• Carregando...
O esquerdismo: um mal que assola a humanidade há séculos
| Foto:

Li recentemente um livro interessante que recomendo aos meus leitores. É denso (e mais da metade das 650 páginas é de notas), não se trata de leitura fácil, mas sem dúvida agrega bastante valor. E o melhor: custa menos de R$ 10 na versão eletrônica da Amazon. Trata-se de Leftism: From Sade and Marx to Hitler and Marcuse, de Erik Ritter von Kuehnelt-Leddihn. Ele foi um intelectual austríaco católico e aristocrata, que fez vários alertas contra os riscos da democracia descambar para o totalitarismo.

Erik era poliglota, capaz de falar oito línguas diferentes e de ler em outras onze. Foi colunista da revista americana conservadora National Review por 35 anos. Trabalhou ainda no Acton Institute e foi professor adjunto no Instituto Ludwig Von Mises. Ou seja, não era um qualquer dando seus pitacos, mas continua um completo desconhecido do público brasileiro. Uma pena, pois o livro é muito bom.

Ao incluir Hitler e o nacional-socialismo no rol dos estragos esquerdistas, gerou controvérsia com aqueles que enxergam no nazismo um regime de direita. Mas seus argumentos são convincentes, e quem conhece a história de ambos os regimes, sabe que, de fato, há mais semelhanças do que divergências entre o nazismo e o comunismo, entre Hitler e Stalin. Não porque “os extremos se tocam”, argumento absurdo (o extremo honesto seria igual ao extremo desonesto, o extremo inteligente seria igual ao extremo burro); e sim pois ambos conquistam o mesmo tipo de alma coletivista e invejosa.

O autor se considerava um defensor da causa da liberdade individual, mas não um democrata. Ao contrário: ele endossava a visão de Alexis De Tocqueville de que a democracia pode levar a um tipo terrível de despotismo: aquele em nome da maioria.

O primeiro grande estrago feito em nome da “democracia” e da “igualdade” ocorreu durante a Revolução Francesa, que no início seduziu até Edmund Burke (que, logo depois, percebeu seu enorme perigo e escreveu suas clássicas reflexões, um pilar do conservadorismo). Mas a despeito dos “nobres” ideais, o resultado foi a guilhotina e o Terror. Um dos temas recorrentes do livro é a ingenuidade de muitos democratas diante da ameaça totalitária disfarçada de “democracia”. Woodrow Wilson chegou a acatar com entusiasmo o governo de Kerenksy, que logo deu lugar ao regime bolchevique.

Os jacobinos, em suas diferentes roupagens, são os grandes inimigos históricos da liberdade individual. Sua destruição costuma ser realizada em nome da “democracia de massa”, com pitadas de nacionalismo e muito coletivismo. Comunismo, socialismo, nacional-socialismo, fascismo e até “liberalismo”, na concepção moderna e principalmente americana, seriam todos subprodutos dessa mentalidade perversa.

O instinto gregário, a inveja alimentando a busca por igualdade de resultados, o ódio fomentado pela visão coletivista de mundo, incapaz de reconhecer superioridade individual onde ela existe, tudo isso pode e acaba sendo explorado por populistas em regimes democráticos. Aqueles que temem o sentimento de inferioridade demandam “igualdade” como refúgio, um lugar “seguro” já que ninguém mais é melhor do que ninguém. Todos podem relaxar diante desse relativismo.

Para Erik, são esses sentimentos, essas emoções, essa rejeição ao conceito da qualidade individual que explicam muito do espírito dos movimentos de massa dos últimos 200 anos. Os jacobinos e seus herdeiros são os exploradores da inveja alheia. Mas claro que ela precisa vir embalada em algum disfarce nobre. A hipocrisia serve para ocultar sua verdadeira face. Os “igualitários” querem apenas mais “justiça social”, um “mundo melhor”, nunca a destruição dos outros, dos melhores, dos indivíduos superiores. Se você tratar todos com igualdade, ficará evidente que alguns merecem mais estima do que outros. E isso é insuportável para os igualitários invejosos com complexo de inferioridade. Eles querem a igualdade como resultado, e para tanto precisam tratar pessoas de forma diferente, punindo os melhores.

Esses jacobinos modernos falam muito em tolerância, mas só pode tolerar de verdade quem tem princípios, convicções enraizadas. Quem não os tem pode, no máximo, ser indiferente aos outros. A verdadeira tolerância vem de quem sabe ou acredita que o outro está errado, mas ainda assim não deseja o seu mal. Os relativistas não querem a tolerância, mas a indiferença, quando não a intolerância para com todos aqueles que ousam divergir de seus “dogmas”, i.e., a ausência de qualquer dogma ou convicção.

Para o autor, a direita deve se identificar com a liberdade individual, com a ausência de utopias revolucionárias, com o avanço orgânico e livre da sociedade, o que implica um respeito pelas tradições. O direitista verdadeiro não é o reacionário que deseja regressar a um passado idealizado, mas sim alguém que quer encontrar verdades universais, eternas, e lutar para preservá-las, mesmo que pareça “obsoleto” ou antiquado.

Os principais intelectuais responsáveis pelo esquerdismo moderno seriam Rousseau e o Marquês de Sade. O primeiro costuma ser atacado por muitos liberais e conservadores, mas o último é raramente mencionado. Mais conhecido por suas perversões sexuais, Sade também falou de política, e teria sido, nesse sentido, um precursor da Revolução Francesa. Para Erik, o “Divino Marquês” seria o patrono dos movimentos esquerdistas modernos, adaptados por intelectuais como Foucault e Marcuse. O radicalismo, o relativismo moral, o ataque ao Cristianismo e ao conceito de verdades universais, a crença ingênua na bondade humana e no “bom selvagem”, tudo isso teria nesses pensadores sua impressão digital.

O livro é rico em casos históricos, e o autor mergulha em vários detalhes interessantes. Sua principal mensagem, porém, já fica clara desde o começo: todo aquele que preza a liberdade deve tomar cuidado com a “democracia”, principalmente quando misturada ao conceito de “igualdade”. Ao ler essas páginas em meio à crise da esquerda latino-americana, que jogou uma vez mais nossos países no caos econômico e social com todo o seu populismo usando a democracia para quase destruí-la, esse alerta fica ainda mais profético e merece mais respeito.

Os jacobinos continuam sendo os grandes inimigos da liberdade. E eles sempre falam em nome da democracia de massa e da igualdade, nunca do totalitarismo antiliberal que suas ideias efetivamente representam e produzem.

Rodrigo Constantino

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]