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O fenômeno Bolsonaro. Ou: A era dos extremos
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“Quem está se afogando não repara no que se agarra” – José de San Martin

“Os males desesperados são aliviados com remédios desesperados ou, então, não têm alívio.” (Shakespeare, em Hamlet)

Meu amigo Paulo Figueiredo Filho defende a tese de que já entramos na era dos radicalismos, dos extremos, e que não há mais espaço para os “moderados”. Não sei se ele está certo, mas eu mesmo venho alertando, há anos, que as políticas “progressistas” iriam produzir um efeito de reação, como na terceira Lei de Newton. Não dá para achar que a esquerda vai demolir por décadas os pilares civilizacionais, que vai subverter cada valor tradicional que sustenta nossas liberdades, que vai usar o “welfare state” para criar uma legião de dependentes de esmolas, que vai segregar o povo com base em classe, raça ou gênero, e que não haverá resposta.

Peguem a Europa, cada vez mais ameaçada pela islamização, sob a covardia dos multiculturalistas. Le Pen só tende a aumentar sua base de eleitores, cansados de estupros, de criminosos, de fanáticos que desafiam a cultura de quem os recebe, de terroristas. Peguem os Estados Unidos: oito anos de Obama, com uma postura pusilânime e ideológica na política externa, com um modelo de “capitalismo de compadres” na economia doméstica. Donald Trump virou um fenômeno, e nada passageiro, como pensava a maioria no começo. Do outro lado, vemos o comunista Bernie Sanders avançando sobre Hillary, que já é bem socialista. Os extremos…

No Brasil, após 13 anos de muita roubalheira, da destruição de nossa economia, do cinismo petista, e da frouxidão de nossa “oposição” tucana, claro que haveria uma massa de indignados, gente desesperada por alguma solução “mágica”. Um povo decente não aguenta aturar desaforo por tanto tempo calado, e não sente, no PSDB, uma reação à altura do desafio e da necessidade de urgência no combate ao socialismo. O terreno é fértil para Messias salvadores da Pátria (ou da honra nacional, se preferirem, como queriam os alemães).

Vejam só esse vídeo de uma recepção a Jair Bolsonaro num aeroporto:

Recepção de Jair Messias Bolsonaro em Porto Alegre#AdmLucasAlguém já viu um político ser recepcionado desta maneira no Brasil?

Publicado por Vem Pra Direita Brasil em Segunda, 25 de janeiro de 2016

A pergunta feita é interessante: já viu um político ser recepcionado desta maneira no Brasil? A resposta, infelizmente, é sim, e não foram poucos casos. Getúlio Vargas, Jânio Quadros e o próprio Lula eram capazes de arrastar multidões pelas ruas, despertando fortes emoções no público. Não são boas lembranças. Se ampliarmos a comparação para o resto do mundo, tanto pior: sabemos quem na Alemanha e na Itália fazia uma turba se descontrolar com a mera presença em público. E mais recentemente, Obama arrancava suspiros e lágrimas de milhares com sua mera aparição.

Com isso não quero dizer que Bolsonaro seja um fascista ou um comunista ou um populista, e sim que o vácuo de alternativas produz o ambiente fértil para o surgimento de salvadores da Pátria com forte culto à personalidade. O fanatismo, assim como o personalismo, não costuma ser bom ingrediente para a política. Mas quando a própria política anda tão desacreditada, quando o “sistema” está podre e tomado, então a população cansada não quer saber disso, precisa de atalhos para resgatar a ordem, a segurança, a honra nacional.

Meus parentes sempre me acharam o mais radical da família (não tenho ideia do motivo). Pois hoje vejo alguns afirmando que só Trump nos Estados Unidos e Bolsonaro no Brasil podem dar algum jeito a essa confusão toda, enquanto eu fico no papel de recomendar cautela. Não podemos jogar o bebê fora junto com a água suja do banho. É preciso tomar cuidado para não destruir o próprio sistema democrático na ânsia de salvá-lo.

Não quero ser mal-interpretado: as instituições americanas são sólidas o suficiente para mitigar o potencial estrago de um Trump populista, que acha que fazer política é falar grosso o tempo todo e bater forte na mesa contra os chineses. As instituições americanas sobreviveram razoavelmente ilesas até mesmo ao Obama, esse sim um tremendo radical (só que de esquerda, e por isso tratado como “moderado” pela mídia, ela mesma quase toda de esquerda, à exceção da Fox News). Já as instituições brasileiras são bem mais frágeis, mas Bolsonaro, por outro lado, tem demonstrado evolução em vários pontos e talvez fosse menos radical no poder do que muitos pensam (ou gostariam).

