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O engenheiro Pedro Parente aceitou o convite do presidente interino, Michel Temer, para ser o novo presidente da Petrobras, em substituição a Aldemir Bendine. Em sua primeira entrevista, após encontro com o presidente interino, Michel Temer, no Palácio do Planalto, no qual definiu sua ida para a estatal, Parente afirmou que não acatará indicações políticas para a diretoria. E que esta é uma das orientações passadas a ele por Michel Temer. Como presidente da empresa, o executivo disse que poderá admitir ou demitir diretores.

— Não haverá indicação política na Petrobras. Isso faz parte da orientação que o presidente Temer me passou. Vai facilitar muito a vida do Conselho de administração e a minha própria. Na Petrobras os mecanismos de governança vão ter que funcionar como qualquer empresa de grande porte — disse.

Ele sustentou que seu objetivo é acelerar as soluções para a petrolífera. Ele descartou fazer uma nova auditoria na empresa, por conta do escândalo da Lava-Jato. E disse ainda estar “consciente das dificuldades” que terá à frente.

— Estou decidido a enfrentar, entrar de cabeça, corpo e alma — afirmou Parente, ao lado do ministro Eliseu Padilha (Casa Civil), segundo o qual o governo quer o “retorno” da Petrobras o mais rapidamente possível.

Parente afirmou que foi-se o tempo em que quem toma posse abandona as ações de seus antecessores.Aldemir Bendine ajudará no processo de transição. Ele não quis avançar no assunto, mas disse que soube pela imprensa que a empresa está num processo que aponta para a venda de ativos, sinalizando que não descontinuará esse caminho.

O novo presidente da estatal disse que a empresa terá uma relação com “acionista controlador”, e defendeu uma gestão profissional e comprometida com resultados.

— O presidente Michel Temer, na nossa conversa hoje, mostrou que a relação do governo com a Petrobras é uma relação com acionista controlador. O seu primeiro interesse é o sucesso da empresa — disse Parente, e completou:

— O conselho de administração e a diretoria executiva terão visão absolutamente profissional, voltada aos interesses da empresa e seus acionistas.

Não duvido das intenções de Pedro Parente, um profissional sério, tampouco de sua capacidade. O passo é muito positivo e mostra que Temer está mesmo disposto a consertar muita porcaria deixada pelo governo Dilma. O petrolão, não vamos esquecer, está no epicentro da crise de corrupção endêmica que espantou o país.

O PT não inventou a corrupção na Petrobras, óbvio, mas a escancarou e a levou a um patamar nunca antes visto. O que se roubou ali, e a quantidade de decisões ideológicas e políticas, explica a situação falimentar da empresa, que deve meio trilhão sem ter como pagar.

O desafio de Parente é dar um choque de gestão profissional, reduzir a politicagem dentro da estatal, tentar alinhar os interesses dos acionistas que querem a maximização de valor da companhia. Mas não é um desafio trivial. E eis o xis da questão: o acionista majoritário não tem real interesse nisso.

Os recursos são da “viúva”, e o mecanismo de incentivos não é o mais adequado. Se Parente for bem sucedido em sua missão hercúlea, ele não terá bônus milionário como na iniciativa privada, assim como seus companheiros de gestão. Se a empresa evitar a bancarrota e voltar a ter finanças sólidas, o acionista majoritário terá um ativo mais valioso, que ficará para o próximo governo explorar.

Sabemos que cuidamos melhor daquilo que é nosso. Compare um carro alugado com um próprio, uma casa alugada com a nossa mesma. Vale o mesmo aqui: quando a empresa tem dono, sua gestão tende a ser mais eficiente. Há o escrutínio dos controladores, o foco no longo prazo, na criação de valor ao longo do tempo. Há punição severa para os incompetentes e premiação agressiva para os que criam valor.

Parente vai cortar as mamatas todas? Vai secar as verbas de “patrocínio cultural” que servem apenas para manter artistas engajados? Vai decidir subir o preço quando o mercado internacional assim impor? Vai demitir funcionários preguiçosos e pagar mais para os competentes?

Dificilmente terá a mesma margem de manobra que teria na iniciativa privada. A Petrobras continua, portanto, sujeita às pressões políticas, eleitorais, governamentais. Continua tendo de atender aos “interesses nacionais”, eufemismo para os objetivos do governante em questão. Ela é “do povo”, o que quer dizer, basicamente, de “todos”, i.e., de ninguém.

Não há a mesma flexibilidade, a empresa precisa seguir a Lei 8.666 de licitações, o que, como vimos, não impede que seja estropiada por um cartel de empreiteiras. Se um gerente ou diretor economizar milhões na compra com algum fornecedor, isso não se reverte em bônus para ele, como ocorre no setor privado.

A tentativa de profissionalizar a empresa é louvável e pode surtir bons efeitos sim. Vimos isso na era FHC. Mas também vimos as limitações desse caminho. O avanço encontra um limite no próprio mecanismo de incentivos, e o risco de chegar um governante populista depois e estragar tudo da noite para o dia permanece.

A única solução definitiva é a privatização. Que Parente prepare o caminho, então, para isso, tornando a Petrobras menos ineficiente, com menos ralos de desvio, menos politicagem, para valorizar o ativo novamente, hoje quase destruído. Mas a meta de quem quer o melhor para o país ainda deve ser a privatização da Petrobras.

Rodrigo Constantino

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