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O orgasmo da esquerda caviar com a desgraça grega
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Capa Esquerda Caviar Portugal

Como já comuniquei aqui, meu livro Esquerda Caviar ganhará uma edição portuguesa nos próximos meses. Tive a honra de ter um prefácio brilhante (já li, mas é supresa) escrito pela pena do genial João Pereira Coutinho, e a orelha escrita por meu amigo Bruno Garschagen. Este, que acompanha mais de perto as notícias lusitanas, pois viveu em Portugal, mandou-me hoje esse excelente texto de Miguel Angel Belloso, publicado no Diário de Notícias, caderno de opinião.

O autor vai direto ao ponto, sem rodeios, e mostra profundo desprezo pelos “intelectuais” progressistas em relação ao desenrolar político na Grécia. O uso do termo “esquerda caviar” já no título mostra como terei importantes aliados por lá, nessa luta contra a hipocrisia e alienação dos socialistas das elites, esses “pensadores” que flertam com o radicalismo irresponsável e populista só como pretexto para atacar o capitalismo, que adoram odiar (desde que possam continuar usufruindo de suas benesses, claro).

Seguem alguns trechos do ótimo desabafo de Miguel:

Hoje escrevo verdadeiramente comovido. Os intelectuais “progressistas” – a esquerda caviar – recuperaram as ilusões com a vitória do Syriza na Grécia. Parece uma criança com sapatos novos. Acredita que está aberto o caminho para uma era dominada pelo regresso da política, ali onde governava a ditadura obscena dos mercados. A mim, esta espécie de orgasmo parece-me cómica, ainda que tenha uma certa explicação. Os intelectuais do regime politicamente correto andam desorientados há décadas. Pensaram que com a crise do Lehman Brothers, e a dura recessão que se lhe seguiu, tinha chegado novamente a hora deles. Que o capitalismo tinha fracassado tanto como o comunismo. Mas sentiram-se de novo atraiçoados e confusos. Quando a oportunidade de se afirmarem estava ao alcance da mão, acontece que em França os socialistas Hollande e Valls estão a pôr em marcha políticas para reduzir a despesa pública, diminuir impostos e liberalizar a economia, eliminando privilégios e fomentando a concorrência. E que em Itália, o socialista Renzi está a empreender uma reforma laboral que pretende liquidar as sinecuras dos sindicatos apesar dos protestos. Nesta situação, estes rapazes tão espertos, que viveram toda a vida como deuses, tomando champanhe com morangos ao pequeno-almoço à custa de manterem sequestrado o espírito dos mais pobres e desfavorecidos, perguntam-se: o que nos resta? O que poderemos esperar? Onde iremos chegar se a grande França, pátria do acolhimento e dos direitos sociais, se propõe diminui-los, ou na Itália herdeira da eterna Roma governa um socialista heterodoxo?

[…]

Não há que ter piedade com os extremismos, que optam sempre por políticas económicas erradas e levam à ruína os países onde têm possibilidade de governar. Como a boa vida que a esquerda caviar sempre desfrutou acaba por deteriorar os neurónios e promover o pensamento frouxo, os “progressistas” pensam que o Syriza levará a cabo o milagre e reconverterá com êxito a social–democracia. Estão enganados. As usual. O partido de Tsipras tem pouco que ver com a esquerda convencional, que sempre tratou de tornar compatível os seus devaneios com a despesa social, e o seu afã redistributivo como a manutenção dos equilíbrios financeiros. Tsipras sente uma desconfiança natural da economia de mercado e é puramente estatista. Não há nada de bom a esperar dele, salvo que baixe as calças. E de momento não está disposto a isso.

[…]

A esquerda tem a ideia estúpida de que, aumentando artificialmente a capacidade aquisitiva dos cidadãos, a procura sobe e um país volta a crescer e a gerar emprego. Mas num mundo globalizado, as pessoas dos Estados livres e democráticos têm a capacidade de escolher. Não são obrigadas a comprar os produtos nacionais, pode acontecer, portanto, como tantas vezes sucedeu em Espanha, que o aumento do poder de compra sirva para enriquecer os países que ofereçam os produtos de melhor qualidade ao melhor preço, que é o santo-e-senha do capitalismo. Os intelectuais rive gauche têm como aliado dos seus absurdos postulados o prémio Nobel Paul Krugman, que há já tempo perdeu a cabeça em defesa das esquerdas americana e europeia. Mas trata-se de um aliado frágil. Nos EUA, o país mais flexível e inovador do mundo, a oferta é imensa e capaz de satisfazer qualquer aumento de procura, o que não aconteceu até agora em Espanha e, desde logo, está longe de acontecer na Grécia, muito menos sob as políticas anunciadas por Tsipras.

[…]

Estão a ver, portanto, que não sinto nenhuma compaixão pelos gregos. Escolheram o pior e terão de pagar as consequências. Mas pelos intelectuais de esquerda que lhes deram alento e que continuam a dar-lhes ânimo a caminho do precipício, ou pelos que em Espanha convidam a imitar a experiência votando no Podemos, sinto repulsa, porque dedicaram-se a vida toda a difundir arengas erradas sem jamais arriscar o que quer que fosse.

O que mais comentar? A esquerda caviar é igual no Brasil e em Portugal, nos Estados Unidos e na França. Trata-se de uma turma que vibra quando um povo caminha na direção do abismo, tudo para poder atacar o maldito capitalismo. Quantas pessoas a mais terão de sofrer as consequências nefastas do socialismo até que esses “intelectuais” abandonem suas receitas estúpidas?

Rodrigo Constantino

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