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O emburrecimento deliberado das universidades
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Roberto Campos dizia que uma tragédia como a brasileira não era obra do acaso, mas sim de um esforço determinado de décadas. O mesmo se aplica ao espantoso emburrecimento das universidades mundo afora. Jamais chegaríamos a tal grau de estrago sem uma agenda deliberada por trás disso, destruindo propositalmente as mentes dos jovens, enfiando porcaria em suas cabeças no lugar de conhecimento e sabedoria.

No livro A corrupção da inteligência, Flavio Gordon analisa o caso brasileiro, mostrando que, de fato, o declínio não ocorreu por fruto do destino, mas sim pela ocupação hegemônica da esquerda radical, que fez questão de arruinar com o ensino, metendo ideologia em seu lugar. Duas reportagens hoje ilustram o aspecto global do fenômeno.

Na primeira delas, um artigo de Charles Sykes, vemos como os alunos estão aprendendo pouca coisa relevante atualmente nas universidades, saindo delas com uma ignorância assustadora. O autor cita o ex-presidente de Harvard, Derek Bok, que teria reconhecido que as faculdades e as universidades “oferecem muito menos para seus alunos do que deveriam”.

Muitos formados, admitiu Bok, deixam a instituição com um diploma cobiçado e dispendioso “sem poder escrever o suficiente para satisfazer os empregadores (…) ou raciocinar claramente ou executar de forma competente a análise de problemas complexos e não técnicos”. Os custos de uma universidade não param de aumentar, criando inclusive uma bolha de crédito estudantil, e o resultado é altamente questionável, para dizer o mínimo. Diz Sykes:

O fato de os estudantes universitários terem grandes lacunas em seu conhecimento já era uma notícia antiga no início dos anos 90. Mas hoje a questão já não é saber se os alunos aprenderam corpos específicos de conhecimento; é se eles estão aprendendo alguma coisa. 

No livro amplamente citado “Academically Adrift” (“Academicamente à Deriva”, em tradução livre), Richard Arum e Josipa Roksa concluíram que 45% dos estudantes “não demonstraram melhora significativa na aprendizagem” durante os dois primeiros anos da faculdade. Mais de um terço (36%) “não demonstrou qualquer melhoria significativa na aprendizagem ao longo de quatro anos de faculdade”. 

Tradicionalmente, de acordo com os autores, “ensinar os alunos a pensarem criticamente e se comunicam efetivamente” foram reivindicados como os “objetivos principais” do ensino superior. Mas “o compromisso com essas habilidades parece mais uma questão de princípio do que prática”, conforme contataram Arum e Roksa. 

Há diferentes fatores para um fenômeno tão abrangente, sem dúvida, e a péssima qualidade do ensino público primário é parte do problema. O mecanismo de incentivos é perverso, os sindicatos de professores, os maiores doadores de campanha da esquerda, impedem a meritocracia, os “progressistas” lutam contra os vouchers ou mesmo as “charter schools”, tudo para não ver seu poder se esvaziar.

E é justamente esse poder da esquerda radical que, em minha opinião, representa o principal fator dessa decadência acadêmica. Os extremistas de esquerda ocuparam as escolas e as universidades e, com este intuito deliberado, destruíram as bases de uma boa educação, substituindo a aprendizagem por pura lavagem cerebral.

Na era do politicamente correto e da “marcha das minorias oprimidas”, a coisa saiu totalmente de controle e ficou insuportável, com cadeiras inteiras criadas nas universidades só para alimentar o vitimismo das “minorias”. Em A revolução das vítimas, Bruce Bawer faz um estudo minucioso desse câncer que se alastrou pela academia.

O que nos remete à segunda reportagem mencionada acima, que mostra alunos de universidade tentando barrar filósofos brancos do currículo. Parece piada de mau gosto, mas é sério, e está longe de ser um caso isolado. Diz a matéria:

Alguns dos maiores nomes da filosofia ocidental podem ser banidos de uma prestigiosa instituição de ensino de Londres. Alunos da Universidade de Estudos Orientais e Africanos (SOAS, em inglês) querem retirar figuras como Platão, Descartes e Immanuel Kant do currículo porque eles são brancos.

De acordo com o diretório dos estudantes, “a maioria dos filósofos de nossos cursos” devem ser da África ou da Ásia. Trata-se, segundo eles, de uma campanha de “descolonização” da universidade. Os “filósofos brancos” devem ser estudos apenas “se for necessário”, acrescentando que seu trabalho deve ser visto “de um ponto de vista crítico”.

Críticos da medida temem que ela ponha em risco a “integridade acadêmica” do ensino. Para o filósofo Roger Scruton, a reivindicação é ignorante:

— Você não pode descartar uma área inteira de esforço intelectual, e claramente eles não investigaram o que entendem por filosofia branca — disse ao jornal “The Mail on Sunday”. — Se eles acreditam que existe um contexto colonial na obra de Kant, por exemplo, adoraria saber qual é.

Vice-reitor da Universidade de Buckingham, Anthony Seldon acrescentou:

— Há um perigo real de que o politicamente correto esteja fora de controle. Precisamos entender como era o mundo, e não reescrever a História como alguns gostariam que ela fosse.

Professores e alunos já estão batendo boca. Diretora do Departamento de Religião e Filosofia da universidade, Erica Hunter afirmou que o ponto de vista dos estudantes é “ridículo”.

Que é ridículo não resta a menor dúvida, mas nem por isso é brincadeira. Ao contrário: é algo muito sério, e tenho tentado mostrar aqui como essa estupidez vem ganhando força, já que nunca os “fracos e oprimidos” foram tão poderosos. O mimimi deles tem mudado para pior o mundo, e o Zeitgeist é evidente: quem não chora, não mama. A meritocracia é o principal alvo dessa turma.

Um amigo liberal brincou: “Mas eu fiquei pensando se eles vão abrir mão também de ensinar Marx, Hegel, Rousseau, Horkheimer, Adorno, Habermas, Marcuse, Sartre, Foucault… Nesse caso, acho que o nosso lado sairia ganhando”. Ele teria um ponto, claro, se esses “progressistas” não fossem hipócritas, seletivos, adeptos do duplo padrão e do polilogismo.

Pensadores brancos não servem, a menos que sejam de esquerda. É a mesma “lógica” para os movimentos de minorias: se for negro e conservador, como Thomas Sowell, Condoleezza Rice, Ben Carson e tantos outros, será tratado como traidor da causa; se for mulher e conservadora, como Thatcher, será vista como traidora do feminismo; e por aí vai.

Na “marcha das minorias oprimidas” não é só o conhecimento que desaparece; é a própria noção de que ele seja possível de ser buscado de forma minimamente imparcial. A verdade passa a ser totalmente subjetiva, e o relativismo exacerbado se mostra totalmente parcial, seletivo. Em suma, quem não é de esquerda que fique calado, pois o “fascismo” precisa ser derrotado, custe o que custar. Assinado: os fascistas de esquerda, que destruíram nossas universidades.

Rodrigo Constantino

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