• Carregando...
O mercado quer "comprar" Marina Silva? Caveat emptor!
| Foto:

A entrada de Marina Silva na corrida presidencial muda tudo, “zera a pedra”, como se diz. A reação inicial dos mercados – leia-se investidores do Brasil e do mundo – foi celebrar com cautela. A Bolsa subiu, mas sem muita convicção. Há a garantia de um segundo turno e uma chance maior de Dilma e o PT serem derrotados, o que, por si só, já é um alento para todos.

Ações da Petrobras no último mês. Fonte: Bloomberg Ações da Petrobras no último mês. Fonte: Bloomberg

Mas Marina é uma incógnita. Os investidores provavelmente estão apostando que ela terá de negociar com o PSB, ceder em vários aspectos, deixar de lado, na prática, o aspecto mais “sonhático” e romântico, que serve para conquistar votos dos indignados e desiludidos, mas não para mudar o país.

Uma coisa é representar o voto de protesto contra “tudo que está aí”, contra o “sistema”; outra, bem diferente, é realmente ter pretensões majoritárias, o que demanda uma transparência maior sobre quais serão as diretrizes caso eleita. Será Giannetti da Fonseca ou Leonardo Boff? André Lara Resende ou o MST?

O editorial do GLOBO de hoje tocou nesse ponto e levantou a possibilidade, já comentada no “mercado”, de que Marina assine uma espécie de “Carta ao Povo Brasileiro”, como fez Lula em 2002. Diz o jornal:

Marina Silva precisa, no entanto, transitar com cautela no espaço do PSB, em que há lideranças, como o atual presidente nacional da legenda, Roberto Amaral, defensores da adesão ao PT e Dilma. Some-se a isso que Marina propôs sua adesão a Eduardo Campos por não ter conseguido registrar seu partido, a Rede. É difícil afastar a ideia de que o PSB serve de “barriga de aluguel” para a nova legenda.

Acalmai-vos, mercado, que irei a vós! Ou não…

Outro tema delicado é a obediência a alianças seladas por Campos em alguns estados, sem o entusiasmo de Marina. O caso mais evidente é São Paulo, em que o PSB cede Márcio França, presidente local do partido, para vice na chapa do tucano Geraldo Alckmin, candidato à reeleição. E há, ainda, acertos com representantes do agronegócio, demonizado por Marina Silva — pelo menos no passado.

Se deixar de ser uma candidata “de protesto” para ter chances reais de vitória, Marina precisará deixar claro o que pensa sobre os graves problemas econômicos. O PSB prepararia uma espécie de “Carta aos Brasileiros”, como fez Lula/PT em 2002, para Marina assinar. Seria bom começo.

No mercado financeiro há uma máxima muito respeitada que diz: Caveat emptor! Significa algo como “o comprador que fique atento”, ou seja, cada um é dono de seu nariz e aceita correr os riscos que quiser. Ainda que timidamente, o “mercado” parece ter comprado a tese de que Marina tenderá para o lado mais amigável aos negócios, deixando de lado sua militância esquerdista de uma vida inteira. Será?

Para iludir a garotada que tomou as ruas em junho de 2013 e os artistas e “intelectuais” da esquerda caviar não é preciso muito mais do que discursos bonitinhos, retórica pretensiosa e um passado de penúria. Mas para conquistar os investidores que pagam com o próprio bolso pelos erros de análise o buraco é mais embaixo. Marina não é, afinal, Aécio Neves, o preferido desses investidores por motivos um tanto óbvios (ao menos para quem é da área e entende de economia).

Rodrigo Constantino

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]