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O alerta que vem da Argentina. Ou: É preciso evitar o clima de que o PT já era
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O PT já era. Do ponto de vista moral, é isso mesmo. Vemos ratos abandonando a canoa furada na maior cara de pau, como se não tivessem defendido o lulopetismo até ontem. Sentem os ventos de mudança e se adaptam. Mas isso não quer dizer que o PT acabou politicamente, muito menos que o governo está com seus dias contados. Reconhecer a diferença entre as duas coisas é fundamental para a sobrevivência de nossa democracia.

Já expliquei aqui porque considero o impeachment uma solução interessante do ponto de vista político, rebatendo os argumentos de quem acha melhor deixar o PT sangrando até 2018. Um dos alertas que tenho feito com frequência é lembrar dos casos argentino e venezuelano. Mesmo com toda a crise econômica e moral, esses governos autoritários bolivarianos conseguiram se manter no poder.

O Brasil não é a Argentina, nem mesmo a Venezuela. Mas a Argentina tampouco era a Argentina! Era um país com imprensa livre, com ampla classe média, e deu no que deu. Após mais de uma década de casal K no poder, as instituições foram para o espaço e os eleitores perderam as esperanças. Tanto que, como diz o editorial do GLOBO, a situação ainda está em aberto para as próximas eleições, com boas chances de dar kirchnerismo novamente:

As eleições primárias da Argentina confirmaram as previsões de analistas. O candidato kirchnerista Daniel Scioli emergiu como principal nome para suceder Cristina Kirchner nas eleições presidenciais de 25 de outubro deste ano. Segundo dados oficiais, divulgados pelo jornal “La Nación”, com 97,8% das urnas apuradas, a coalizão governista da Frente para a Vitória (FPV), liderada pelo governador da província de Buenos Aires, obteve 38,4% da votação. O percentual abaixo de 45%, no entanto, indica que haverá segundo turno pela primeira vez.

[…]

Após 12 anos de governo do chamado casal K — o ex-presidente Néstor Kirchner e sua viúva, Cristina —, a Argentina prepara um legado desalentador. Na economia, as finanças encontram-se abaladas por erros usuais de uma gestão centralizadora, intervencionista e sem transparência. O país vive uma recessão preocupante, suas agências e instituições perderam credibilidade, após intervenções do governo, e conflitos com credores geraram a suspensão de pagamentos. A crise levou o país a dar as costas ao Mercosul e voltar-se para a China.

No campo político, há sinais de truculência e violações aos direitos e liberdades civis. O caso mais gritante foi a morte do procurador Alberto Nisman este ano, às vésperas de formalizar uma denúncia contra Cristina, com relação ao atentado terrorista contra a Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), ocorrido em 1994. O assassinato do procurador, até hoje não solucionado, indignou a opinião pública e gerou manifestações. O episódio revelou ainda várias tentativas de intimidação do trabalho do Ministério Público e da Justiça por agentes do Executivo.

O caso da Argentina é lastimável, um caso impressionante de involução, decadência. Mesmo o assassinato do procurador não foi motivo o suficiente para uma revolta articulada da população. E pensar que, depois disso tudo, o candidato governista está com boas chances de ganhar! Isso demonstra como jamais devemos subestimar o poder de compra de votos e enganação desses bolivarianos, assim como a estupidez popular. A tragédia argentina tem sido uma questão de escolha.

O artigo do historiador Marco Antonio Villa hoje no GLOBO está excelente, mas deve ser lido com esse alerta bem acima na cabeça. Villa argumenta que não há mais governo, que o PT e seu projeto criminoso estão com seus dias contados. Toca na questão dos ratos que já abandonam o barco afundando como se fossem opositores do lulopetismo desde criancinhas. Mostra a reação absurda do governo diante disso tudo. E conclui que o destino do PT está traçado:

Na última quinta-feira, era esperado que o PT reconhecesse os erros e apontasse para alguma proposta de negociação, de diálogo com a oposição. E mais, que buscasse apoio dos 71% de brasileiros que consideram o governo ruim ou péssimo. Não o fez. Satanizou a oposição. Associou 1964 a 2015. Tachou a oposição de golpista. Ironizou os protestos. Conservou a política do conflito, do nós contra eles. Isso quando estão isolados e sem nenhuma perspectiva, mesmo a curto prazo, de que poderão reconstruir sua base política.

A gravidade do momento e o autismo governamental obrigaram as oposições a se mexer. A necessidade de encontrar uma rápida saída constitucional para a crise é evidente. A sociedade civil pressiona. As manifestações do próximo dia 16 vão elevar a temperatura política. Quanto mais tempo permanecer o impasse, pior para o Brasil. Se 2015 já está perdido, corremos o sério risco de perdermos 2016 e 2017.

É inegável que Lula e o PT já estão de mudança para o museu da história brasileira. Mais precisamente para a ala dos horrores — que é vasta. Será necessário reservar um espaço considerável. Afinal, nunca na nossa história um projeto político foi tão nefasto como o do lulismo.

Tudo certo. Mas recomendo cautela. O PT ainda não foi jogado para escanteio. Sim, o governo Dilma tem a maior rejeição da história. Mas ela ainda está lá. O PT ainda controla milhares de cargos e bilhões de gastos públicos. Ainda tem a máquina estatal para usar e abusar. E enquanto o inimigo do Brasil tiver tantas armas, a guerra não terá terminado. Cochilou, o cachimbo cai. Tudo que o adversário mais deseja é ser tido como morto.

Por essas e outras razões vejo qualquer saída que preserve Dilma na presidência e o PT no governo como inadequada. É negligenciar o poder dos safados com todo esse arsenal à disposição. O alerta que vem da Argentina é bastante claro: nem mesmo a mais grave crise econômica é garantia de derrota política do governo. É preciso evitar o clima de que o PT já era. Ele está morto moralmente falando. Mas continua vivo… e no poder!

Por isso mesmo, TODOS nas ruas dia 16 de agosto!

Rodrigo Constantino

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