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Míriam Leitão x Bolsonaro: é possível concordar com ambos?
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A jornalista Míriam Leitão partiu para o ataque ao deputado Jair Bolsonaro, acusando o pré-candidato de nada entender de economia e de adaptar seu discurso apenas de olho no mercado financeiro, mas frisando que não são quatro aulas com um liberal que vão mudar uma essência nacional-estatista de décadas. Em seu texto, que mereceu destaque na página principal do Globo, ela concluiu:

Esse é o quadro das propostas econômicas dos candidatos que estão na frente na disputa eleitoral. Lula já governou o Brasil e sabe-se que ele tem opiniões mutantes sobre economia e tudo o mais. Neste começo de campanha tenta reconstituir a aliança com suas bases e por isso volta ao velho discurso. Já Bolsonaro tem um entendimento raso sobre o tema. A avaliação de que ele possa defender um pensamento liberal porque teve quatro aulas com um economista com essa crença só pode ser feita por quem tenha uma capacidade de análise igualmente superficial.

Estamos a um ano das eleições num país em que os cenários eleitorais são voláteis e há inúmeros casos de candidatos que pareciam viáveis até que perderam o pleito ou deixaram de estar na disputa. É cedo ainda. O ideal seria que os candidatos e suas equipes não formatassem ideias artificiais para receber elogios do mercado financeiro. É preciso muito mais do que isso para tirar o país da crise e levá-lo a um ciclo de crescimento sustentado.

Míriam Leitão tem um ponto, sem dúvida. A guinada liberal de Bolsonaro é muito recente e ainda instável para ser convincente. Ceticismo é saudável aqui. A postura correta é a de cautela diante das novas declarações do capitão, apesar de ser visível esse seu progresso na área econômica ao longo dos últimos meses – e não é algo apenas de agora.

Bolsonaro rebateu como de praxe: não passou recibo e detonou a jornalista, de forma um tanto deselegante, talvez pensando ser o Trump:

Em que pese a forma condenável de Bolsonaro, é preciso destacar que o conteúdo não errou tanto o alvo. Míriam Leitão acha que entende muito de economia, mas isso não é verdade. Já vi erros grosseiros da jornalista, como quando ela estranhou uma empresa, a Embratel, valer menos em bolsa do que tinha em caixa, ignorando a gigantesca dívida do lado do passivo.

Míriam é a típica tucana intervencionista, que banca a imparcial, mas que defende as principais bandeiras “progressistas”, como cotas raciais, feminismo, intervenção estatal na economia etc. Ainda investe pesado na narrativa de vítima da ditadura, como se seus camaradas comunistas daquela época lutassem, de fato, pela democracia, e não para instalar no Brasil o regime soviético.

Quando Míriam Leitão tinha que criticar o PT, ela sentia a necessidade de criticar, ao mesmo tempo, a “direita hidrófoba”, e sequer com coragem de citar meu nome e o de Reinaldo Azevedo, achou prudente nos atacar na mesma coluna em que tecia críticas aos marginais agressores petistas. É a típica “isentona” de esquerda, um tanto arrogante, que acha que sabe mais do que sabe.

Quando Janet Yelen foi apontada para chairman (ou seria chairwoman?) do Fed, Míriam vibrou, por conta do sexo da escolhida. Na época, questionei de forma meio grosseira, confesso, o que importava aquilo que o indivíduo tinha entre as pernas na hora de presidir um banco central. A jornalista preferiu fazer o que a esquerda sempre faz: bancou a vítima, mas não respondeu a pergunta, que expunha seu feminismo irracional.

Nada disso justifica, claro, a reação de Bolsonaro, ou invalida a crítica feita pela jornalista. Mas eis o ponto: a classe média está cansada da mídia manipuladora, dos covardes incapazes de bater para valer no PT, dos tucanos em cima do muro, do establishment que banca o imparcial, mas sempre pende à esquerda. Bolsonaro atiça essa revolta legítima, mas pode perder votos de pessoas mais moderadas, sem dúvida.

Em suma, pergunto se é possível concordar com ambos aqui? Sim, Bolsonaro ainda escorrega feio quando o assunto é economia, apesar de ao menos estar se esforçando e se aproximando de bons economistas liberais. Mas a conversão “repentina” demanda prudência e ceticismo. Sim, Míriam Leitão claramente não conseguiu fazer o luto de seu passado marxista, e tem uma queda pelo poder, pelo establishment.

Hoje vai chover! O dia em que concordei tanto com Míriam Leitão como com Bolsonaro…

Rodrigo Constantino

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