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No Rio, é questão de tempo até que a bala do fuzil se aproxime de você
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Uma troca de tiros entre policiais militares e criminosos, na Rodovia Rio-Juiz de Fora, BR-040, na noite de sexta-feira (10), resultou na morte de Fábio Hamdan Silva, de 41 anos. Ele seguia com a mulher, a executiva Daniela de Oliveira para Petrópolis, na Região Serrana do Rio, quando foi atingido por um tiro. A vítima foi socorrida e levada para o Hospital Estadual Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, mas não resistiu aos ferimentos.

De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o caso aconteceu por volta das 20h13 de sexta-feira, no quilômetro 106, altura do municípiode Duque de Caxias. No local, vários homens em motos, portando fuzis, trocaram tiros com policiais do 15º BPM (Duque de Caxias). O confronto aconteceu no sentido contrário do fluxo de veículos que seguiam rumo à Região Serrana do Rio.

“Acho que fui atingido”, disse Fábio Hamdan à mulher após passar de carro pelo local. Fábio morreu ao dar entrada no hospital. Policiais da Delegacia de Homicídio da Baixada Fluminense investigam para tentar descobrir de onde partiu o disparo que atingiu a vítima.

O que dizer dessa tragédia? Apenas mais uma do tipo na “cidade maravilhosa”, não é mesmo? Só que dessa vez ela se aproximou mais de mim. Conheço a Daniela, sou amigo de sua irmã, com quem estudei na faculdade, e gosto muito da família. Não sei nem o que dizer. Não sei como abordar o assunto. Não sei se devo ou não escrever sobre isso dessa forma pública aqui, mas também não consigo simplesmente ignorar e tocar o barco como se nada tivesse acontecido.

Quando soube da notícia, confesso que fiquei bem abalado. Não conhecia a vítima em si, mas como disse, conhecia a esposa e sou amigo da cunhada. Soube que todos ficaram em estado de choque, o óbvio. Você resolve passar um fim de semana agradável com sua família na serra, onde a família dela costuma ir há anos, e de repente aquilo que seria descanso e prazer entre familiares e amigos se transforma literalmente num inferno, no pior dia da vida, numa desgraça que parece onírica de tão absurda e surreal.

Um tiro de fuzil?! Bala perdida na estrada?! O que é cotidiano no Rio é visto como aquilo que é para qualquer cidadão de outro país: uma realidade de guerra civil. Isso é Síria! Não é carnaval, felicidade, belas praias e barzinho descolado: é Síria! É Iraque! Não é aceitável. Não é razoável. E ninguém está a salvo. Um carro blindado não aguenta tiro de fuzil. A elite não está protegida, pois o acesso para seus refúgios paradisíacos é extremamente perigoso. Avenida Brasil e Santa Cruz para quem vai para Angra dos Reis, BR-o40 para quem vai subir para a serra. Fuzil!

Alguns me perguntam por que eu saí do Brasil, e outros quando pretendo voltar. Eis aí uma boa resposta: por isso, e no dia em que balas perdidas de fuzis não forem parte da realidade do carioca. Do jeito que a coisa está, é questão de tempo até que ela se aproxime de você. O Rio é um projeto fracassado, que tem uma mentalidade tosca, valores distorcidos, dominado pela esquerda caviar, enaltecendo tudo que não presta. E as pessoas de bem, os pais de família trabalhadores, acabam sendo as vítimas desse descaso, dessa podridão, dessa zona!

Dani, Carlinha: eu nem sei o que dizer a vocês! Fica aqui registrada minha condolência por todo o sofrimento que estão passando, que só posso imaginar. Minha revolta é grande, pois não era para algo assim acontecer, para uma família ser destruída dessa forma tão absurda, e tratada como banal, como apenas “mais um caso”. O carioca perdeu o sentido da realidade. O direito básico de ir e vir desapareceu.

Mas vamos fingir que não é assim, pois vem o carnaval aí, e é preciso cair no samba para esquecer. Vamos repetir que o Rio é lindo e uma maravilha. Fuga por fuga, eu fico com a minha, física, e não a psicológica. Eu sei a porcaria que o Rio é. E não estou disposto a esperar até que a próxima bala de fuzil se aproxime ainda mais de mim…

Rodrigo Constantino

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