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Quando Arnaldo Jabor não fala de política americana, mas sim dos esquerdistas toscos no Brasil, ele costuma produzir ótimas colunas. Foi o caso hoje, quando descreveu o tal “militante imaginário”. Todos nós conhecemos um monte deles. E quais seriam suas características? Com a palavra, Jabor:

O “militante imaginário” é o sujeito que se acha revolucionário, mas nunca fez nada pelo povo. Chamemo-lo de MI. É-se militante imaginário como se é Flamengo ou Corinthians. 

A mente de um MI é um sarapatel de leninismo vulgar, socialismo populista, subperonismo, vagos ecos getulistas e um desenvolvimentismo tosco.

Eles gostam de ser militantes porque é bonito ser de uma vaga esquerda enobrecedora; ela abriga, como uma igreja, muitos tipos de oportunismo ideológico. São professores universitários, intelectuais sem assunto, jovens sem cultura política e até mesmo os black blocs que já são tolerados e viraram uma espécie de “guarda revolucionária” dos militantes.

O MI é um revolucionário que não gosta de acordar cedo. É muito chato ir para porta de fábrica panfletar.

Os MIs odeiam a complexidade da realidade brasileira, porque eles aspiram a um absoluto social num mundo relativo; eles querem um Brasil decifrado por três ou quatro slogans.

A grande paixão do MI é a certeza. “Dúvida” é coisa de burguês reacionário, frescura social-democrata ou neoliberal. O MI só pensa no futuro; odeia o presente com suas complicações, idas e vindas. O militante odeia meios; só tem fins.

O MI perde o poder, mas não perde a pose e a fé. A cada uma de suas frequentes derrotas, mais brilha sua solidão de “vítima” do capitalismo. Aliás, ser “contra” o capitalismo justifica tudo e garante uma respeitabilidade reflexiva. E hoje, como o comunismo está inviável, os MIs lutam pela avacalhação do que já existe, pois não têm nada para botar no lugar.

Hoje eles estão pululando e gritando “Fora Temer”; até sem saber por quê.

Não importa se dilmistas e petistas tenham arrasado o país, jogando-o na maior depressão da história; o que importa para os MIs é que, mesmo arrebentando tudo, eles portavam a bandeira mágica da revolução imaginária que tudo justifica. Espanta-me a frivolidade desses protestos abstratos. Os MIs não se permitem nem alguns meses da esperança de que se consertem as contas públicas; destruíram-nas e não deixam consertá-las.

Ultimamente, os MIs andam eufóricos — não precisam mais governar e outras chateações administrativas. Agora, estão na doce condição de vítimas. E por aí vão, se enganando, se sentindo maravilhosos guerreiros com “boa consciência”, enquanto contribuem para a paralisia brasileira. É isso aí…

Ficou mais fácil identificar o tipo pelas ruas e redes sociais, não é mesmo? O sujeito não estuda nada, não tem cultura, não precisa lidar com a realidade, apresentar propostas concretas ou justificar erros passados, nada disso! Basta ele gritar alguns slogans e pronto: já se sente a alma mais revolucionária e abnegada do planeta, alguém que efetivamente vive para os mais pobres, para o “povo”, essa abstração deliciosa.

E mais uma cerveja, garçom, que ninguém é de ferro.

Rodrigo Constantino

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