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Na diplomacia, na economia e na cultura o inimigo é o mesmo: o populismo de esquerda
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Considero o pior dia de colunas no GLOBO domingo, com Cacá Diegues, Verissimo e Dorrit Harazim enchendo o espaço de opinião do jornal com demagogia barata. Segunda-feira, porém, é dia de alforra, e contamos com articulistas bons como Denis Rosenfield, Paulo Guedes, Raul Velloso e Fabio Giambiagi. Faz sentido: domingo é dia de descanso, de brincadeira, de lazer, enquanto segunda é dia de trabalho sério.

Hoje, todas essas colunas mencionadas merecem ser lidas. Comecemos com Denis Rosenfield. O professor de filosofia faz um resumo dos novos métodos de tomada do poder pelos comunistas/socialistas, usando a Venezuela como exemplo e mostrando que não há mais o simbolismo da violência guerrilheira, e sim uma estratégia de corromper a democracia de dentro dela. E foca no caso da diplomacia, transformada em instrumento ideológico pelo PT, e agora sendo desinfetada por José Serra e Michel Temer:

O governo petista havia tornado essa área um instrumento de suas posições partidárias mais retrógradas. O PT considerou a diplomacia uma prolongação de sua doutrina bolivariana, alinhando o país às posições socialistas/comunistas do século XX. A democracia perdeu o seu valor universal, vindo a ser manipulada segundo as conveniências particularistas do momento.

O governo Temer está recolocando a questão em sua verdadeira dimensão, rompendo decisivamente com essa orientação ideológica. Busca o bem da nação, e não o contentamento ideológico de um partido. Diplomacia é instrumento de um país, e não de um partido.

[…]

Logo, quando presenciamos as escaramuças diplomáticas em torno da questão de se Maduro deve ou não assumir a presença rotativa do Mercosul, devemos ter presente que estamos diante de uma questão plena de significado e, sobretudo, de consequências.

Sem dúvida! A Venezuela não pode assumir a presidência do Mercosul, o que representaria o simbolismo da vitória comunista na região. O país deve ser expulso do Mercosul, isso sim, caso a democracia verdadeira ainda represente um valor para seus membros. O que está em jogo é muito sério, e o inimigo – o populismo de esquerda – deve ser derrotado, custe o que custar.

Na economia o inimigo é o mesmo. E, nesse caso, produz o fenômeno inflacionário, ao condenar a austeridade fiscal e demandar um banco central politizado, que reduza as taxas de juros na marra. Paulo Guedes resume bem as causas da inflação, compara o fracassado Plano Cruzado (aplaudido pelos petistas) com o bem-sucedido Plano Real (atacado pelos petistas), e conclui que Temer precisa ser impopular se quiser lograr êxito contra a inflação:

O terceiro e mais complexo ensinamento é de Robert Lucas: “A racionalidade do processo de formação de expectativas a partir dos fundamentos macroeconômicos sugere que as pessoas esperam taxas elevadas de inflação no futuro por boas razões. Expectativas adversas se alimentam exatamente de inadequadas trajetórias das políticas fiscal e monetária adotadas pelo governo.” A boa notícia é que essa mesma racionalidade permite uma queda fulminante e permanente da inflação, com pequena taxa de sacrifício em perdas de produção e emprego, pelo colapso das expectativas inflacionárias ante mudanças drásticas dos regimes fiscal e monetário. Mas, para isso, é preciso vontade política. Temer deve resistir à síndrome de ilegitimidade apregoada por seus oponentes e evitar a busca de uma ilusória popularidade.

Ainda na economia, Raul Velloso comenta sobre a crise dos estados, separando o que é problema conjuntural de problema estrutural, e conclui que a transparência maior na origem dos gastos estruturais é fundamental para reduzir os rombos orçamentários oriundos do… populismo de esquerda:

Depois, como esses segmentos têm um quinhão da receita garantido, é muito fácil enfrentar os governadores com solicitação de reajustes salariais, alegando que aquela parcela garantida vai ter de ser gasta com seu segmento de qualquer maneira.

Outro suborçamento fora do controle dos governadores é o relativo ao serviço da dívida, basicamente sob controle da União, pois os estados assinaram contratos de renegociação de dívidas no passado, autorizando o governo federal a reter as transferências, ou entrar em suas contas bancárias se fosse necessário, para pagarem o serviço da dívida a ela devido. Além do mais, qualquer novo endividamento tem de ser autorizado pelo Ministério da Fazenda.

Nesses termos, é preciso rever urgentemente a estrutura orçamentária estadual, certamente aprovando a volta dos gastos com aposentadorias e pensões para serem pagos nos suborçamentos setoriais, sem o que o desastre financeiro estadual não se equacionará no tempo requerido.

Por fim, o também economista Fabio Giambiagi preferiu falar de cultura hoje, mais especificamente da cultura segregacionista dos brasileiros, que não valorizam a igualdade de todos perante as mesmas regras, adotando a hierarquia “aristocrática” que separa “doutores” das pessoas “comuns”. Cita como exemplo os funcionários que cedem lugar no bebedouro quando algum “doutor” chega. E conclui condenando a “retórica infame” usada pelo PT para instigar uma segregação ainda maior que culpa os ricos pelos problemas dos pobres:

Na esteira desse tipo de manifestações, há um conjunto de ressentimentos que perpassam tais atitudes, indo desde a ideia de que pessoas com maiores recursos são “culpadas”, até a noção de que roubar rico não chega a ser condenável do ponto de vista moral. Talvez poucos espectadores tenham parado para pensar no significado simbólico da imagem, mas num filme brasileiro muito aclamado recentemente por representar a ascensão social de uma nova classe, uma das cenas mais festejadas pelo público — e construída para gerar essa empatia com quem assiste — é aquela em que a funcionária de uma casa, ao “pedir as contas” e se mudar da residência dos “patrões”, leva uma travessa com ela para sua nova casa. De fato, a cena tem sua graça cênica, mas objetivamente trata-se, pura e simplesmente, de um roubo, travestido pelo sentimento de “justiça” de que é feito contra uma família “rica”.

A ideia de que Dilma Rousseff foi afastada porque os “brancos de olhos azuis” foram às ruas ano passado incomodados com a ascensão dos mais pobres é moralmente ofensiva, além de economicamente indigente. A suposição de que há um antagonismo inevitável de interesses é própria de uma interpretação obtusa do funcionamento da economia. Esta não é um jogo de soma zero, onde para alguém ganhar outro precisa perder. O progresso econômico pode se encarregar de gerar uma melhora de bem-estar para todos os grupos — e progresso foi, justamente, o que não tivemos em 2015 e 2016, quando a economia encolheu.

Em suma, o leitor que leu as colunas de domingo no GLOBO sem a ajuda de um Engov pode ao menos se desintoxicar um pouco na segunda-feira, tendo acesso a textos decentes. E o resumo da ópera é que tanto na diplomacia, como na economia e na cultura, o inimigo a ser derrotado é o mesmo: o populismo de esquerda. É ele que transforma um instrumento de interesse nacional em puxadinho ideológico, ou que gera inflação elevada e rombos orçamentários, ou cria retóricas infames para segregar ainda mais a população.

Rodrigo Constantino

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