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A greve dos caminhoneiros e os liberais de ocasião
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Por João Luiz Mauad, publicado pelo Instituto Liberal

Margaret Thatcher foi uma das líderes mais influentes do século XX. Ela foi primeira-ministra da Grã-Bretanha por onze anos e provavelmente a líder mais importante do movimento conservador dos anos 70 e 80. Entre suas muitas realizações, a maior talvez seja a transformação do mercado de trabalho britânico e do movimento sindical. Quando Thatcher se tornou Primeira Ministra, em 1979, os sindicatos trabalhistas britânicos eram muito poderosos e o mercado de trabalho rígido, inflexível e, em muitos aspectos, pouco competitivo. No momento em que Thatcher deixou o cargo, em 1990, o movimento sindical havia se enfraquecido substancialmente. A economia britânica de hoje é mais dinâmica e vibrante, em boa parte devido às reformas do governo de Thatcher.

Mas as reformas não vieram com facilidade. A greve dos mineiros de carvão de 1984-1985 foi longa, amarga e violenta. A recessão global no início dos anos 80 atingiu especialmente a Grã-Bretanha. A taxa de desemprego britânica permaneceu acima de 10% durante seis anos, de 1982 a 1987, e atingiu 11,8% em 1984. Nada disso, no entanto, demoveu a vontade férrea de M. Thatcher de reduzir o poder daninho dos sindicatos. Não por acaso, ela foi apelidada de Dama de Ferro por seus admiradores e transformada num dos ícones do movimento conservador mundo afora.

Por que me lembrei da Dama de Ferro? Porque aqui, em Pindorama, um grupo de pelegos de diversos sindicatos de caminhoneiros colocou recentemente a sociedade de joelhos com uma paralisação nitidamente política, obrigou um governo fraco a ceder à sua chantagem e uma parte da dita direita tupiniquim – a mesma direita que diz admirar Margareth Thatcher – aplaudiu de pé a “grande vitória” dos caminhoneiros. É bizarro, para dizer o mínimo.

Essa mesma direita é capaz de levantar com bravura as bandeiras liberais do livre mercado, dos preços livres e da não intervenção governamental quando é para confrontar a esquerda, mas, no momento em que o calo aperta, que o bolso começa a doer, sai logo pedindo a interferência do estado-babá para “por ordem na casa”.  São os famosos liberais (e conservadores) de ocasião. Tão demagogos quanto a esquerda.

Muitos sequer sabem direito o que está acontecendo. Estão ainda no tempo em que a Petrobras detinha o monopólio da venda de combustíveis, sem se dar conta de que, atualmente, graças a Deus, ela sofre ferrenha concorrência dos importados, responsáveis já por algo em torno de 25 a 30% do mercado.

Esquecem que em qualquer país civilizado hoje os preços dos combustíveis varia de acordo com as cotações do mercado internacional do petróleo – um mercado onde, em menos de um ano, os preços médios saltaram de $40 para $70 por barril. Se antes eles criticavam, com razão, o populismo petista com o preço da gasolina, que levou a Petrobras quase à bancarrota e transformou-a na empresa mais endividada do mundo, bastou que o preço do petróleo disparasse lá fora para que esta dita direita corresse para a aba da saia do Estado-babá pedindo intervenção e mudança na política de preços livres.

Ah! Mas seria legal que os caminhoneiros obtivessem a redução da carga tributária incidente sobre os combustíveis.  De fato, seria ótimo, desde que houvesse uma queda líquida da carga tributária total, algo que, nas atuais circunstâncias, não vai rolar. Não se iludam: qualquer desoneração tributária sobre os combustíveis vai gerar contrapartidas de aumento de tributos em outras áreas da economia.  A Câmara aprovou ontem a redução do PIS e da Cofins sobre o diesel, mas no mesmo momento aprovou também a “reoneração” da folha de pagamentos de diversos setores.  Agora, adivinhem quem vai sair ganhando no final das contas, o contribuinte ou o governo? Precisa ser muito alienado ou crédulo para achar que será o pagador de impostos…

O mais engraçado, entretanto, é que a maioria desses que querem que o governo intervenha para segurar os preços, se diz favorável à privatização da Petrobras e a abertura ampla do mercado de exploração e refino, sem se dar conta da enorme dissonância cognitiva que esse pensamento mágico representa.

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