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Flávio Rocha, presidente da Riachuelo. Fonte: Estadão Flávio Rocha, presidente da Riachuelo. Fonte: Estadão

Admiro empresários corajosos, e num país como o Brasil, em que o governo detém poder arbitrário em demasia, é muita coragem ir abertamente contra os governantes do momento. Tiro meu chapéu, portanto, para os que ousam fazer isto, rompendo com um silêncio cúmplice que costuma prevalecer na iniciativa privada. Foi o caso de Flávio Rocha, presidente da Riachuelo, a terceira maior varejista do país.

Em entrevista ao Estadão, Rocha diz que o governo está sem projeto e sem proposta, e atribui a crise à política do primeiro mandato de Dilma. Apresenta dois cenários diversos: um é o de uma agonia curta, com o impeachment; o outro é o de agonia lenta, com Dilma “governando” até o fim do mandato. Ou seja, temos que escolher entre um fim horroroso e um horror sem fim.

Enquanto grandes banqueiros e empresários varejistas conspiram para preservar Dilma no poder, com medo de mudanças, Rocha tem a coragem de dizer o óbvio: manter Dilma por mais três anos e meio é impor ao país um custo altíssimo. Os lucros dos bancos podem seguir altos, mas a população pagará um preço muito elevado. É justo?

Além do foco na conjuntura, Flávio Rocha clama por mudanças estruturais também, defendendo uma “cirurgia profunda” no estado brasileiro, inchado e obeso demais. Isso deveria ir muito além do “ajuste fiscal”, especialmente desse “ajuste” de meia-tigela que nem cortar gastos públicos de verdade corta, preferindo aumentar impostos.

Com o PT, encerrou-se um ciclo de ideias ruins, insustentáveis, e o empresário já vê indícios de mudanças. A cabeça do eleitor mudou, e ele deve estar melhor protegido contra novos experimentos populistas agora. O “eleitor súdito”, que vivia com o pires na mão pedindo esmolas estatais, percebeu que esse modelo leva a uma situação ruim. O “eleitor consumidor” está cada vez mais ciente do alto custo estatal em sua vida. O mito de que o estado resolve tudo vai se dissipando.

“O povo não está pedindo mais estado”, afirma o empresário. “Está pedindo menos estado”, acrescenta. Quer mais eficiência nos gastos públicos, menos clientelismo, menos paternalismo. A falsa dicotomia entre rico e pobre, patrão e empregado, tão usada pelos populistas, dá lugar a uma visão que compreende ser o estado excessivo o vilão contra todos. Para Rocha, temos um estado escandinavo no tamanho, e africano na eficiência.

Esse inchaço desmesurado da máquina estatal é o grande inimigo a ser combatido. E o empresário está otimista no longo prazo, por acreditar que há fortes ventos de mudança nessa direção. O ciclo estatizante, socializante, estaria se encerrando, diz ele. Mas claro que a luta não será fácil, pois o estado se tornou um fim em si mesmo, blindado, intocável, com corporativismo para todo lado (vide os professores). A batalha será árdua, mas é possível vencer os defensores do “Antigo Regime” de privilégios.

Em trecho que merece destaque, Flávio Rocha separa os empresários entre aqueles de mercado e aqueles do conluio com o governo. Os primeiros são independentes, pois vivem de seus consumidores, de suas escolhas, enquanto os últimos aderem ao “cronismo”, sempre de olho em alguma mamata, em algum vantagem do governo. A visão de “capitalismo” do PT é a segunda, sempre tentando corromper empresários. Mas esse clubinho do BNDES faz mal ao capitalismo verdadeiro, de livre mercado.

Sinto profundo respeito e admiração por empresários independentes, que criam riquezas e empregos e ainda têm a coragem de, publicamente, defender o livre mercado contra o intervencionismo estatal. São indivíduos assim que fazem a diferença, que mantêm a chama da esperança num futuro melhor acesa, viva. Chega de “cronismo”! Chega de conluios e de simbiose nefasta entre governo e empresários. O Brasil merece dar à liberdade uma chance.

Rodrigo Constantino

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