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Inflação pode continuar alta mesmo com recessão se acentuando
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Talvez a falácia econômica mais repetida seja a de que a inflação depende do aquecimento da atividade econômica. Por um lado é até intuitivo: se há forte atividade, a demanda deve estar em alta, e isso pressiona os preços para cima. Logo, é até desejável, para alguns, ter “um pouco mais de inflação” para gerar “um pouco mais de crescimento”. Essa é, porém, uma falsa dicotomia.

Muito já se falou sobre o trade-off entre inflação e desemprego: mais inflação implica menos desemprego, e vice-versa. A curva de Phillips, que mostra essa relação, é famosa nos meios econômicos. Seu criador, Alban Phillips, derivou-a de um um estudo empírico realizado em 1958, cujos resultados foram usados por economistas keynesianos, rápidos em defender o controle do nível de emprego por meio de políticas governamentais.

Na verdade, Phillips tratou da relação entre aumento de salários e desemprego, mas as conclusões foram extrapoladas para a inflação e o desemprego. Ainda hoje, muitos economistas acreditam nesta suposta dicotomia, aceitando o aumento da inflação como forma de promover o aumento do nível de emprego e, consequentemente, de crescimento da economia. Ou então alegando que a inflação vai ceder porque a atividade está fraca. Foi justamente o que concluiu Luiz Carlos Mendonça de Barros em sua coluna de hoje na Folha.

O leitor da Folha pode perguntar por que acredito que a inflação vai começar a ceder nos próximos meses e contrariar as pesquisas de opinião que mostram uma expectativa majoritária de que ela vai continuar a se elevar. Por uma razão simples, respondo eu: porque acredito na teoria econômica em momentos como o que estamos vivendo.

Foi o excesso de consumo no primeiro mandato da presidenta Dilma, estimulado pela expansão do crédito e pela segurança do emprego, que iniciou a escalada da inflação. Vivemos agora, em toda a sua plenitude, um processo oposto e que vai levar à sua queda. Medo do desemprego, renda em queda e restrições fortíssimas ao endividamento do consumidor são uma combinação perfeita para a redução da demanda privada na economia.

Somada a esse efeito temos também a redução dos investimentos e dos gastos do governo. Não há inflação que resista a esse cenário e por isso vai começar a ceder em poucos meses.

Não mesmo? Inflação, não custa lembrar, é sempre um fenômeno monetário. Durante a República de Weimar na Alemanha, a atividade despencou e a hiperinflação continuou. Na década de 1970 nos Estados Unidos houve acentuada inflação mesmo com atividade bem fraca. No Brasil somos campeões em refutar a curva de Phillips. A lição já deveria ter sido aprendida, se ao menos o economista keynesiano não tivesse preconceito contra a Escola Austríaca, o que o leva a aplaudir justamente um dos grandes responsáveis por essa inflação: o BNDES.

A Escola Austríaca de economia, da qual fizeram parte Ludwig von Mises e Friedich Hayek, rejeitou as implicações da curva de Phillips, demonstrando que o desemprego é fruto de restrições criadas pelo próprio governo, que não permitem o livre funcionamento do mercado de trabalho. Murray Rothbard, seguidor de Mises, chegou a afirmar que a relação proposta pela curva Phillips era inversa, na verdade.

Os economistas keynesianos, no entanto, não se deram por vencidos: adaptaram a curva e criaram o conceito de NAIRU (non-acelerating inflation rate of unemployment), dando a entender que a partir de um certo nível de desemprego é que a inflação seria detonada. Tamanha é a influência do NAIRU que até mesmo o Fed, banco central americano, o utiliza. Segundo alguns estudos, a taxa de desemprego a partir da qual o nível geral de preços começaria a subir nos EUA seria de 5,5%. A crença nesta teoria, entretanto, tem sido abalada pela observação dos dados americanos, que apontam cada vez menos desemprego sem correspondente aceleração da inflação.

Não são poucos os economistas que condenam as rígidas metas de inflação no Brasil, como se um pouco mais de inflação fosse desejável para reduzirmos o desemprego. Os chamados desenvolvimentistas são os principais proponentes dessa dicotomia, a qual considero falsa, pois podemos crescer de forma acelerada, reduzindo drasticamente o desemprego, sem que a inflação seja um problema. Da mesma forma que podemos ter alta inflação mesmo com atividade em queda, como ocorre hoje, justamente como resultado das políticas desenvolvimentistas.

Afrouxar as metas de inflação não é o caminho e, sim, reduzir os gastos públicos de verdade (não em cima de um orçamento inflado), aprovar reformas estruturais, atacar a burocracia e abrir mais o nosso comércio. Vários países seguiram essa trajetória e colheram os frutos, crescendo aceleradamente, sem inflação. Enquanto isso, outros mantiveram as armadilhas criadas pelo excesso de estado e buscaram um crescimento calcado na maior tolerância com a inflação. O resultado foi infinitamente pior. Em alguns casos, catastrófico até.

Parte da alta inflação no Brasil é resultado do término do congelamento de preços administrados, o que tem efeito temporário. Mas boa parte é fruto da política monetária frouxa e da política fiscal ainda expansionista, sem falar de um Banco Central que perdeu a credibilidade por ficar tempo demais leniente com a inflação. Isso desancorou as expectativas, e agora o BC precisa correr atrás do prejuízo. Muitos já reclamam da alta dos juros, mas ela é o efeito direto das medidas do passado, como um viciado que precisa enfrentar uma penosa abstinência para convencer que está sóbrio e recuperado.

A atividade econômica está sofrendo bastante, não resta dúvida. O desemprego deve subir mais, o PIB vai cair bem. Mas isso, por si só, não garante a vitória sobre a inflação, que pode continuar em patamares bastante altos a despeito disso tudo. A crença contrária de keynesianos como Mendonça de Barros é apenas prova de que alguns economistas nunca aprendem as lições devidas. Mendonça, afinal, estava um tanto otimista antes, durante os equívocos do governo Dilma que ele não considerava erros, mas sim acertos. Vai errar novamente agora, por utilizar instrumentos equivocados, por rejeitar a Escola Austríaca ou mesmo a de Chicago em troca dos dogmas keynesianos.

Rodrigo Constantino

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