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Os solipsistas não acreditam na realidade objetiva. Para eles, tudo é uma questão de sensação, de pensamento interno. Os petistas, de forma bem menos sofisticada, parecem adeptos de um solipsismo tupiniquim. Para eles, não há nada parecido com um fato, a realidade independente de nossas crenças e desejos ou um conhecimento objetivo. Se eles acreditarem que o mundo é cor de rosa, rosado ele será!

Foi assim que um conto de fadas (e bruxas) foi usado na campanha eleitoral de 2014. O PT sempre deu um papel de maior relevância para seu marqueteiro, algo similar ao que fez Hitler com Goebbels, já que uma mentira, contada mil vezes, torna-se uma “verdade”. O importante é o próprio PT “acreditar” na mentira, pois assim se torna mais convincente.

Com base nessa mentalidade, Dilma, forçada a aceitar parcialmente a dura realidade após o pleito do estelionato eleitoral, chamou um economista com doutorado em Chicago para sua equipe. Mas eis o detalhe: Levy não estava lá para efetivamente cortar os gastos reais e tentar colocar a casa em ordem. Não! Isso seria algo muito realista para os solipsistas.

O lance, como cansei de falar aqui, era uma vez mais as aparências, apenas as aparências. Levy traria a confiança do mercado. Os petistas achavam que bastava colocar o homem lá, como uma espécie de rainha da Inglaterra, para ludibriar os trouxas dos investidores. “Viram só? Temos um ortodoxo no comando da economia agora”, diriam os petistas. Tudo para inglês ver, já que o show (de horrores) continuava sob a liderança de Dilma.

Pois bem: o solipsista pode fingir que a realidade objetiva não existe pelo tempo que quiser, mas não pode impedir os efeitos dela. Um solipsista pode, por exemplo, repetir ad nauseam que aquele vulcão que expele lava quente não existe de fato, que é tudo fruto de sua imaginação, e que se ao menos ele pensar que está em outro lugar, ou que a lava não é lava, mas doce de leite, tudo ficará bem. O resultado? Um solipsista derretido pela lava do vulcão.

A crise não existe, ela é internacional, estamos numa travessia, tudo ficará bem depois, estamos “cortando” gastos do orçamento inflado, “acabamos” com as “pedaladas fiscais”, colocamos até um ortodoxo no “comando” da economia: os petistas podem repetir essas mentiras o quanto quiserem, elas não vão alterar a realidade. E o rebaixamento pela S&P foi para lembrá-los disso. Como escreveu Merval Pereira em sua coluna de hoje:

A maior demonstração de que o Governo não tem um projeto realístico para sair da crise é a verdadeira algaravia em torno das soluções, sem que exista alguém para arbitrar nem um conjunto coerente de medidas que deem a sensação de que temos saída.

Durante a campanha eleitoral, a presidente Dilma recusou-se a apresentar um programa para o segundo mandato que pretendia nas urnas, pois, afirmou, não seria um novo mandato, mas a continuação do primeiro e, portanto, não haveria novidades, apenas tocar em frente os programas existentes.

Provavelmente por isso foi reeleita, pois através de uma falsa propaganda, prometia um mundo que já havia acabado há muito tempo, mas cujas conseqüências não haviam chegado ainda aos bolsos dos cidadãos.

Iniciado o segundo mandato, já sabíamos que o ambiente econômico era completamente diferente daquele apresentado pela candidata Dilma, e que medidas “amargas” teriam que ser tomadas, justamente ao contrário do que ela dizia.

Chamar um economista da escola de Chicago, conhecido pelo dom de saber cortar custos, não poderia ser a única solução mágica para uma “travessia” tão tumultuada como a que se avizinhava.

O tal programa de governo que não apareceu na campanha eleitoral teria que surgir agora, incorporando os tais “remédios amargos”, mas também, medidas estruturais que permitissem ver uma luz no fim do túnel. E as medidas estruturais seriam necessariamente muito mais profundas do que simplesmente aumentar impostos ou apresentar reformas fundamentais como a da Previdência ou trabalhista.

Reformas estruturais, corte sério nos gastos públicos, plano de governo, projeto para sair da crise, isso tudo é coisa de quem acredita na realidade objetiva, não de solipsistas. Manter o economista de Chicago no ministério da Fazenda nunca passou de um engodo, de uma farsa para inglês ver, de um truque de quem achava que basta simular algo para mudar o futuro.

A farsa acabou. Os solipsistas já sentem o calor da lava no cangote, e por mais que neguem a realidade, que repitam para si mesmos que aquele bafo quente também é imaginário, fruto do seu pensamento, a negação não vai mudar a realidade. O problema, claro, é que esses solipsistas irresponsáveis arrastaram toda a nação para a beirada do vulcão, e agora será o país todo chamuscado. É o que dá negar a realidade por tempo demais…

Rodrigo Constantino

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