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Por que o assassinato brutal de Marielle Franco não vai unir direita e esquerda contra o crime?
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Em sua coluna de hoje no GLOBO, Ricardo Rangel questiona por quem os sinos dobram, concluindo que dobram por todos nós, por ti, e que isso poderia ser um motivo de inflexão no debate entre esquerda e direita em prol de uma união pela segurança de todos. Pretendo argumentar a seguir que tal união, ainda que desejável, parece inviável, impossível, e por um motivo simples: a esquerda não demonstra qualquer sinal de que combater o crime em geral seja seu real objetivo.

Rangel mesmo acaba escorregando na politização da morte de Marielle, um dos motivos pelos quais tal união se torna complicada, para dizer o mínimo. Ele faz concessões ideológicas indevidas, como se as características que a esquerda tem enfatizado na vítima da vez – a cor da pele, a bissexualidade, a origem pobre e nordestina – fossem fatores fundamentais para torná-la, já, uma heroína das boas causas. Diz ele:

Marielle não era uma parlamentar qualquer. Mulher, negra, bissexual, filha de nordestinos, da favela, Marielle era uma síntese da exclusão no Brasil. Era também um símbolo de superação: fez faculdade, mestrado, se elegeu parlamentar. De excluída, sem representação política, fez-se representante política dos excluídos. Era uma espécie de lembrete tanto de nossa miséria como de que pode haver esperança.

De muitas maneiras, Marielle éramos nós. “Não perguntes por quem os sinos dobram”, escreveu John Donne há quatro séculos. “Eles dobram por ti”.

Aqui começam os vários problemas para tal união. A direita, liberal ou conservadora, não aceita fazer essa distinção, segregando o povo brasileiro por conta de sua classe ou sua cor, muito menos suas preferências sexuais. O que importa, de verdade, se Marielle é negra ou branca? O que muda no fato de ela ser nordestina? Por que sua bissexualidade deveria ter qualquer relevância aqui? Percebem como a esquerda faz?

O fato de ela ter origem pobre e ter, mesmo assim, feito mestrado e “subido” na vida, chegando a parlamentar, pode ter sua importância na narrativa, mas também é preciso ter cuidado aqui. Mestrado na área de Humanas pode significar, no mundo de hoje, a destruição do cérebro, a transformação de uma pessoa razoável num militante ideológico que defende as ideias mais ultrapassadas do mundo.

Infelizmente, parece ter sido o caso de Marielle. Tanto que estava no PSOL, partido que prega o socialismo e aplaude a ditadura de Maduro na Venezuela! A reação de seus companheiros após sua morte também indica isso: politizaram ao extremo o ocorrido, dançando como abutres em cima de sua carniça. Chegaram a ligar o assassinato ao “golpe” do impeachment e a gritar “Fora Temer” em seus protestos. Há diálogo possível com carniceiros dessa espécie?

Em seguida, o autor acaba comprovando que não há chances de união, pois a esquerda continua tentando monopolizar as virtudes, os fins nobres, enquanto abandona a lógica nos debates:

No afã de obter mais conquistas sociais para os excluídos, a esquerda parece relevar os crimes dos traficantes. No afã de obter mais segurança, a direita parece relevar os crimes dos policiais-bandidos.

Não sabemos ainda se quem matou Marielle foram policiais-bandidos ou traficantes: a esquerda torce para que tenham sido os primeiros, a direita torce para que tenham sido os segundos. Assim poderão seguir vivendo suas alucinações, uns, de que a polícia é o vilão; os outros, de que a polícia como um todo é o mocinho.

Momentaneamente, inverteram seus papéis — a esquerda defende enfaticamente a cidadã honesta que teve seus direitos humanos violados por bandidos, a direita hesita em defendê-la —, mas continuam cegas.

Quando perceberão que bandidos, sejam traficantes ou policiais, são, simplesmente, bandidos, inimigos de todos nós?

