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A ONU e a Arábia Saudita: qual a diferença entre tolerância e cumplicidade?
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Por João Luiz Mauad, publicado pelo Instituto Liberal

Leio num jornal português que “O Comitê para a Promoção da Virtude e para a Prevenção do Vício na Arábia Saudita defendeu hoje (18/07) que a jovem saudita que divulgou na Internet um vídeo em que usa na rua “roupa indecente” deve ser julgada. Num comunicado, a instituição, que tem como missão supervisionar e aplicar os rígidos padrões morais sauditas, informou que “enviou às autoridades competentes o caso da jovem que passeava pela zona histórica de Ashkir”, cidade localizada a cerca de 200 quilômetros a noroeste da capital saudita, Riade.”

Praticamente todo mundo se revolta com os crimes bárbaros e os assassinatos em massa cometidos por islamitas radicais. No entanto, certas práticas muçulmanas muito condenáveis, como o exemplo acima, são vistos como “toleráveis” pelo Ocidente. Tão toleráveis que, recentemente, a ONU empossou a Arábia Saudita na sua Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, provavelmente numa tentativa de reafirmar ao mundo a sua crença no multiculturalismo. Ora, esse tipo de “tolerância” é absurdo. Na verdade, a ONU está sendo complacente – e até conivente – com os crimes contra os direitos da mulher praticados na Arábia Saudita e outros países islâmicos.

Como escrevi alhures, tolerância significa “convívio com as diferenças”. É importante sublinhar que, para haver tolerância, é preciso, antes, divergir ou desgostar. A virtude da tolerância está relacionada, portanto, com a diversidade de opinião e de crença. John Locke, em sua famosa Carta Sobre a Tolerância dizia que “não é a diversidade de opiniões (o que não pode ser evitado), mas a recusa da tolerância para com os que têm opinião diversa, que deu origem à maioria das disputas e guerras que se tem manifestado no âmbito das religiões”. De fato, é no âmbito das religiões que costuma manifestar-se mais agudamente a intolerância, se bem que, mais recentemente, ela tem estado muito presente no campo das idéias políticas e econômicas.

O mais importante, entretanto, é que a tolerância só pode ter por objeto pessoas, crenças ou ideias, nunca ações ou atitudes. Tolerância frente a ações delituosas ou desrespeitosas transforma-se em cumplicidade, passividade ou acomodação.

Portanto, a noção de tolerância não é aplicável aos violadores de direitos fundamentais. Se um homem bate na sua esposa, não faz sentido dizer que devemos ser tolerantes com ele. Quando um governo proíbe as mulheres de dirigir carros ou usar a roupa que bem entendem, é ainda mais ridículo sugerir que devemos ser tolerantes com os mandantes de tal aberração. Quando um tribunal ordena uma sentença de morte porque alguém abandonou a religião ou andou pelas ruas de mini-saia, parece igualmente perverso dizer que devemos ser tolerantes com ele.

Talvez haja razões pelas quais muitas vezes não devemos interferir, mas certamente é bizarro ignorar tais práticas e, ainda por cima, nomear um país que as pratica para uma comissão internacional de defesa da mulher. Aqueles mandatários que evitam criticar essas aberrações com medo de serem chamados de islamofóbicos cometem um erro grave: eles se apoiam na ideia correta de que devemos ser tolerantes com diferentes religiões para, num salto lógico absurdo, defender a ideia incorreta de que, em nome de um pretenso multiculturalismo, também devemos tolerar qualquer coisa que seja feita em nome de uma religião. As críticas e o saudável repúdio a essas práticas não são sinal de intolerância ao Islã. Elas simplesmente apontam que há certas atitudes que são intoleráveis, especialmente quando ferem direitos individuais básicos, mesmo que sejam feitas em nome de uma religião.

Shame on you, ONU!

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