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Paternalismo autoritário no Espírito Santo: some o sal da mesa do restaurante!
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Há certas notícias do Brasil que precisamos ler e reler com toda a atenção, checar bem a origem, o site, pois ficamos na dúvida se é brincadeira ou coisa séria. Foi o caso com essa notícia que um leitor me mandou hoje:

Uma lei que vai entrar em vigor no Espírito Santo tem provocado muito debate, e tem a ver com um hábito péssimo para a saúde dos brasileiros. Parece até que faz parte da decoração. Está em todas as mesas. “A gente coloca o sal para a comodidade do cliente”, diz um garçom.

A comodidade incentiva o consumo. “Eu tô com o sal ali, e a picanha que eu pedi está sem sal, o que eu vou fazer? Vou pegar o salzinho, vou abrir e jogar lá, isso é automático”, diz Aparecida Braz, auxiliar de enfermagem.

E assim mesmo quem precisa evitar não consegue: “Meu colesterol está bastante alterado então estou tentando diminuir, mas não é fácil”, conta a bancária Branca Milagres.

Com a intenção de reduzir o consumo de sal, uma lei estadual no Espírito Santo determina que os restaurantes não podem mais deixar sobre as mesas os saleiros e os sachês de sal. Agora, se o cliente quiser colocar mais sal na comida vai ter que chamar o garçom.

“Eu sou a favor da lei. Vai ajudar e muito as pessoas a diminuírem o consumo de sal”, opina a personal trainer Carol França.

Os donos de restaurantes dizem que o Estado não deveria se meter nisso, porque se o cliente quiser comer mais sal, o comerciante tem o direito de deixar produto à mesa.

“Mais uma interferência do Estado nas relações de consumo. Interferência exagerada. E que não vai resolver o problema”, diz o presidente do Sindicato dos Restaurantes e Bares Wilson Calil.

“Só o fato de não poder fumar no restaurante já inibiu o uso do cigarro. Então, agora, a gente espera que iniba o consumo de sal. Só para lembrar, que a gente está usando o sal a mais, o sal de adição. A gente não está tirando o sal da vida das pessoas”, diz Lusanere Cruz.

Já escrevi vários artigos contra a cruzada antitabagista, tendo exatamente isso em mente, e cheguei a perguntar várias vezes: se o objetivo nobre de ajudar o próximo nos dá o direito de impor um comportamento, em nome de sua saúde e da saúde pública, então o que nos impede de parar no cigarro? Por que o governo não poderia impor exercícios físicos, já que o ócio é prejudicial à saúde? Por que não poderia impor uma dieta oficial, controlando o consumo de sal e gordura?

Pois é: chegamos lá! E mais rápido do que o mais pessimista dos liberais poderia esperar. O próximo passo talvez seja colocar os fiscais do governo para verificar se a quantidade de sal usada na comida está “adequada”, segundo o padrão dos ungidos burocratas. Serão os patrulheiros do estômago alheio. O sujeito pode ser esfaqueado na esquina, porque o governo não oferece segurança, pode ser roubado no transporte público, que é caótico, mas não pode exagerar no sal!

Vale notar que boa parte da população tem culpa no cartório. O governo não existe num vácuo, e vivemos numa época em que as pessoas passaram a delegar cada vez mais o poder de decisão ao estado, eximindo-se de responsabilidade. É assim para cuidar dos filhos, impor limites. O governo precisa proteger esses pais covardes até do “cruel” McDonald’s, impedindo que o “lanche feliz” venha com brinquedos, pois não sabem dizer um simples “não” aos seus filhos mimados.

Uma dúvida cruel não sai de minha cabeça: se o “nobre fim” de reduzir a quantidade de sal na comida, que o próprio consumidor não consegue fazer por conta própria, demanda intervenção estatal, o que será dos restaurantes de bufês? Ora, aquela comida toda estendida diante de nossos olhos é uma tentação e tanto. Como podemos permitir que cada indivíduo tenha que se controlar sem a ajuda da mão estatal? Isso é um perigo!

Melhor nem dar ideia. Se eu fosse dono de churrascaria num país como o Brasil hoje, estaria muito preocupado. A insanidade paternalista somada ao autoritarismo dos que se julgam acima do bem e do mal representa uma incrível ameaça às liberdades individuais. São os “fascistas do bem”, incansáveis em suas cruzadas, pois seguros de que as empreendem em benefício do Outro. Mas, como sabia Reagan, “Os governos existem para nos proteger uns contra os outros; o governo vai além de seus limites quando decide proteger-nos de nós mesmos”. Eis um alerta em falta em nosso país…

Rodrigo Constantino

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