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Por que a esquerda ignora a responsabilidade individual?
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Por Sergio de Mello, publicado pelo Instituto Liberal

Rodrigo Constantino publicou em seu blog que um negro teria agredido um branco por este ter, segundo ele, justamente por ser branco e ao menos indiretamente, contribuído pela transformação de sua avó numa escrava. Em outra oportunidade, um rapaz segura um cartaz pedindo desculpas por vários atos e transtornos que as mulheres teriam sofrido também no passado (assédio, agressões, desigualdades e machismo).

Muito embora tais fatos sejam notórios para sensíveis à razão, Theodore Dalrymple nos informa algo a respeito, iluminando exatamente aquilo que sentimentais não têm: a capacidade de refletir e de pensar sobre suas ações de vitimização exacerbada. Enfeitiçados pelo sentimentalismo tóxico, não veem nada além de seus próprios direitos e um certo devedor social não individualizado. Para elas, o homem é bom por natureza, mas foi corrompido pela sociedade. A consequência disso é a obrigação de pagar a conta. Coitado do homem branco citado por Rodrigo: por estar mais perto do negro, acabou pagando o pato!

Este rapaz acabou de se autoincriminar e taxar não somente ele, mas todos os homens, pela ordem que está no cartaz, de: estupradores, agressivos, estupradores novamente (hoje, pelo código penal, “encoxada” é ato libidinoso e também é crime, enquadrando-se no mesmo conceito de estupro), ameaçadores, preconceituosos e, por fim, machistas. Enfim, toda uma gama de atributos indesejáveis num homem. Por ele, teremos que pagar uma pena por algo que a sociedade masculina fez – e ainda faz – de mal à mulher.

Ações individuais – que chegam à políticas – como essas fazem com que pessoas incautas e sentimentais percam a noção de responsabilidade. Todas ou quase todas as ações de desculpas progressistas hoje em dia estão pautadas num fundamento inconcebível: a ausência de responsabilidade individual. É o “produto podre” do romantismo.

Ora, só se tem culpa daquilo que se faz de errado, e nada mais. Só que a responsabilidadeSair criminal não pode passar da pessoa do criminoso. Eu nunca devo pagar pelo erro dos outros, a não ser pelo desmatamento florestal causado pelo dono anterior, numa visão holística (socialista). Com isso, parentes, amigos, vizinhos, pessoas que ao menos souberam da prática criminosa e não fizeram nada não devem responder por nada. Por lógico que a culpa aí atribuída a todos os seres humanos do sexo masculino não é essa de prática efetiva de crimes. É a culpa por ações preconceituosas de outros. Culpa essa que, aliás, é de duvidosa existência assim, digamos, em termos tão vastos, amplos ou onipresentes, como quer ele fazer crer por meio do seu cartaz.

Já não basta aqueles que se sentem reprimidos por não verem seus desejos atendidos, agora surge a figura daqueles que se sentem culpados pelo erro dos outros. Por um lado, é direito demais, por outro, é responsabilidade demais. Sem filtros politicamente corretos: é direito demais e responsabilidades de menos.

São demonstrações de sentimentos fugidios que deturpam a autoimagem e o senso crítico justo e equilibrado. É uma fuga secularizada do cristianismo na tentativa de desfigurar a noção exata daquilo que é e daquilo que deve ser o homem: um ser que erra e que deve pagar pelos seus erros. Merece perdão, por óbvio, mas sem isenções de responsabilidade.

É sentimentalismo demais! O custo social disso é muito grande. Por um lado, a acefalia social. Ou seja, ninguém mais pensa em nada e não vê a necessidade de reflexão sobre suas ações ou as dos outros. Por outro, a política do ressentimento, que cria e sustenta esse estado conflituoso em benefício de si, não deixando a sociedade viver a verdadeira paz. Pensem num presídio superlotado, como outro exemplo. Quem não quer não sai dele ressocializado, saindo mais ainda perturbado. Quem quer sai dali pronto para uma nova vida. O Estado tem culpa? Sim, mas ainda assim existe vontade e capacidade individual.

Sinto muito desapontá-lo, meu caro, mas eu não me sinto nem um pouco culpado pelos “estupros” e pelas “encoxadas” que não cometi e que verdadeiros estupradores cometeram. As aspas são necessários porque, no meu caso, o sexo sempre é consentido, tudo com aceitação. E desconheço qualquer boletim de ocorrência que me indicia, ação criminal que me julga e condena.

Pelo andar da carruagem, daqui a pouco estaremos, todos os homens, respondendo a processos de indenização por danos morais coletivos ou sociais em benefício das mulheres oprimidas ou “estupradas” pelos outros. Cada um vai ter que pagar a sua parte, a sua cota, nessa responsabilidade, digamos, social, nem que seja por meio do Estado como devedor indireto.

Quem deve se sentir envergonhado é aquele que força criança de menos de 10 anos a ter com ele algum ato libidinoso; aquele que bate na esposa, abusando de sua condição de vulnerabilidade física; aquele que a ameaça ou a lesiona.

O despertar da consciência do erro não deve se dar por meio de ações coletivas, e sim por meio da responsabilidade individual, sem ações comunitárias também na culpa. Sem essa histeria maluca que envolve evangelisticamente crianças indefesas e seus pais irresponsáveis, artistas hipócritas, políticos interesseiros, uma mídia mentirosa. E, para fechar com chave de ouro, também homens que, dolosamente, desejam voltar a um estado de incircuncisão em nome e em homenagem a um autoflagelo comunista, expiatório e redentor. E o pior de tudo, sem ter culpa de nada.

Não me sinto nem um pouco ofendido com isso, com essa imputação que sobre mim também recai, ao menos indiretamente.  Não quero me sentir o Rei Sol. Não tenho inveja de Luiz XIV. Amanhã não estarei contratando advogado para uma ação de indenização por danos morais. Com certeza, ganharia.

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