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Pode um socialista morar no Leblon?
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Escrevi a sugestão de um esquete para o Porta dos Fundos e recebi uma saraivada de ataques e ofensas, que já rebati aqui, mostrando que a esquerda caviar não tem senso de humor quando é o alvo das piadas. Dois tipos de ataque merecem maior atenção, e aproveito para fazer isso agora.

O primeiro foi a acusação de que eu teria inveja ou recalque pelo local onde o comediante mora, o bairro com o metro quadrado mais caro do país. O segundo foi questionando qual o problema de morar no Leblon e defender a esquerda ou o socialismo. Vamos lá.

Não tenho inveja de gente rica ou de morador do Leblon, local que gosto muito e onde tenho vários amigos. Sou um defensor do capitalismo liberal, ou seja, sou o primeiro a enaltecer o papel de empresários e profissionais liberais que ficam ricos graças ao próprio mérito. Para mim, riqueza não é sinônimo de exploração.

Portanto, não tenho recalque de gente rica e honesta, e sim admiração, respeito, quando a riqueza é fruto de trocas voluntárias no livre mercado, quando é o reconhecimento de que o empreendedor ofereceu algo de valor em troca para a sociedade, que por escolha própria o fez rico. Só não aprecio aquele tipo de riqueza proveniente de subsídios do governo, barreiras protecionistas, privilégios, patrocínios culturais das estatais, etc. Cai por terra o primeiro ataque.

E que tem ligação direta com a incoerência do segundo ataque. Ora, qual o problema de defender o socialismo e morar no Leblon, e ser rico? Simples: o socialismo condena o capitalismo, que por sua vez permite o enriquecimento legítimo dessas pessoas. É cuspir no prato que comeu, para resumir.

Antes, vamos esclarecer o que é socialismo, pois fiquei espantado com a ignorância dos críticos. Socialismo não é “se importar com os pobres”, “combater a exploração”, “desejar que todos tenham melhores condições de vida”, etc. Quem “pensa” assim, sem se dar conta, já é vítima de lavagem cerebral e adota o monopólio das virtudes como estratégia pérfida.

Quer dizer que um empresário que defende o capitalismo, que o permitiu ficar rico, não liga para os pobres? Absurdo, e essa gente nem percebe. O que fazem é usurpar para a esquerda as boas intenções, e isso é desonestidade intelectual. Quem foi que disse para esse pessoal que para se importar com os pobres tem que ser de esquerda?

Socialismo é a defesa de um sistema, de um meio, e não do fim nobre em si. E qual é este meio? Ora, literalmente falando, a concentração dos meios de produção nas mãos do estado. Claro que esse grau “puro” de socialismo quase ninguém mais defende, à exceção de uns dinossauros que aplaudem Cuba e Coreia do Norte.

Mas mesmo um socialismo mais light, mais moderado, vai pregar, como meio, repito, mais concentração de poder no estado, vai condenar a “ganância” dos capitalistas, o próprio lucro muitas vezes. É, afinal, “igualitário” nos resultados, pretende tirar dos ricos para dar aos pobres, como se riqueza fosse um bolo de soma zero e fruto da exploração.

Portanto, quando essa turma questiona se para ser socialista é preciso fazer voto de pobreza, morar na favela, a resposta é: não necessariamente; mas, que fazer o contrário, ou seja, voto de riqueza com muita ganância e foco no lucro pessoal, é algo contraditório e incoerente, isso é óbvio!

Tem de ser cego para não perceber a incoerência de um George Soros, especulador bilionário e muito ganancioso, quando este se diz um membro da “esquerda limusine”. Quem aplaude os “socialistas” milionários está focando apenas nas supostas intenções e nos discursos, na retórica vazia, típico da esquerda caviar hipócrita, que ama Paris e odeia Cuba.

Ora, então o sujeito pode, na prática, fazer tudo exatamente igual aos mais gananciosos capitalistas, enriquecer e acumular mais e mais capital, comprar um apartamento de milhões na beira da praia de Ipanema ou do Leblon, ter um Porsche ou uma Ferrari na garagem, enfim, fazer tudo aquilo que os magnatas odiados pela esquerda fazem, e depois ser adorado pela mesma esquerda só porque prega a “justiça social” da boca pra fora e coloca uma camisa de Che Guevara? Haja ingenuidade!

Entendem o absurdo da coisa? Logo, claro que é um contrassenso o sujeito enaltecer as “maravilhas” do igualitarismo, do socialismo, e depois viver exatamente igual aos mais ricos da elite capitalista. Lógico que é incoerente cuspir no capitalismo que permitiu sua própria riqueza para começo de conversa. Não perceber isso é algo realmente incrível e espantoso. Quem melhor resumiu a coisa foi Roberto Campos:

É divertidíssima a esquizofrenia de nossos artistas e intelectuais de esquerda: admiram o socialismo de Fidel Castro, mas adoram também três coisas que só o capitalismo sabe dar – bons cachês em moeda forte; ausência de censura e consumismo burguês. Trata-se de filhos de Marx numa transa adúltera com a Coca-Cola…

Rodrigo Constantino

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