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Liberdade de expressão para todos! A não ser que não concorde comigo…
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Por Pedro Henrique Alves, publicado pelo Instituto Liberal

Há pouco tempo escrevi um artigo para a Gazeta do Povo afirmando que nossa democracia não passa de um aparato gourmet, que para muitos grupos, organizações e indivíduos, a democracia não passa de um nome bonitinho para agregar ao seu ego ou discurso. Mas que na prática a democracia real se faz fantasmagórica e invisível, resplandecendo tão somente a ditadura da “minha ideologia”. As minhas impressões expressas naquele artigo ainda continuam, e hoje consigo ver suas extensões em diversas camadas da sociedade, principalmente na área da liberdade de expressão. Como bem afirmava George Orwell: alguns são sempre mais iguais que os outros; e os mais iguais têm direitos que os demais, menos iguais, não possuem.

Vivemos na sociedade mais sensível de todos os tempos, isso ninguém nega; uma brincadeira mais ríspida em sua rua facilmente pode se tornar um processo judicial e condenação a pagamento de fortunas. Mas isso não se dá somente em brincadeiras de rua, se dá também com opiniões políticas. Eis um paradoxo interessante: a era em que a democracia é mais louvada e adorada é também aquela que criou sistemas legais de perseguição de certas camadas sociais divergentes da agenda central dos poderosos e ditadores culturais. Na verdade, tudo começa a dar errado quando a democracia é monopolizada por grupos determinados que ditam aquilo que é ou deixa de ser democrático.

Poderia citar muitos exemplos sobre o que estou dizendo de maneira mais abstrata até o momento, mas citarei apenas três: num tweet do dia 23 de setembro de 2013, Pabllo Vittar, fez uma postagem — tweet já apagado — dizendo: “Segunda-feira: dia nacional das gordas postarem foto[SIC] de alface e começarem uma dieta que nunca vai pra[SIC] frente <3 Isso é Brasil”. Para mim, um post qualquer, se ele é de bom ou mau gosto deixo para que cada um decida per se. Entretanto, até o humorista Danilo Gentili fazer comentários, também com gordos em seu Talk Show no SBT e em sua conta no Twitter, tal comentário de Pabllo Vittar era desconhecido. Entretanto meus amigos, não há nada que não seja descoberto na era digital.

O trato dispensado para ambos os casos é o que revela aquilo que já denominei em outro artigo como: a ditadura dos tolerantes. Não é o conteúdo em si que importa, não foi a “gordofobia” da postagem de Danilo Gentili que inflamou a raiva dos patrulheiros da tolerância, mas sim o fato de ser o Danilo Gentili a fazer tais comentários, uma personalidade que não se adequa à agenda dos “ditadores tolerantes”. Apesar de algumas pessoas terem cobrado uma resposta de Pabllo Vittar sobre sua postagem, é descarado ver a diferença entre a maneira como a postagem de Vittar foi ignorada por grande parte da mídia esquerdista e militantes “humanistas”, e como a “gordofobia” de Gentili foi acolhida como um crime capital pelas mesmas mídias e militantes que ignoraram o cantor.

Outro caso ilustrativo é o de Mauro Iasi, professor da UFRJ. Em um vídeo de 2015, Iasi incita abertamente a morte dos conservadores no II Congresso Nacional da CSP. Poderão alegar, seus defensores, que tais palavras possuem o sentido metafórico e que tal interpretação de que Mauro tenha sido não só intolerante, mas incitador de crimes, seja uma interpretação unilateral dos conservadores. Entretanto, leiam (e assistam) vocês as palavras de Iasi no congresso:

”Ao conservador, estamos dispostos a oferecer um bom paredão, onde vamos colocá-lo na frente de uma boa espingarda, com uma boa bala. E vamos oferecer-lhe depois uma boa pá, uma boa cova. Com a direita e o conservadorismo, nenhum diálogo. Luta.”

Qual interpretação, além daquela expressa abertamente pelo comunista, é possível escutando essas palavras? Pois é, mas esse episódio foi pouco divulgado pela mídia nacional, a não ser pela Veja, O tempo e Huffpostbrasil, e outras mídias alternativas de alcance limitado. Agora quero sugerir um exercício mental a vocês, imaginem se o congresso não fosse da CSP, que o palestrante não fosse militante do PCB (Partido Comunista Brasileiro) e que seu nome não fosse Mauro Iasi, mas sim Jair Bolsonaro; como acham que a mídia nacional trataria o tema? Sejam sinceros consigo mesmos. Como os ditos “tolerantes” e amantes da “liberdade social” agiriam? E para ser ainda mais irônico, Iasi também é pré-candidato à presidência da república. O conteúdo do discurso de Iasi pouco importou — apesar de ter despertado os aplausos calorosos de seus ouvintes no congresso —, o que importou naquele momento é que ele é comunista e da turminha “do bem”; ele é militante de causas análogas àquelas defendidas pelos ditadores tolerantes, e isso basta para inocentá-lo. Ser da turminha do bem lhe garante o indulto para ser intolerante em nome da tolerância, ser criminoso em nome do humanismo, ser déspota em nome da democracia. Se você está do lado “certo” da força, tudo é permitido e convém.

