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O Rio, assim como o Brasil, precisa de críticas construtivas
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Brasil: ame-o ou deixe-o! A mensagem ufanista era dos tempos do regime militar, mas hoje parece que a esquerda nacionalista foi quem assumiu postura similar. Se criticamos nossa cidade, estado ou país, então é porque não devemos permanecer neles. Os incomodados que se mudem. E toda crítica é recebida com profunda dor de quem não tem confiança nas reais qualidades de seu país, tendo de adotar o autoengano como mecanismo de proteção. É a famosa dissonância cognitiva.

Lucas Berlanza, que foi do Instituto Liberal, escreveu em seu blog um texto equilibrado sobre o assunto, tendo como pano de fundo as trocas de “farpas” em artigos de jornais sobre amar ou odiar o Rio, em evidência maior pela Olimpíada e por despertar esse tipo de sentimento binário. O que vale para o Rio vale para o Brasil, mas tudo parece amplificado na “cidade maravilhosa”. O ufanismo e o desprezo encontram nele um prato cheio. Diz Berlanza, procurando um meio termo:

“Falar mal” é um caminho fundamental para se desejar chegar à solução dos problemas.

Não, porém, “falar mal” com intenção destrutiva e contraproducente; não atacar por atacar. A crítica nos faz crescer. Aqui eu já tendo a compreender um pouco a situação de Mônica e Greg – não só em relação ao Rio, como em relação ao Brasil como um todo. Tendo a rejeitar posturas iconoclastas em política, que sustentam ser a construção de imagens e símbolos, de referências no ideal – sem que se tornem a “ditadura do abstrato”, que desemboca na “doutrina armada” de que falava Edmund Burke -, uma ingenuidade ou um erro. Essas imagens e símbolos despertam paixões, e a paixão, se for dosada pelo homem como se doma um corcel, o estimula a lutar pelo que acredita.

Não devemos ter vergonha de ser cariocas ou de ser brasileiros; se queremos sustentar a crença na Cidade Maravilhosa, é preciso tirar a bunda da cadeira e lutar para que ela seja mais do que um slogan. Se queremos um PAÍS melhor, não o conseguiremos, a meu ver, desprezando-o e chutando-o como a um cachorro morto. Não é o melhor, não está nem entre os mais avançados, mas o Brasil é o meu país, e o Rio, a minha cidade; eu faço parte dessa gente, tenho o sotaque deles, vivo no clima deles, tenho maneirismos e trejeitos deles, em alguma medida. Não adianta viver a delirar com uma cultura rigorosamente anglo-saxã se não é isso que somos.

Mas podemos ser mais. E para sermos mais, precisamos FALAR MAL, SIM! Falar mal do que está errado. Denunciar o enfeite, a falsidade, o engano. Denunciar a maquiagem e a fantasia que depositarão sobre as nossas mazelas e sobre o nosso desastre financeiro por ocasião das Olimpíadas para exibir um lindo espetáculo para o mundo, estabelecendo faixas especiais de trânsito para delegações e grupos envolvidos nos jogos, enquanto nós, quando as luzes se apagarem, permaneceremos no escuro, como cidadãos de segunda classe. Cidadãos que, mais do que nunca, temem respirar ar fresco e não retornar para casa.

Acredito no amor, mas ele não pode ser cego. Ao menos, não tão cego. Se for, ele nos matará.

Lucas, que é o típico carioca em certos sentidos (ama samba, por exemplo), não quer simplesmente virar as costas para nossa cultura e implantar uma diferente, inspirada nos anglo-saxãos, como se fôssemos tabula rasa. Procura aproveitar o que nos faz brasileiros ou cariocas, mas sem deixar de lado o que há de ruim nisso. Está em busca de críticas construtivas, e não apenas de alimentar o complexo de vira-latas, também tão típico do brasileiro.

É mais ou menos o que me proponho a fazer em Brasileiro é Otário? – O Alto Custo da Nossa Malandragem, que lanço essa semana no Rio e na próxima em São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre. Faço duras críticas ao jeitinho brasileiro, à malandragem carioca, e mostro com muitos dados e exemplos o que perdemos com isso, como o tiro saiu pela culatra. Mas evito o outro extremo, aquele que só mete o pau no país, que não enxerga nada de positivo nele, e que adota discurso fatalista de que o Brasil “nunca terá jeito”, pois seu problema é o povo.

Brasileiro é otário - capa

Não é um destino inexorável ser esculhambado, tão corrupto, violento, pobre. E nem tudo no Brasil é uma porcaria. Sou menos apegado à nossa cultura do que o Lucas, pois não sou muito fã de samba, futebol ou novelas. Tenho mais apreço pela cultura anglo-saxônica, mas nem por isso deixo de ver vantagens no estilo carioca ou brasileiro. O problema é a dosagem, o excesso. Será que é possível jogar fora a água suja e preservar o bebê?

Convido todos para o lançamento do meu livro, para esse bate-papo e essa reflexão fundamental, se quisermos avançar, progredir. Tomar toda crítica dura como coisa de inimigo é infantilidade. Fechar os olhos para os reais problemas é o caminho certo de jamais superá-los. Tocar nas feridas é preciso. E faço isso com meu estilo de sempre, de forma direta, algumas vezes engraçada, mas sempre focando nos fatos e argumentos.

Após a leitura, espero que seja mais fácil julgar a pergunta do título. Aquele que se fecha para qualquer crítica construtiva pois acha que já vive no melhor dos mundos, num paraíso tropical, pode até se achar muito malandro, mas sem dúvida não passa de um orário.

Rodrigo Constantino

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