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O ódio à Globo. Ou: O impasse das facas Ginsu e das meias Vivarina
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Escrevi ontem um texto sobre a lamentável cena em “Amor à vida”, quando Natasha indica a Thales um “ótimo” livro sobre Che Guevara, para se conhecer melhor a vida do guerrilheiro. Detalhe: a bela moça usava uma camisola com estrelas. Ao menos não eram vermelhas…

Tenho implicância com muitas novelas, pelo valor um tanto distorcido que passam. Estou para ver um empresário rico, bem-sucedido, e legal, boa pessoa, bom pai, bom marido. Isso simplesmente non ecziste! Também gostaria de ver menos discursos politicamente corretos, chatos e sensacionalistas.

Mas responsabilizo mais os autores do que a TV Globo em si, que está no negócio de entretenimento, e culpo o público também, que demanda esse tipo de coisa (caso contrário, creio que não haveria mais audiência). Por isso, e após ver uma chuva de ataques direcionados ao canal em vez de ao autor, resgato um texto antigo do meu velho blog sobre o assunto.

O ódio à Globo 

“O mesmo sujeito que diz que a Globo manda no Brasil tem certeza de que ela é contra o partido do governo que está no terceiro mandato presidencial consecutivo; vai entender.” (Alexandre Borges, diretor do Instituto Liberal)

Não tenho procuração para defender a Rede Globo, até porque ela não precisa disso. Tampouco o fato de eu ser colaborador quinzenal do jornal O Globo impediria uma análise imparcial: felizmente, eu não dependo da módica quantia – padrão do mercado – que um artigo recebe para sobreviver. 

Portanto, considero-me bastante isento para julgar. Eu praticamente não vejo televisão (alguns perguntam como encontro tempo para ler tanto, e eis a resposta). Quando vejo, confesso não gostar muito do conteúdo. Sim, as novelas possuem um padrão elevado de qualidade de produção. Mas a mensagem quase sempre bate de frente com os meus valores (já notaram que quase todo empresário é canalha ou infeliz?). Eu prefiro, como diversão, filmes.

Por isso acho curioso o verdadeiro ódio patológico que a TV Globo desperta na esquerda radical (que, com certeza, deve ser espectadora com freqüência muito maior do que a minha de seus programas). A Globo, para essa gente jurássica, tornou-se o ícone do Satã capitalista, que engana as massas e controla o país. 

A frase da epígrafe, de meu amigo Alexandre, expõe com clareza essa contradição: eles acusam a Globo de possuir um poder quase onipotente sobre as mentes dos brasileiros, mas logo depois acusam a mesma Globo de fazer parte da tal “mídia golpista”. Cara-pálida, as facas Ginsu conseguem ou não cortar as meias Vivarina? Para quem não tem idade suficiente ou boa memória, as facas Ginsu cortavam “tudo” nos comerciais, e as meias Vivarina não rasgavam por “nada” nos comerciais. Eis o impasse…

Ou a Globo é tão poderosa quanto dizem e não tem nada de golpista contra o PT, que está no poder há mais de década, ou ela não tem tanto poder quanto afirmam. Não dá para ser A e Não-A ao mesmo tempo. Questão de lógica elementar. Mas vai falar em Aristóteles com essa turma, leitora de orelha de panfletos marxistas…

Ironicamente, não é só da esquerda jurássica que vem esse ódio todo à Globo; ele vem de ala da direita também. Tem a turma “de cá” que, preservando ao menos a lógica, parte da premissa meio conspiratória de que a Globo tem esse poder incalculável que dizem, e que ela é governista, ou seja, defende o PT.

Já eu, cá em minha solidão, prefiro crer que a Globo tem bastante poder de influência, especialmente cultural e no longo prazo, mas que ele é bem menor do que o alegado (recomendo “A Nascente”, de Ayn Rand, onde o controlador do sindicato, Toohey, exercia mais poder que o proprietário do jornal), e que ela não é petista nem anti-petista. 

A Globo abriga valores e interesses conflitantes, tem que jogar o jogo do poder (até porque concessão, nesse país, vem do estado), mas não toma claro partido nem de um lado, nem do outro (como toda mídia mainstream, há um viés esquerdista, mas isso se deve mais ao perfil do staff mesmo – recomendo Bias, de Bernard Goldberg).

E quanto ao conteúdo condenável, eu prefiro apontar para o verdadeiro culpado: o nem tão respeitável público! É que algo me diz que, se em horário nobre, a Globo resolvesse passar um documentário sobre a importância do pensamento político e filosófico de Isaiah Berlin em vez de Big Brother Brasil, o espectador iria trocar de canal, com seu poderoso – esse sim! – controle remoto. 

Vamos odiar menos a Globo, e mais a baixa cultura de nosso povo. Vamos atacar menos o mensageiro, e escutar melhor a mensagem. Que tal? 

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