Bill Clinton, ex-presidente americano e marido da ex-candidata à presidência Hillary Clinton, ambos do partido democrata, foi um dos entusiastas do famoso muro que divide Estados Unidos e México. A construção começou em 1991 com a presidência do republicano George W. Bush, o pai, entretanto, teve grande aceitação e acolhimento por parte de Bill Clinton, que em 1994 não só continuou o projeto como aumentou a sua abrangência e investimentos. Não bastasse essa realidade politicamente incorreta, já que os democratas são uma espécie de arautos da liberdade e da tolerância, chapa defendida por Hillary em uma autoimagem imaculada e santa, seu marido aumentou as taxas e multas para imigrantes ilegais na época de sua presidência. Entretanto, o presidente Donald Trump, quando ainda candidato, ao defender tal muro fronteiriço ganhou a chancela de fascista, novo Hitler, xenófobo, racista, etc. A mídia mundial usou dessa plataforma para tentar escrachar a todo custo o republicano; usou dessa ideia como uma base para sustentar a argumentação de que Trump era, na verdade, o novo mal mundial, uma espécie de cavaleiro negro do apocalipse.

Não era o muro o problema, era a pessoa Donald Trump, um indivíduo que não seguiria as cartilhas políticas globalistas e nem se adequaria às conduções socialistas das demandas internacionais. Ainda que Hillary defenda o assassinato de bebês no útero materno, ainda sim ela é erigida como ícone dos direitos humanos, uma virtuosa mulher humanista. E ainda que Trump tenha diminuído a taxa de desemprego para o menor mostrador em décadas, ele ainda é visto como algoz econômico e político dos EUA. Não importa a realidade, o que importa é se você concorda ou não com os ditadores culturais.

Isso tudo evidencia como a tolerância da esquerda não passa de uma hipocrisia, não se quer tolerância, se quer apenas um motivo para queimar reputações; eles pouco se importam com a tolerância ou direitos humanos, se importam somente com suas agendas e fins políticos. Ao mesmo tempo que choram a intolerância sofrida por transsexuais, exaltam Cheguevara que mutilava homossexuais. Com as mesmas caras de choro que soltam pombas em Copacabana para a paz mundial, exaltam Fidel Castro que matou milhares de cubanos a sangue frio; assim como justamente se lembram e rechaçam a chacina nazista, confortavelmente se esquecem do morticínio comunista na URSS, Camboja, China, Romênia, etc.

Estamos numa sociedade onde a democracia e a liberdade de expressão — como consequência da própria democracia — não passam de uma desculpa utilizada por grupos a fim justificarem suas opiniões. Em suma, aqueles que concordam com a agenda podem se expressar, aqueles que se opõe aos seus dogmas devem se calar. No futuro talvez tenhamos a comissão dos tolerantes, aqueles que decidirão se somos dignos ou não de usufruir da liberdade de expressão, até que ponto é permitido opinar e se estamos ou não inclusos no grupo dos iguais, aqueles que merecem tolerância.

O que fica claro em meio a esse embrame tosco de histerias e militâncias abobalhadas, onde as comissões de direitos humanos choram por bandidos que são mortos e se calam quando policiais são assassinados. Em meio a tudo isso conseguimos vislumbrar, de maneira inconteste, que a dita “tolerância” não passa de uma arma de imposições políticas. Numa real democracia, gregos e troianos, cristãos e muçulmanos, homossexuais e héteros, teriam os mesmos tratamentos, não importando as ideias políticas que arroguem ou a maneira que usam suas genitálias. Por enquanto nós temos uma piada, um jargão amorfo e tolo que usamos para massagear nossos egos e enganar a nós mesmos dizendo que somos arautos da liberdade. Não somos democráticos e nem passamos perto disso; as ideologias — construtos utópicos distorcidos da realidade — reinam e fazem do campo cultural uma ditadura fantasiada de liberdade.

Eu não sou livre para ser conservador na USP no curso de ciências sociais, não sou livre para defender o livre mercado na UFPE no curso de filosofia, nunca me chamarão para ser comentarista da Globo News — não que eu queira também — e muito menos para falar sobre moral social no programa da Fátima Bernardes.  A ideologia é um abcesso, um câncer que não permite que as pessoas formulem suas ideias ou livremente se adequem aos grupos que elas acharem dignos de confiança. Somos indivíduos guiados como vacas, muitos sequer sabem no que acreditam, apenas repetem jargões para se sentirem aceitos, receberem afagos e serem inclusos no grupinho dos lacradores.

É do time dos tolerantes, então é humanista; não se ajusta às nossas agendas, então é fascista. E assim continuamos a nadar num aquário achando que estamos no mar. E as perguntas centrais se fazem necessárias: liberdade de expressão? Para quem?

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