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A moda de quebrar tabus: quando não há limites para parecer politizado
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Por Sergio Renato de Mello, publicado pelo Instituto Liberal

A era da escuridão e do apego irrestrito e absoluto à divindade, de baixo para cima através da intelligentsiafoi substituída pela da emoção com os iluminados a partir da Revolução Francesa e seus seguidores acham que isso é razão. Muito embora antes desse marco global Benjamin Wiker1 já tenha identificado, assim por ele mesmo dito, por assim dizer “estragos preliminares”, culturalmente, a partir das obras de Maquiavel (O Príncipe, 1513), de Descartes (Discurso sobre o método, 1637), de Hobbes (Leviatã, 1651) e de Rousseau (Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, 1755), é a contar da dita revolução que os maiores estragos na humanidade, culturalmente falando, foram sentidos nela mesma e de uma forma humanitária.

Em nome de uma tal de “liberdade de expressão”, sem dúvida um direito constitucionalmente garantido a todos como liberdades públicas (já que são conquistas em prol dos indivíduos depois de uma tribulação antidemocrática), direitos de falar e de opinar, enfim, de se manifestar, como quer mesmo a rubrica, são exercidos com muito cuidado e com um zeloso labor até mesmo em conservar o que é de mais prático em sociedade: as tradições, a cultura ocidental, a família, a democracia, os bons costumes, os relacionamentos, etc. De fato, mesmo que nossa constituição permita que o indivíduo se manifeste, este direito não é absoluto e encontra uma contrapartida no direito individual alheio e nos anseios nobres já duramente conquistados nessa nossa árdua tragediaria de convivência. Permitir que meia duzia de gatos pingados quebrem essa relação de confiança que se tem, no mínimo, na história, é permitir que essa pequena ninhada destrua ideais comuns a todos e não somente a eles, muito embora, na visão deles mesmos, isso seria um conquista de um sonho universal para todos os povos. Muito embora a democracia seja agora um dos melhores dos regimes, ela ainda não pode ser considerada o melhor quando qualificada em detrimento de minorias sem representatividade num desejo para o humano. É que os seus gestores não se deram conta, ou fazem de conta, da verdadeira natureza de um “estado democrático de coisas” e da necessidade de seu zelo. Exige-se prudência no lugar de um hedonismo que enaltece e embeleza ou endeusa os prazeres da carne como se eles fossem um ser supremo para a felicidade universal ao custo dela mesma. Aristóteles nos deixou como legado o ensino de como se destruir uma república: “(…) o interesse próprio pode fraudar o bem comum; a austeridade da virtude moral pode ser trocada por conforto e prazer. Tais revoluções vêm de pequenos começos, de facções em desacordo com a ordem política2”.

A bem da verdade, tais manifestações não fazem parte do núcleo do que verdadeiramente é um exercício do direito de liberdade de expressão. Isso, de fato e de verdade, é degradação de valores culturais e em nome de uma pauta velada e marxista para quebra de tabus ou paradigmas contrários a interesses modernistas ou progressistas. O problema é que isso, de cima para baixo, ou seja, dos intelectuais engajados em reforma e destruição sem conservação, a chamada intelligentsia, caiu no gosto público e quebrar tabus hoje em dia virou moda como se troca de carro ou de sapato, ou seja, sem reflexão alguma dos reais interesses mesquinhos que estão por trás de tudo isso. Quebrar tabus nos dias de hoje é significado de cultura, e das mais altas, e seus agentes gente cult, porque a intenção que transparece para o homem médio é de se estar fazendo um bem para a humanidade e dá a entender ser reflexo da real natureza do ser humano, como se isso fosse natural e algo aceitável porque faz parte da natureza humana e até mesmo divina. Pregam que exibir corpos nus é maneira de ser politizado e culto ao mesmo tempo e os seus opositores fascistas. Theodore Dalrymple comenta sobre a rejeição de uma crítica que foi feita ao comentário de jornal Observer, dizendo que os opositores a esse estilo de vida e de “arte” podem achar essa tentativa de aproximação ao fascismo não apenas ofensivo, mas uma manifestação de desespero3 Criou-se uma cultura grosseira, principalmente na Europa, e que deságua por aqui, de que o privado tem que ser exposto sem o mínimo pudor para que seja valorado e valorizado. A bem da verdade, os agentes daintelligentsia e os seus executores se aproveitam da debilidade humana de carências espirituais ou emocionais e lançam o seu veneno no povo em benefício de já falada pauta de “valores”.

