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Fonte: Folha
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Quem acompanhava meu blog desde os tempos da VEJA sabe que não nutro simpatia pela ministra Kátia Abreu. Ao contrário: a decepção com ela é enorme, pois ela tinha tudo para carregar a tocha liberal na política brasileira, como uma espécie de Thatcher tupiniquim. Suas colunas na Folha eram excelentes, combatendo o MST, o intervencionismo estatal, e defendendo o livre mercado. Mas isso parece ter sido há séculos. Depois ela passou a paparicar Dilma, colocou até boné do MST, e começou a me xingar de forma um tanto destemperada.

Não importa. Sei deixar o lado pessoal de lado e focar no conteúdo. Na entrevista que ela concedeu à Folha hoje, Kátia Abreu demonstra ainda ter o lado bom dentro dela. Tem o dia de Dr. Jekyll, e o dia de Mr. Hyde, como costuma acontecer com Delfim Netto também. Uma no cravo, outra na ferradura. E hoje foi dia de Kátia Abreu resgatar seu espírito liberal para combater um poderoso inimigo do Brasil: o protecionismo comercial, filhote de uma ideologia nacionalista que atinge tanto a esquerda como a direita, num relacionamento promíscuo com grupos organizados de interesse. Diz ela:

Qual é o grande entrave para esses acordos?

Mercosul. Quando falo Mercosul, estou incluindo o Brasil. Esses quatro países [Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai] precisam se acertar. O agro não tem problema.

No Brasil, o que trava esses acordos e como resolvê-lo?

Alguns setores da indústria, que são protegidos há décadas, acabam atrapalhando setores que já viveram em mais dificuldades, com menos subvenção, e que foram atrás da inovação e da tecnologia e venceram.

Você já ouviu falar de filho de 40 anos que recebe mesada do pai dar certo? No comércio é igual: não pode receber mesada de pai a vida inteira. Não pode ter proteção.

A senhora está dizendo que alguns setores não podem ter medo de abertura para disputarmos novos mercados?

Nós [do agronegócio] não temos medo.

Quem for mais competitivo, que ocupe o mercado.

É. O que dói em Francisco dói em Chico. Somos competitivos, mas temos setores complicados no Brasil: por exemplo, o do leite. Qual é a nossa estratégia para melhorar a performance do leite? É abrir mercado, exportar o leite, porque, na hora em que exportar, a importação não vai fazer mal.

[…]

Dizem que para uns viverem outros têm que morrer. Quando você abre um mercado, é claro que uns adoecem e outros falecem, mas é o jogo. E a quantidade dos que vão viver? Não tenha dúvida que é muito maior.

Eis uma mensagem totalmente liberal! Mas fica a dúvida: se Kátia Abreu ainda pensa assim, como pode defender o governo Dilma? Reclama do Mercosul, mas quem foi que ideologizou completamente o Mercosul, transformando o Brasil em rabo de sardinha e nos fazendo perder a onda da globalização moderna? Quem foi que adotou medidas protecionistas e concedeu subsídios na seleção dos “campeões nacionais”? Quem defende o MST, que representa clara ameaça aos produtores rurais que Kátia Abreu diz representar?

Ora, não faz o menor sentido pregar essas bandeiras liberais contra o protecionismo e continuar como ministra de um governo claramente contrário a essas mudanças! É como o outro “liberal” Guilherme Afif Domingos, que pensou ser possível fazer pacto com o Diabo e adotar reformas microeconômicas para desburocratizar nossa economia em pleno governo petista, o defensor por excelência da burocracia inchada e poderosa.

Essa gente acha mesmo ser viável fazer o Capeta se transformar em bom samaritano? Ou apenas joga para a plateia, tentando preservar a aura de liberal enquanto dorme com o inimigo? Se você leva a sério essas palavras, ministra, sai logo daí, abandona esse governo socialista fracassado e passa a fazer oposição em nome da liberdade! Do contrário, será apenas um discurso hipócrita ou ingênuo…

Rodrigo Constantino

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