• Carregando...
O grande erro de Luciano Huck
| Foto:

O apresentador Luciano Huck voltou a publicar texto na Folha sobre política, mostrando que, se não for candidato em 2018, vai ao menos se mobilizar para influenciar os resultados da eleição. O discurso é o mesmo de antes: ética, juventude que deseja mudar o Brasil, mudanças que virão de fora da política, e resgatar o debate civilizado, não importa se de esquerda, centro ou direita.

No papel, é tudo bonitinho, como quando alguém humilde ganha um prêmio no “Caldeirão do Huck”, podendo até levar o público às lágrimas. Mas da mesma forma que aquele prêmio não resolve o problema da pobreza, as propostas de Huck não resolvem nossos problemas políticos. E seu grande erro é justamente posar de “isentão”, achar que a ética, que é condição necessária, seja também suficiente. Não é! Ele diz:

O dia em que a Câmara dos Deputados e o Senado Federal forem compostos, em sua maioria, por pessoas íntegras, éticas, genuinamente bem-intencionadas e comprometidas com o bem comum, independentemente das suas ideologias, as soluções para as questões do país florescerão. O debate será de qualidade, as ideias idem.

Dali sairão líderes relevantes, presidentes da República, gabinetes e políticas públicas que sejam viáveis e transformadoras de verdade.

Essa “ocupação”, porém, não será do dia para a noite. Será um longo e árduo processo, que pode até ser retardado, refreado pelos atuais detentores do poder político -que hoje, salvo exceções, legislam em causa ou defesa própria.

[…]

Acredito nesses movimentos. E não só neles. A renovação política passa por eles, não importa se de esquerda, direita, centro. Tanto faz. Temos que melhorar o nível do debate, do compromisso da população com seu destino.

Ética e altruísmo não têm cor nas suas bandeiras.

Huck não é bobo, e sabe que há um clima crescente por um “outsider”, para alguém que não é político e ataca o establishment. Mas alguém que é camarada de praticamente todos os políticos envolvidos na Lava Jato não pode posar exatamente de contrário ao establishment, pode?

Ao contrário, ele tem toda pinta de “bom moço”, de “cara bacana”, do establishment, a começar pelo linguajar politicamente correto, pela falta de convicções, pelo uso de palavras vazias e platitudes que não dizem nada.

Esse papo de não importa ser de esquerda ou direita é o melhor exemplo disso. Dez em cada dez que repetem isso são… de esquerda. Como não importa? Se foi a esquerda que nos trouxe até aqui? É muita coincidência esse discurso surgir justo no momento em que temos uma “onda conservadora” desesperando a esquerda, não acham?

E eis, então, o grande erro de Luciano Huck: ignorar que o esquerdismo tem tudo a ver com nossos problemas! Imaginar que basta ética para tirar o Brasil da lama, vendendo uma narrativa contrária à política em si, o que é meio populista, ignorando que sem mudança no sistema, no mecanismo de incentivos, não adianta mudar as pessoas.

Ou esses políticos foram eleitos por alienígenas, e não por brasileiros? Desde Adam Smith já sabemos que não é da benevolência do açougueiro que temos nossa carne para o jantar. Desde Mises e Hayek sabemos que o socialismo é impraticável mesmo com santos no lugar de homens, por conta da impossibilidade do cálculo econômico. E desde Lord Acton sabemos que o poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente.

Portanto, cientes disso, podemos contradizer Huck e afirmar com toda a segurança: sim, é claro que esquerda ou direita importa, pois a esquerda não funciona, não entrega bons resultados, mesmo se for um socialista honesto! “O fato mais fundamental sobre as ideias da esquerda política é que elas não funcionam”, afirmou categoricamente Thomas Sowell.

O discurso “isentão” é para inglês ver, para pairar acima das disputas “ideológicas”, mostrar-se superior. Mas Trump, que venceu em parte por ser politicamente incorreto, foi certeiro ao dizer que a Venezuela não é o socialismo que foi mal aplicado, e sim aquele que foi perfeitamente adotado. Socialismo é isso! Então é óbvio que importa ser esquerda ou direita, pois a esquerda vai sempre fracassar.

Essa renovação calcada apenas em pessoas supostamente éticas, e não em ideias, princípios e valores, não em conhecimento empírico e teórico, não passa de um engodo. Vamos colocar pessoas “melhores” lá, apenas para ver os mesmos resultados de forma insana, pois fizemos tudo novamente igual, sem mexer no modelo, no sistema, na concentração de poder e recursos no estado, no mecanismo de incentivos.

A solução para o Brasil não é uma “juventude ética”, de esquerda ou direita, mas o liberalismo e o resgate de valores morais, que, aliás, ocorrerá somente se confrontarmos o “progressismo” de esquerda, que está por trás dessa degradação toda, do relativismo moral, do esgarçamento da família, da religião e das tradições.

O grande erro de Huck, enfim, é não enxergar que o problema é a esquerda. Mesmo – ou até principalmente – quando a esquerda vem repleta de boas intenções. O inferno, afinal, também está cheio de boas intenções…

Rodrigo Constantino

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]