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Os tucanos fazem uma oposição irresponsável? Ou: O PSDB deveria apoiar o ajuste fiscal do governo?
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A postura do PSDB em relação ao ajuste fiscal do governo Dilma, liderado por Joaquim Levy, parece incoerente ou mesmo irresponsável à primeira vista. O partido não sabia que seria necessário fazer um ajuste fiscal? Levy não era próximo dos economistas tucanos e estava cotado até mesmo para fazer parte da equipe caso Aécio Neves vencesse?

Sim e sim, e por isso mesmo o PSDB tem sido alvo de várias críticas, como se tivesse incorporado a postura do velho PT, que fazia oposição por oposição, pensando apenas no poder, nunca no país. Uma oposição responsável é o que o Brasil precisa, e os tucanos estariam colocando seus interesses acima dos do país, adotando a velha máxima de quanto pior, melhor.

Em sua coluna de hoje, Denis Rosenfield afirma exatamente isso, sem rodeios. O professor de filosofia diz ainda que é o PMDB, pasmem!, que está assumindo uma postura mais responsável, em prol do país, ao lutar pelos ajustes, até mesmo contra o PT, que faz um jogo duplo e age como se fosse oposição ao próprio governo. Diz Rosenfield:

A esquizofrenia partidária, neste contexto, só tende a aumentar. Sua expressão mais manifesta consiste na oposição que o PT faz a seu próprio governo, tendo chegado, inclusive, inicialmente, a rejeitar demagogicamente as medidas do ajuste fiscal, condição mesma para que o país saia de seu atual atoleiro. Comporta-se como se o governo não fosse seu, como se essas medidas fossem coisas apenas do ministro Joaquim Levy, um “neoliberal”. Note-se que “neoliberal” significa, no atual contexto, a qualificação de uma política que tem como objetivo colocar as contas em dia. Ser neoliberal significa tão somente ser responsável. A esquerda perdeu o discurso.

O PSDB, que deveria ser o partido líder da oposição, não faz melhor figura. Adotou a atitude do PT de antanho, vindo a criticar as medidas de ajuste fiscal como se essas fossem prejudiciais ao país. Ora, essas medidas seriam muito parecidas com as que Aécio Neves viria a implementar caso tivesse sido eleito. É bem verdade que as medidas seriam mais abrangentes e teriam também um forte componente de crescimento. Em qualquer caso, um ajuste fiscal deveria ser feito. Neste sentido, os tucanos são contraditórios consigo mesmos, vindo a renegar o que eles mesmos defendiam na disputa eleitoral. Exercem uma oposição irresponsável, apostando também no fracasso. Acontece que um fracasso das atuais medidas econômicas, mais do que uma disputa partidária, mostrar-se-ia extremamente daninho para o país. É como se os partidos brasileiros não tivessem a menor noção do significado de “oposição responsável”, voltada para o bem coletivo. Cada um olha apenas o seu próprio umbigo!

O PMDB, apesar de seus conflitos internos e a voracidade fisiológica de boa parte dos seus membros, está se saindo melhor do que os seus partidos concorrentes.

Não discordo, mas faço ressalvas. Acho que um ajuste fiscal é obviamente necessário, e que o PT assume uma postura esquizofrênica, de condenar o que seu próprio ministro propõe, por ser um “neoliberal”. Mas não acho justo dizer que esse ajuste seria similar ao proposto pela equipe de Aécio Neves, e que, portanto, o PSDB deve apoiá-lo em nome do país.

Levy propõe corte de gastos, é verdade, mas de forma muito tímida. Seu ajuste ainda é muito calcado em aumento de impostos. O governo não decidiu cortar um só dos quase 40 ministérios! A campanha tucana, não custa lembrar, falava em reduzir pela metade a quantidade de ministérios.

Segundo reportagem do GLOBO, o ministro Joaquim Levy teria defendido mais aumento de impostos ainda em reunião com a presidente Dilma, caso as despesas não sejam cortadas com maior vigor. Levy já teria ameaçado até com impostos sobre herança e dividendos, uma bandeira claramente de esquerda e prejudicial ao país.

Será que o PSDB deve, então, apoiar cegamente o ajuste fiscal de Dilma só porque é necessário fazer “algum” ajuste? Não deveria a oposição que pensa no país a longo prazo insistir para que o ajuste aprovado fosse voltado quase todo para o corte dos gastos públicos e as reformas estruturais? Até que ponto votar em mais impostos é ser responsável?

Não são questões triviais, pois sem o ajuste fiscal, mesmo esse proposto pelo governo Dilma, o Brasil sem dúvida vai afundar em uma crise ainda mais grave, podendo perder o grau de investimento e sofrer uma fuga de capitais. Mas se o ótimo é inimigo do bom, o medíocre também pode ser inimigo do aceitável.

Não acho que os tucanos têm votado contra o governo por convicção ideológica ou foco no longo prazo, o que dá legitimidade aos seus críticos. O partido parece estar de olho nos seus interesses partidários apenas, e isso não é nada nobre. Mas se as intenções não são as melhores, o resultado pode acabar sendo o mesmo: está na hora de dizer “basta!” para ajustes fiscais que significam mais impostos ainda para os brasileiros. Não aguentamos mais!

Que Brasília dê o exemplo, cortando na carne. Que o governo acabe com vários ministérios inúteis, que venda estatais usadas como cabides de emprego ou fontes de recursos partidários, que corte o cordão umbilical com ONGs e “movimentos sociais” igualmente partidários, que termine com diversas regalias dos políticos, etc. Aí sim, a oposição seria muito irresponsável se ficasse contra só para torcer pelo quanto pior, melhor.

Mas votar contra aumento de impostos? Isso não é irresponsabilidade. Irresponsável é defender aumento da carga tributária num país como o Brasil, que já possui uma em patamar escandinavo, apesar dos serviços africanos em troca…

PS: Mansueto Almeida, especialista em contas públicas e ligado aos tucanos, publicou hoje mesmo um texto em que se diz pessimista com o ajuste fiscal atual, pois será muito dependente de aumento de impostos:

O que estamos fazendo é um ajuste muito baseado no corte do investimento público e que, dado o tamanho do esforço fiscal que teremos que fazer em quatro anos, algo superior a 3 pontos do PIB, desconfio que a maior parte desse “ajuste” virá de um aumento da carga tributária. […]  Tem-se a impressão que os ministros e presidente ainda não sabem exatamente o que fazer. Vamos torcer para que isso passe logo e que o governo consiga mostrar um plano coerente de ajuste fiscal e de crescimento. Mas, por enquanto, e ao contrário do mercado, continuo com mesmo pessimismo de três meses atrás.

Rodrigo Constantino

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