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#LoveWins: a esquerda brasileira se encanta com o Tio Sam
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Vivemos na era das redes sociais, logo, na era dos modismos, dos “memes” que, feito pragas, invadem nossa página no Facebook. Ontem foi assim: começou a pipocar por todo lado fotos com um arco-íris na frente. Quem sou eu para estragar esse momento de empolgação das pessoas com as leis americanas? Apesar, claro, de que Nelson Rodrigues talvez apontasse para certo complexo vira-lata, uma vez que o Brasil já possui legalização para casamento gay, e que, pelo visto, damos mais relevância para o que se passa nos Estados Unidos do que aqui. Eu, por exemplo, preferia ver todos colocando essa foto em seus perfis, em homenagem aos avanços da Operação Lava-Jato:

Lula arcoiris

Não vou entrar na questão em si da decisão da Suprema Corte. Basta dizer que tenho algum receio do precedente aberto, do crescente fortalecimento do governo central e, como consequência, do enfraquecimento do federalismo. A decisão da Suprema Corte americana pode ter sido positiva nesse caso em particular, mas representa mais uma – e grave – afronta ao federalismo, base de suas liberdades. Quase todos os estados já tinham aprovado o casamento gay. Quando a União passa por cima dos estados e começa a impor tudo do governo central, fortalecendo-o, isso pode ser perigoso. Hoje podemos festejar o que foi aprovado. Mas temo pelo amanhã, pelo processo de redução da descentralização de poder.

Outro aspecto que alguns conservadores têm todo o direito de levantar é onde isso vai parar. Sim, pois o amor foi celebrado nesta sexta (sendo que ninguém precisa de aprovação estatal para amar), mas quem acompanha mais de perto esses movimentos organizados de “minorias” sabe que sua pauta é bem mais abrangente. Não vai se dar por satisfeita nem a pau (sem trocadilho). Por exemplo: o poliamor. Por que, se tudo o que importa é o sentimento, limitar o casamento a duas pessoas apenas? Por que não a poligamia, como no mundo islâmico? Quem terá moral para negar tal “direito” se houver o “argumento” de que é o desejado pelo grupo, que se “ama”? Se seguirmos nessa linha, como ficam questões como a Previdência Social?

Há outras questões ainda mais indigestas, mas vou poupar o leitor. Vou apenas mencionar en passant que há uma ala muito maluca da esquerda relativista e “progressista” que considera abusiva a “perseguição” aos pedófilos, pois, com uma sexualização cada vez mais precoce, eles entendem que é “preconceito” restringir demais o amor com base na idade. Tem até um professor brasileiro que escreve de vez em quando na Folha que defende a pedofilia com base nessa visão (tosca) – e não está preso, mas sim dando aulas e escrevendo na imprensa.

É preciso só saber onde os movimentos que simplesmente odeiam a família tradicional e qualquer conceito de “normalidade” vão parar, se é que vão (o “progresso” que eles almejam levaria a humanidade a viver somente com base em apetites, no desejo do momento, o que nos tornaria muito parecidos com os animais irracionais). Vão quebrar todos os tabus, já que tabu é coisa de reacionário? Até o incesto pode entrar na fila: irmãos que se “amam” de forma diferente, por exemplo, ou filhos com pais, como os cachorros.

O leitor, nesse momento, poderá dizer que perdi o juízo, que sou um paranoico, que nada disso tem a ver com a união entre duas pessoas que se amam. Gostaria muito de crer nisso. Mas andei lendo vários livros e textos sobre essa turma, e não estou inventando nada aqui. Claro que não é a ala majoritária desses movimentos (ainda). Mas as revoluções morais começam aos poucos, com minorias organizadas. E a senha está dada: acusar tudo de preconceito e ir rompendo todas as barreiras existentes aos apetites e desejos. Nada pode ficar entre o desejo e a ação para a geração mimada sem limites.

Mas deixemos a “paranoia” de lado por um tempo e celebremos, sem os modismos do Facebook, a facilidade de duas pessoas do mesmo sexo que realmente se amam se casarem. A esquerda brasileira se descobriu encantada com o Tio Sam. #LoveWins, como usam por aí. Vale notar que essa mesma esquerda, que adora odiar os Estados Unidos, não pode comemorar uma conquista dessas na Venezuela ou em Cuba, que perseguem gays, muito menos na Palestina ou no Irã, que matam gays. É bonito, portanto, ver esses antiamericanos todos morrendo de amores pelos “imperialistas ianques”.

Mas pergunto: não querem aproveitar a onda e copiar, por exemplo, a redução da maioridade penal dos americanos também? Aqui, se moleque delinquente matar com 14 anos não tem conversa: vai em cana e pelo resto da vida em alguns casos. Ou, quem sabe, copiar o rigor das leis para com bandidos corruptos? Não tem moleza: foi pego com a boca na botija vai pro xilindró, não importa a renda ou o poder. Que tal copiar o capitalismo de livre mercado, num país em que o setor estratégico de petróleo, por exemplo, é totalmente privado? Vamos privatizar a Petrobras de uma vez e acabar com o petrolão?

Vamos, enfim, aproveitar essa fase de empolgação e encantamento com o Tio Sam e aprender algumas coisas úteis com os americanos? Com a palavra, a esquerda brasileira…

Rodrigo Constantino

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