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Veja como sou rebelde, mamãe!
Veja como sou rebelde, mamãe!| Foto:

Contardo Calligaris é um psicanalista esquerdista, meio anarquista, totalmente libertino, um relativista moral “progressista”. Até aí, tudo bem. Tem direito de ser assim, e está bem em linha com seus pares de profissão. Mas o problema é que ele se diz um liberal. Aí, como presidente do Conselho do Instituto Liberal, preciso reagir.

Em sua coluna de hoje, Calligaris demonstrou ser um rebelde com ar um tanto adolescente, querendo “quebrar tabus”, e fez isso em nome do liberalismo. Pior: caiu em gritantes contradições, sem se dar conta de tantas incoerências. Vamos ver o que foi dito:

Domingo, 10 de setembro, em Porto Alegre, o Santander Cultural encerrou a exposição “Queermuseu”. O banco se apavorou diante das ameaças de boicote por clientes indignados com algumas das obras expostas –as quais ofenderiam a moral e instigariam pensamentos e atos impuros.

Uma parte, ao menos, dos protestos veio de pessoas que se declaram “liberais”. Mamma mia. Liberal é quem defende, antes de mais nada, a liberdade do indivíduo (limitada apenas pelo Código Penal). Um liberal que não gostasse das obras expostas visitaria outra exposição. Ponto. Pretender boicotar o banco se a exposição não for fechada, essa é a conduta de grupos confessionais ou totalitários (fascistas ou comunistas).

Para começo de conversa, o Código Penal foi desrespeitado, como no ultraje à religião. Mas isso nem vem ao caso aqui. Como já cansamos de mostrar, a revolta popular, liderada por alguns liberais, não foi pela “ofensa moral” daquelas obras de “arte”, e sim pela sua exposição a crianças! Fingir que ainda não entendeu o problema é largar com atestado de desonestidade intelectual. Ou Calligaris é tão limitado assim a ponto de não compreender o cerne da questão?

Em seguida, Calligaris afirma que boicotar o banco seria conduta de grupos totalitários, não de liberais. Ele ignora que o boicote é um instrumento liberal, justamente porque não envolve coerção ou ameaça de coerção, tampouco uso de violência. É um movimento voluntário. Só que vejam que irônico: ele mesmo parece se dar conta disso logo depois, no parágrafo seguinte, ao conclamar seus colegas “liberais” a… boicotar o Santander por ter cedido à pressão:

Enquanto isso, os verdadeiros liberais, de esquerda ou de centro, tanto faz, escrevem colunas nos jornais, como eu agora, mas não agem. O que seria agir? Simples. Por sorte, sou cliente Itaú. Se eu fosse cliente Santander, acho que, nesta altura, fecharia minhas contas. Não aceitaria ser cliente de um banco que não corta nem sequer os pelos da orelha em nome da arte, mas chama seu serviço VIP de Van Gogh.

Ameaçar fechar a conta no banco por não aceitar a pedofilia e a zoofilia enfiadas goela abaixo em crianças foi justamente o que milhares de correntistas fizeram. Liberal, legítimo, e o que o próprio Contardo recomenda agora, como protesto ao Santander. Ou seja, protestar com o boicote ou fechando a conta por repudiar a “arte” ideológica e degenerada para crianças, isso é absurdo, fascista e antiliberal, mas fazer exatamente isso porque o banco achou melhor encerrar a mostra é lindo e liberal. E o sujeito nem ruboriza!

Calma que a parte mais constrangedora vem depois. Calligaris conta a experiência de uma visita sua a uma igreja em Veneza. A namorada de seu filho foi barrada por estar com shorts curtos, e só teve acesso permitido com o uso de uma manta para esconder as pernas. Ele quis saber quem definiu a regra, e se poderia entrar sem camisa. Seu “argumento”: Cristo está retratado na cruz sem roupa! É sério, vejam:

Perguntei se eu poderia entrar sem camisa. “Não!”. Apontei para um crucifixo: “Ele estava nu”. Ele respondeu que “Ele pode”… porque é Jesus”. Concordei e continuei: “E os outros? Os mártires que aparecem nus nos quadros que decoram as igrejas do mundo inteiro?”. Ele: “Também podem, porque foram supliciados”. Minha vez: “Alguém que tivesse a cicatriz de uma cirurgia torácica ou cardíaca ou então as marcas do açoite por ter sido batido quando criança por pais sádicos, ele poderia? Você consideraria que ele foi supliciado?”. “Não”, ele respondeu, “os mártires morreram”. “Então”, resumi, “os mortos podem comparecer nus na igreja, os vivos, não. É isso?”.

O homem ficou calado e irritado. Eu: “Sabe, eu sou terapeuta de adolescentes. Se seu problema for evitar que as pessoas se excitem sexualmente, você tem um problema: conheci dezenas de meninas que se masturbaram durante anos olhando para uma representação do momento em que arrancam os seios de santa Águeda mártir. E conheci dezenas de meninos que passaram anos se masturbando olhando para são Sebastião amarrado e transfixado de flechas. Os mártires são uma tremenda inspiração erótica…”.

Como “liberal”, Calligares deveria saber que uma propriedade privada deve ter o direito de estabelecer seus critérios de vestimenta. Não se pode entrar na imensa maioria dos shopping centers de roupa de banho, por exemplo. O rebelde sem causa não aceita: ele é “liberal”, e se acha no direito de andar como quiser por aí. Como adulto maduro, Calligaris deveria ter respeito pelo ambiente sagrado da igreja, ao menos para os fiéis que a frequentam. Mas nem isso bastou. O “liberal” vai num enterro de cueca para provar que é “livre”, por acaso?

Sobre os adolescentes que atendeu no consultório, só podemos constatar que se trata de uma mostra um tanto enviesada. Eis, aliás, o grande problema desses psis: eles confundem a própria projeção no espelho ou seus pacientes confusos com o todo, e acham que conhecem a essência da natureza humana, não um grupo justamente mais comprometido e problemático. É como a turma artística do Projaquistão ou de Hollywood, que toma suas vidas disfuncionais como a regra, não a exceção.

Eu não conheço ou conheci menino algum que passou anos se masturbando olhando para são Sebastião amarrado. Já garotos que tenham surrupiado a antiga e saudosa revista Playboy e a levado ao banheiro, desses eu conheço aos montes (um deles quando olho no espelho).

Talvez o problema seja esse: Calligaris atendeu por tantos anos adolescentes perturbados, que acabou se tornando um deles! Um adultescente, que precisa bancar o eterno rebelde libertário para se sentir garotão, alguém que não soube amadurecer, que confunde o desrespeito de frequentar uma tradicional igreja sem roupa com liberdade. Não seria o caso de o próprio psicanalista buscar um divã?

Rodrigo Constantino

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