas (1,4 por cada mil contra 0,2 por cada mil), segundo um estudo do Centers for Disease Control.

Ann Coulter falou disso em seu influente livro Adios, America!, em que alerta para a “latinização” do país e as consequências práticas dessa mudança cultural. Ela cita o caso de Gloria Trevi, a popstar conhecida como a “Madonna mexicana”, que alegou ser aceitável em seu país de origem o sexo com crianças (acima de 12 anos). De fato, em 31 de 32 estados mexicanos a idade de consentimento para sexo é 12 anos, e na Cidade do México é 14.

Essa cultura da permissividade, que confunde liberdade com libertinagem, que acha legal ser vista como a “sociedade do sexo fácil”, que incentiva a sexualidade cada vez mais precoce e que condena como “moralismo” qualquer tentativa de se impor limites aos jovens, é a grande responsável por essa situação calamitosa, que condena milhões a um futuro sombrio. Não se importar com isso não é ser liberal individualista; é ser um monstro moral!

Rodrigo Constantino

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