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Meta flexível de inflação? Desculpa de inflacionista irresponsável
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A meta de inflação perseguida por um Banco Central independente ou, no mínimo, com autonomia operacional foi uma das grandes conquistas econômicas da era moderna. Antes, a inflação era produzida por governos perdulários com a conivência de seus bancos centrais ou similares. O governante sempre achará irresistível a tentação de financiar mais gastos por meio da emissão de crédito ou moeda, e um Banco Central subserviente é o caminho da perdição.

Todos os países desenvolvidos possuem, então, seus bancos centrais independentes com uma meta de inflação bem definida, normalmente em torno de 2% ao ano. O Brasil da era FHC seguiu na mesma trilha, sem completar o serviço: o BC era autônomo, mas não teve independência legal. O risco era grande, pois bastava um governo mais populista para a coisa desandar.

Não deu outra. O PT chegou ao poder, e viu nisso uma oportunidade para inflacionar a economia e colher os louros políticos de curto prazo, esquecendo que o longo prazo inevitavelmente chega. A meta tem alguma flexibilidade para absorver choques temporários, e o centro de nossa meta já era alto, de 4,5%. Com a banda flexível, a inflação anual poderia chegar a 6,5% e ainda assim ficar dentro da meta.

Mas o PT encarou o topo da meta como seu novo centro, e mesmo assim não conseguiu manter essa âncora. Era muito “desenvolvimentista” no comando da economia, e essa turma adora uma inflação maior, pois acha que, com isso, gera mais crescimento econômico. Deu no que deu: inflação de 10% mesmo com recessão de 3%. E agora? Bem, os inflacionistas continuam se agarrando no conceito de meta flexível para não ter que colocar a inflação de volta à meta.

José Paulo Kupfer, jornalista que tende a defender os “desenvolvimentistas”, escreveu em sua coluna hoje no GLOBO um resumo do regime de metas flexíveis apenas para concluir que não há dogma algum que defenda a rigidez da meta. Diz ele:

A “regra” do regime de metas de inflação é a que combina, num sistema híbrido, âncoras condicionadas de controle da inflação e a preservação de espaços para que o Banco Central possa acomodar, sem condicionantes, choques de oferta, novas circunstâncias e imprevistos variados. Nada que se pareça, como alguns querem fazer crer e muitos acreditam ser, com um dogma prescrito em alguma bíblia monolítica e intocável.

Pois é: não se trata de um “dogma”, mas de bom senso. E tais “choques” que justificam uma inflação fora inclusive do topo da meta devem ser bem constantes, já que a inflação não volta para dentro da meta nunca. O “temporário”, para inflacionistas, é um tanto eterno. Basta ver o gráfico do nosso IPCA para constatar isso:

Fonte: Bloomberg Fonte: Bloomberg

Como podemos ver, a inflação da era Dilma não quis saber da meta. Foi embora, desgarrou, rebelde. E não tem nada a ver com choques temporários, como os inflacionistas dão a entender. O fato de que o BC não pretende mais trazê-la de volta à meta nem em 2016 comprova que o governo jogou a toalha, e passou a encarar uma inflação de 10% ao ano como algo normal. Só é normal na cabeça oca dos inflacionistas mesmo…

Rodrigo Constantino

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