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O debate econômico no Brasil é análogo a debater se a Terra é redonda ou quadrada em física
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O Brasil cansa. Como cansa! Especialmente em minha área, a economia. Os “debates” parecem parados no tempo, por conta de uma esquerda que se recusa a aprender com a experiência e a lógica. Os heterodoxos mostram incrível resistência aos fatos, e repetem as mesmas receitas absurdas de décadas atrás. A cada novo fracasso, pasmem!, voltam com mais veemência ainda a propor suas “soluções mágicas”, sempre por meio de mais intervenção estatal. É preciso ter muita paciência.

Felizmente, alguns de nós a têm. É o caso de Alexandre Schwartsman “debatendo” com Leda Paulani, como já comentei aqui, ou eu mesmo perdendo meu valioso tempo para refutar suas besteiras aqui. São questões primárias, que um aluno no começo de faculdade deveria saber, mas uma professora ignora. Como estamos falando de professores com espaço nos jornais, porém, é preciso perder esse tempo para derrubar suas falácias, pois elas deformam muita opinião por aí.

Outro exemplo é o de Monica de Bolle que, em sua coluna de hoje na Folha, precisou ocupar seu espaço rebatendo as abobrinhas de Mariana Mazzucato, autora de um livro cujo título já dá calafrios em qualquer ser racional: Estado empreendedor: Desmascarando o mito do setor público vs. setor privado. Como Monica, também não li o livro, mas pergunto: quem ainda consegue defender a ideia de um estado empreendedor depois de tudo?

Resposta: talvez alguém que tenha muitos interesses em participar do estado: a professora da Universidade de Sussex se reuniu nos últimos dias com a presidente Dilma e sete de seus ministros. Parece que ela tem “bom trânsito no Ministério da Ciência e Tecnologia e no BNDES”, além de estar sendo “cotada para ser consultora do governo na área de inovação”. A simbiose entre economistas heterodoxos e governantes sempre foi uma ótima oportunidade de emprego para profissionais medíocres e um enorme risco para a população.

O tema que Monica rebate no texto é o pessimismo com o Brasil hoje, apontado como “excessivo” pela outra economista em uma entrevista recente. A pesquisadora estava condenando as medidas contracionistas, o que não é surpresa alguma: os heterodoxos sempre condenam a austeridade e defendem mais gastos públicos. Segundo ela, o ajuste fiscal não funciona. Melhor avisar para David Cameron, reeleito no Reino Unido agora graças às medidas austeras.

A entrevistada tece vários elogios ao BNDES, como não poderia deixar de ser. Mas como Monica lembra, o BNDES não tem contribuído para o aumento de nossa produtividade. Pelo contrário: “a presença maciça do BNDES no mercado de crédito brasileiro com suas linhas subsidiadas pressiona as taxas de juros reais, o custo do capital”. E depois? “O custo mais elevado do capital desincentiva a formação bruta de capital fixo, o investimento. Sem investimento, como a própria autora do Estado Empreendedor reconhece, não há ganho de produtividade”.

O BNDES tem causado enorme estrago em nossa economia, como uma verdadeira máquina de transferência de recursos dos pobres para os ricos, criando conglomerados da noite para o dia, selecionando os “campeões nacionais”, tudo isso sem produzir um só ganho de produtividade ou de aumento na taxa de investimento. Pelo contrário, como mostram os dados. E agora o governo ainda teme jogar luz sobre os contratos do banco, pois sabe que a transparência pode expor muita coisa esquisita ali. É isso que a pesquisadora elogia? Monica conclui:

O Brasil está fazendo um ajuste doloroso porque acumulou desequilíbrios severos. O Brasil está comendo o pão que (complete com o nome que desejar) amassou porque passou muito tempo acreditando que todos os antigos problemas estruturais haviam sido resolvidos com o maná das commodities.

Agora, precisa arrumar as contas públicas, reduzir o papel do Estado, que pesa como chumbo sobre o investimento das empresas –será que a autora conhece o tamanho de nossa carga tributária?–, e encontrar alguma fórmula para resgatar a produtividade. Tal fórmula certamente não passa pelo empreendedorismo que semeou BNDES e protecionismo e colheu juros, inflação e desemprego. 

O que me entristece é uma boa economista como a Monica, assim como um bom economista como Schwartsman, terem que dedicar seu escasso e valioso tempo para rebater bandeiras tão esdrúxulas como essas dos heterodoxos, que conseguem defender, em pleno século XXI, um estado empreendedor ou um Banco Central subserviente ao governo que jogue na marra as taxas de juros para baixo para “estimular” a economia. Eles nunca aprendem!

A sensação que fico é a de que, em economia, estamos debatendo ainda o que seria análogo ao debate se a Terra é redonda ou quadrada na física, em vez de focarmos nas nuanças do arredondamento terrestre. É muita perda de tempo valioso por culpa de uma esquerda retrógrada…

Rodrigo Constantino

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