É um lado da dita “razão” que acaba descambando para o fútil, frívolo, barato, vil, temporário, enfim, apenas prazeroso. Elementos da personalidade humana, como atributos físicos, intelectuais e sentimentos, como afeto, apreço, respeito, pudor e apreciação, entre outros, cedem espaço para uma estética sem significado e para a irracionalidade. “O melhor texto para os conservadores não é realmente um livro; são as lições da natureza e da natureza humana, que são abertas a todos. É por esse motivo que muitas vezes você encontrará mais sabedoria prática – e conservadorismo inato – entre pessoas comuns, imergidas no ritmo das estações, com laços fortes de família e comunidade, do que na intelligentsia citadina que se julga sumamente esperta4”.

É mais do que notório que o legado religioso de virtude não está apenas escondido, tendo ele sido apagado escancaradamente para dar lugar à crença terrena e secular de felicidade por desfrute imoral e desregrado dos prazeres terrenos, sofisticadamente implantado na mente daqueles que assim estão dispostos a, desavisadamente ou não, aceitá-la. E, dentre esses, não são poucos, já que é um suposto bem comum.

Theodore Dalrymple, comentando o seu achado originário para tal estado de coisas “artísticas”, cita o julgamento ocorrido em 1960 pela publicação de um livro obsceno, de autoria de D. H. Lawrence, com o título O amante de Lady Chatterley. A referida batalha judicial foi pela publicação sem censura de tal obra. Muito embora tenha havido muito esmero pelo promotor de justiça, que bradou em defesa da não publicação, argumentando que o que não seria bom para alguns indivíduos poderia ser prejudicial e maléfica para a sociedade como um todo, o caso se resolveu em favor da obra e sem censura.5 Por aqui, os Lawrences brasileiros, entre outros, é o funk no Rio de Janeiro, são as novelas da Rede Globo, a bancada modernista no Congresso Nacional, e todos os que estão de uma forma ou de outra engajados.

Recordando a mais ainda hoje viva mensagem deixada por Aristóteles em A política, de que “o homem é por natureza um animal político”, é de de acrescentar, em conclusão, que “Assim como o homem é o melhor dos animais quando aperfeiçoado, separado do direito e da justiça… ele é o pior de todos. Porque a injustiça é mais severa quando é aparelhada com armas; e o homem nasce naturalmente possuindo armas para (o uso de) prudência e virtude que, no entanto, são muito suscetíveis a ser usadas por seus opostos. Esta é a razão pela qual, sem virtude, ele é o menos sagrado e mais selvagem (dos animais) e o pior em relação a sexo e ao alimento.

Sobre o autor: Sergio Renato de Mello, defensor público do Estado de Santa Catarina.



110 livros que todo conservador deve ler – mais quatro imperdíveis e um impostor, trad. por Marizza Cortazzio, 1ª ed. São Paulo: VIDE Editorial, 2016.

2Benjamin Wiker, ob. cit. p. 32.

3Theodore Dalrymple, Nossa cultura… ou o que restou dela: 26 ensaios sobre a degradação dos valores, trad. por Maurício G. Righi, 1ª ed. São Paulo: É realizações, 2015, p. 81.

4Texto de orelha de Benjamin Wiker e de sua obra citada.

5Ob. cit. p. 86.

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