Algumas pessoas falam que é besteira perder tempo com isso, que Bolsonaro não tem mesmo chance a nenhum cargo majoritário. Tenho dúvidas. Essas pessoas parecem ignorar o que está acontecendo em nosso país. A criminalidade anda solta, e vai piorar com o aumento do desemprego. A classe média não aguenta mais pagar o pato dos abusos do governo. Quem tem consciência das coisas está revoltado com o que fazem com nossos filhos nas escolas. Enfim, há um clima propício para o avanço de alguém como Jair Bolsonaro, o deputado mais votado do Rio.

Isso é bom? Difícil dizer. Não sou daqueles que seguem a cartilha da imprensa e automaticamente demonizam Bolsonaro. É uma pessoa que parece do bem, e está mais certo do que errado em várias questões importantes. Não é “apenas” um soldado antipetista, o que já seria bastante. É um defensor, sem medo do politicamente correto, de valores cruciais para nossa civilização, como a família tradicional. O que temo não é tanto Bolsonaro, e sim alguns seguidores mais aguerridos, que encaram qualquer divergência ou crítica como declaração de guerra de um inimigo mortal.  São aqueles que não se aprofundam em nada e só repetem “Bolsonaro 2018!”, como se tivessem encontrado a resposta para todos os males que nos assolam em uma pessoa. Essa postura não comina muito com a democracia liberal.

Ainda assim, acho que esse é um risco que vale a pena correr hoje, pois a verdadeira ameaça, muito maior, o perigo real e imediato, chama-se petismo. E os tucanos parecem incapazes de lidar com o problema de maneira adequada. Sim, um governo eventual de Aécio Neves seria bem melhor do que o atual, o que não é difícil. Basta imaginar Arminio Fraga na Fazenda no lugar de Nelson Barbosa. Quem joga o PSDB e o PT no mesmo saco o faz de forma no mínimo precipitada. Claro que trocar PT por PSDB seria um importante avanço, e às vezes a turma mais radical de direita presta um desserviço ao dizer o contrário.

Mas até mesmo para trazer o PSDB, que tem estrutura partidária e viabilidade política maior, mais para o lado direito é preciso ter um Bolsonaro ou um Ronaldo Caiado puxando o vetor resultante, colocando pressão. Se deixados em seu estado natural, os tucanos  serão muito “rosados”, um vermelho desbotado apenas, nada mais. E o “liberalismo” tucano vai até a economia, no máximo. No campo dos valores, creio que sejam “progressistas” demais e não tenham se dado conta de quanto o pêndulo extrapolou para o lado de lá. Está na hora de algum líder que defenda com mais afinco os pilares da civilização ocidental, sem se pautar pela ditadura do politicamente correto. O mundo talvez precise de uma terapia de choque, e o Brasil, até construir algo realmente NOVO e liberal, precisa antes de mais nada se livrar dos vermelhos!

Jogando tudo isso no liquidificador, eis o que penso: Trump e Bolsonaro são fenômenos esperados e até desejáveis depois de tanto abuso “progressista”. Mas representam algum perigo às próprias liberdades individuais que um liberal como eu preza. Por outro lado, se deixarmos a reação nas mãos de social-democratas, a coisa parece um tanto perdida. Encontrar esse equilíbrio não é nada fácil. Achar um novo Reagan, uma nova Thatcher, e um novo João Paulo II, eis o grande desafio!

Enquanto isso não acontece, não acho que os liberais e os conservadores de boa estirpe devam fazer coro aos “progressistas” demonizando essas alternativas mais radicais que surgiram. Ao menos são contrapontos aos radicais de lá, que até hoje bailaram sozinhos e, pior ainda, foram tratados como “moderados” pela grande imprensa. Por que a esquerda deve ter a hegemonia no radicalismo? Trump pode ser meio fanfarrão, com viés nacionalista e mercantilista, mas não seria pior do que Obama ou Hillary Clinton. Bolsonaro pode ser meio caricato em alguns pontos e ter um passado recente de defesa de bizarrices nacionalistas, mas não resta dúvida de que seria muito melhor do que o PT ou mesmo quase qualquer tucano.

Liberais deveriam, portanto, incentivar com cautela o avanço dessas lideranças, preparados para, no primeiro momento em que isso se mostrar necessário, defender o liberalismo contra arroubos autoritários vindos da direita, mas sempre lembrando que o grande perigo hoje vem mesmo da esquerda. Liberais e conservadores são céticos por natureza, desconfiam de messias salvadores e preferem fortalecer instituições e lutar no campo cultural. Mas para tanto é preciso, antes, derrotar os vermelhos que estão no poder. O foco deve ser esse. Eis nossa prioridade número um.

Que venha então a candidatura de Jair Bolsonaro! E que Trump seja o próximo presidente americano, se não der para ir de Ted Cruz. Qualquer coisa, menos mais um mandato “progressista” nos Estados Unidos e socialista no Brasil…

Rodrigo Constantino

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