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O candidato à presidência é a menor das prioridades
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Por Lucas Berlanza, publicado pelo Instituto Liberal

Quem terá o seu voto para a presidência da República em 2018? João Dória? Jair Bolsonaro? Outro? Essa questão não cessa de provocar trocas de farpas entre liberais e conservadores.

Os que querem Dória mencionam sua desenvoltura, sua meteórica ascensão em virtude de um grande trabalho nos primeiros meses na prefeitura de São Paulo, sua habilidade como gestor, sua maior simpatia pela iniciativa privada e a falta de um cacoete nacional-desenvolvimentista. Apontam em Bolsonaro um apego a teses menos importantes, falta de compostura e afirmações fora de lugar, bem como um suposto cacoete estatizante próprio de sua origem política como defensor dos militares, que se traduziria nas hesitações em recentes votações na Câmara.

Os que querem Bolsonaro lembram que Doria está no PSDB, a despeito de ter provocado tensões internas no partido; destacam seu não-envolvimento em escândalos de corrupção e seus anos de atuação opinando contra o próprio partido, em oposição ao PT. Acreditam que ele representa uma mensagem mais clara de repúdio ao esquerdismo no âmbito dos valores. Eventualmente rotulam Dória de “fabiano”, recordando sua afirmação de que é um “social democrata” e de que preferiria Hilary Clinton a Donald Trump.

Nenhum dos dois está em um partido cuja trajetória tenha sido plenamente ligada às nossas ideias. Nenhum dos dois tem uma origem programaticamente ou esteticamente liberal conservadora. Estamos falando de uma disputa entre dois POSSÍVEIS candidatos – e não mais do que isso; não sabemos o que ocorrerá em 2018, e Doria continua negando sua candidatura – que não são, nenhum dos dois, um Carlos Lacerda ou um Ronald Reagan. São o bastante, porém, para que pessoas estejam se engalfinhando como em um Fla x Flu, pessoas que, em sua maioria, se pararem para pensar, constatarão que têm interesses em comum a serem privilegiados.

Não me levem a mal; a escolha do presidente é muito importante, e tudo ao fim das contas é uma briga por poder. Só que não é só a briga pelo poder no Planalto que importa. Aliás, essa deve ser a coisa menos importante entre as mais importantes. Nosso país já cometeu muitos erros ao acreditar que a resposta para o Universo, a existência, a salvação humana e tudo o mais estaria na infeliz criatura que colocaríamos no Palácio do Planalto. Parece-me que alguns grupos na direita contemporânea estão ligeiramente incorrendo em tropeço semelhante ao não admitir uma nesga de crítica ao seu político predileto, ou partido predileto, ao não receber contestações com equilíbrio e sensatez, ao adotar políticos de estimação.

Para começar, a importância que se dá à escolha do presidente, que é válida, extrapola para as raias do messianismo, infelizmente, como resultante do poder exagerado de que ele dispõe. Como muito corretamente dizem os liberais, é preciso reduzir esse poder. Contudo, também é preciso mexer no Legislativo; uma reforma política precisa contemplar problemas como o presidencialismo de coalizão e a fragmentação partidária. Precisamos ficar de olho nas manobras para proteger os políticos, como seria, neste momento, o voto em lista fechada.

Também precisamos pressionar pelo fim do imposto sindical, a fim de destruir a “mamata” dos grupelhos de baderna que atuam em favor da extrema esquerda. Precisamos pressionar para que o STF não legisle e não subtraia as prerrogativas do Legislativo. Precisamos pressionar pela privatização das estatais, como os Correios, que continuam ostentadas como bastiões do atraso. Precisamos também pressionar para que as reformas econômicas necessárias sejam aprovadas, para que as demagogias da esquerda não prevaleçam.

Precisamos assumir o “poder” ocupando espaço em universidades, difusão de conteúdo, clube de bairro, associação de moradores – como já dizia, por exemplo, o filósofo Olavo de Carvalho -, o que for. Precisamos estabelecer contato com aquilo que o economista Joel Pinheiro da Fonseca, em sua última coluna na Folha de São Paulo, chamou de “liberalismo popular” – uma consciência intuitiva da importância de reduzir os entraves impostos pelo Estado em meio às camadas mais populares da sociedade, que precisamos polir e alcançar com a nossa mensagem.

A transformação da estrutura institucional e, acima disso, a transformação do tecido social e cultural, são mais importantes do que o indivíduo que colocará a faixa presidencial em 2019. Essa consciência precisa estar entronizada em nós antes de guerrearmos por candidaturas que sequer estão protocoladas; caso contrário, o liberalismo e o conservadorismo se diluirão no personalismo ou no tribalismo idólatra, e não chegaremos a lugar algum.

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