Ora, primeiro era necessário entender como a esquerda, ao “defender mais conquistas sociais para os excluídos” (olha o monopólio dos fins nobres aí), passa a relevar os crimes dos traficantes. Qual a lógica? Por que alguém, ao defender melhor qualidade de vida, teria que fazer vista grossa aos crimes dos traficantes? O autor não explica. Ele joga a frase no ar, e fica por isso mesmo, como uma “petição de princípio”. É a morte do debate que ele propõe.

Em segundo lugar, quem disse que a direita considera toda a polícia como mocinho? Isso é uma inverdade criada sob medida para colocar tanto esquerda como direita no mesmo barco, com o autor bancando o “isentão” que fica no meio entre os extremos irracionais, cobrando bom senso. Mas bom senso lhe falta no texto, ao afirmar tais disparates. Esse “meme” que anda circulando talvez possa ajudá-lo:

A esquerda vem demonizando a polícia enquanto instituição, porque defende os bandidos, toma o partido dos traficantes, dos invasores de terra, dos guerrilheiros comunistas. Para a esquerda, a polícia é ruim mesmo quando é boa, pois acusam todos os policiais de “fascistas”. Por outro lado, vivem justificando os bandidos, que seriam “vítimas da sociedade”.

A tentativa de misturar esquerda e direita do autor foi, portanto, absurda, e mostra que, na prática, ele quer enaltecer a esquerda. Se alguém diz que é preciso um ponto de encontro ao meio entre comunistas e capitalistas, pode estar certo de que essa pessoa pretende defender comunistas! Ou alguém diria que é preciso encontrar um meio termo entre democratas e nazistas, por exemplo?

A esquerda defende os bandidos e demoniza os policiais. A direita demoniza os bandidos, fardados ou não, e elogia o papel fundamental da polícia que, como toda instituição humana, jamais será perfeita. As maçãs podres dentro da polícia não fazem dela, como instituição, algo ruim ou indesejável. Mas a direita não pretende proteger milicianos. Isso não passa de uma mentira criada pela esquerda.

Agora que encontraram o proprietário do carro usado no assassinato de Marielle, e viram que ele pertencia a um… traficante, a esquerda já tem suavizado sua narrativa contra a polícia, alegando que o culpado pelo crime deve ser severamente punido, sendo traficante ou policial. Mas não era essa a postura da esquerda antes. A mesma turma que considera Lula inocente apesar de condenado em segunda instância e com vasta evidência, nem titubeou ao apontar o responsável pelo crime: a polícia!

Da mesma forma que ignoraram o motorista, por ser branco e homem, e agora já o incluem nos discursos porque viram que pegou muito mal só focar na vereadora, já começam a abrandar o tom contra a polícia, pois o culpado pode estar do lado de lá, no próprio tráfico que a esquerda costuma defender. Ao menos uma desembargadora chegou a levantar a possibilidade de o crime ter como causa desentendimentos entre o crime, o que ainda é leviano para dizer, mas certamente é uma possibilidade. Ainda mais quando sabemos da velha ligação entre socialistas e bandidos. Celso Daniel que o diga.

Eis o motivo pelo qual não parece realista falar em união entre esquerda e direita para combater o crime e defender a polícia, aquela ala séria da polícia: a esquerda não tem o menor interesse nisso! Essa já é a bandeira… da direita! Ninguém aqui pretende defender miliciano. Mas não venham defender traficantes como se fossem vítimas da sociedade, e não venham demonizar toda a polícia, como se fosse fascista, pois isso a direita não vai aceitar jamais. Rangel finaliza:

Se há uma maneira de honrarmos Marielle, é encararmos seu trágico sacrifício como um toque de reunir, pararmos de brigar entre nós mesmos e procurarmos, juntos, um caminho para fora desta arapuca em que nos metemos. Separados, nosso destino será mais horror e mais sinos tocando.

Só há um “detalhe”: a esquerda tem sido parte do problema, é causa dessa arapuca em que nos metemos – ou nos meteram! Em suma, respondendo a pergunta do título: simples, porque a esquerda não quer realmente combater o crime. Ela defende os criminosos!

Rodrigo Constantino

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