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Por que me tornei contra o desarmamento
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Por João Cesar de Melo, publicado no Instituto Liberal

Diante da aprovação do texto-base do PL3722, venho compartilhar meu caso pessoal para mostrar que não podemos deixar que nossas experiências e emoções particulares sobrepujam os princípios básicos da liberdade.

Tive experiências reais com armas de fogo. Quando eu tinha 13 anos de idade meu pai mostrou-me onde guardava sua arma, ensinou-me a atirar e disse que, em sua ausência, eu deveria proteger a família. Doze anos depois ele tentou me matar com a mesma arma.

Obviamente que uma experiência como essa alimenta na maioria das pessoas grande rejeição às armas, no entanto, reflexões mais profundas deveriam fazer estas mesmas pessoas entender que armas não têm vontade própria, não disparam sozinhas. Eu, assim como todos que passaram por experiências semelhantes ou piores, fomos vítimas dos desvios de caráter ou das instabilidades emocionais de seres humanos. O mal que quase tirou minha vida não estava na arma, mas em meu pai.

O resultado dessa e de outras experiências pessoais moldaram minha rejeição ao porte de armas até pouco mais de um ano atrás; e o que me fez mudar de opinião não foram as publicações que defendem o armamento da população, mas minhas próprias reflexões feitas a partir do argumento da esquerda em favor da legalização da maconha.

Nunca fumei, no entanto, sempre defendi seu consumo por enxergar que a grande maioria das pessoas não cai em desgraça por fumar maconha. Os casos que chegam aos ambulatórios representam uma mínima parcela desses fumantes, assim como os casos de obesidade mórbida representam uma mínima parcela dos consumidores de bacon.

Mesmo que todos os males da maconha fossem comprovados, ainda assim é um direito de cada indivíduo prejudicar a si mesmo; e a violência gerada pelo tráfico de drogas é resultado da marginalidade criada pelo próprio estado.

A pergunta que fiz a mim mesmo foi: Se eu compreendo o Princípio da Liberdade, que envolve o direito de uma pessoa adulta se drogar, como eu posso rejeitar o direito de alguém portar uma arma para proteger a vida de sua família, a sua própria vida ou mesmo sua casa e empresa? Não posso. Ninguém pode.

Ironicamente, descobri no argumento socialista de que o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo não estimula heterossexuais e se tornarem homossexuais o argumento perfeito para se exigir que pessoas tenham o direito de se defenderem, afinal, nenhuma pessoa pacífica se transformaria num assassino pelo simples fato de ter uma arma dentro de casa – assim como nenhum assassino deixa de matar alguém por causa de alguma lei.

Esse argumento despertou-me para outro: Pessoas que praticam artes marciais de fato têm condições de agredir outras com muito mais facilidade e gravidade, no entanto, isso não quer dizer que as pessoas que praticam artes marciais sejam mais agressivas do que as que não praticam. Na verdade, grande parte dessas pessoas as utiliza como recurso de autodefesa. Autodefesa!

Os socialistas, quando lhes convém, utilizam-se do sucesso de políticas americanas para sustentar suas ideias, sendo uma dessas políticas a liberalização da produção, da venda e do consumo da maconha. Os socialistas daqui e de lá festejam a redução dos índices de criminalidade, a redução dos casos de internação por overdose e o incremento de pequenos negócios que vem financiando benfeitorias públicas, porém, ignoram demagogicamente que os índices de assassinatos nos Estados Unidos são muito menores do que os do Brasil. Ignoram também que muitos crimes não são cometidos nos Estados Unidos justamente porque os criminosos pressupõem que a vítima esteja armada e que muitos dos assassinatos em série que estampam as capas dos jornais são interrompidos por pessoas comuns que, por estarem armadas, puderam reagir.

A verdade é que a rejeição ao porte de armas tem o mesmo fundamento do medo de tubarão. As mesmas pessoas que dão faniquitos quando, nos Estados Unidos, um maluco mata meia dúzia de inocentes com uma arma comprada legalmente ignoram as milhares de pessoas que são esfaqueadas ou mortas de mil outras maneiras; as mesmas pessoas que ficam aterrorizadas diante das notícias de meia dúzia de ataques de tubarão a cada ano no mundo ignoram que todos os anos dezenas de pessoas são mortas por hipopótamos, que centenas de pessoas são mortas por cobras, que milhões são mortas por mosquitos. As mesmas pessoas que dizem que a simples presença de armas na casa das pessoas potencializa acidentes com crianças ignoram que um número muito maior morre sufocada nos berços onde dormem, morre intoxicada por remédios ou por afogamento nas piscinas de suas próprias casas.

Eu continuo não desejando ter uma arma, porém, hoje defendo que qualquer pessoa possa ter a sua. Acredito que o argumento ideal não seja a suposta redução da violência, afinal, isso depende de muitas outras ações. O argumento irrefutável é o fundamental direito de autodefesa. Isso basta.

Toda pessoa que defende o Princípio de Liberdade para uma coisa tem o dever de defender o mesmo princípio para todas as outras coisas. O socialista que defende que as pessoas tenham o direito de fazer o que quiser com o seu próprio corpo deveria defender também o direito de cada pessoa zelar por sua vida, da mesma forma em que a pessoa que defende a liberdade de se portar uma arma deveria aceitar que todas as pessoas tenham liberdade para se drogar e para se relacionar intimamente com quaisquer outras pessoas.

A mesma verdade: Nenhuma lei impedirá que pessoas matem pessoas, que se droguem ou que tenham relações homoafetivas.

Na incapacidade do estado de antecipar-se aos desvios comportamentais de todos os seres humanos, de estar em todos lugares ao mesmo tempo e de saber lidar de forma eficiente com todas as situações, nada mais justo e coerente do que oferecer a todas as pessoas a liberdade para salvaguardar suas próprias vidas.

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