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“Precisamos criar uma rede de instituições, intelectuais, empresários e cidadãos que lutem para tornar o que hoje é politicamente impossível em politicamente inevitável”. – Entrevista com novo presidente do IL
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Roberto Gomides, 31 anos, é o novo presidente do Instituto Liberal. Graduado em Administração pela Escola Naval Brasileira, possui especialização em Modern Economy Theory, pela George Washington University e é mestrando em Economia pela Fundação Getulio Vargas.

Nesta breve entrevista ele conta os novos desafios do Instituto Liberal e o futuro da liberdade no Brasil.

Luan Sperandio: O Instituto Liberal foi criado em 1983. De lá para cá, como foi a história do Instituto?

Roberto Gomides: O trabalho inicial do Instituto se concentrou por algum tempo na tradução, edição e publicação de livros e panfletos, já que eram muito poucos os textos sobre liberalismo existentes no Brasil. Inclusive, o próprio Donald Stewart Jr. traduziu para o português o livro Ação Humana – Um Tratado de Economia, de Ludwig von Mises.

Simultaneamente, o IL passou a promover palestras, colóquios e seminários. Professores, especialistas e intelectuais de diversas áreas do pensamento contribuíram para a realização desse trabalho. Dessa equipe, um dos mais dedicados e valorosos colaboradores foi o Prof. Og Leme que integrou os quadros do Instituto Liberal até setembro de 2003.

A partir de 2007, a semente plantada pelo trabalho de décadas do IL gerou formidáveis frutos, com a criação de diversos outros institutos autônomos em defesa da liberdade, como o Instituto Mises Brasil, os Institutos de Formação de Líderes, o Instituto Millenium, o Instituto Liberal do Nordeste, o Instituto Ordem Livre e o Estudantes pela Liberdade, todos parceiros institucionais do IL.

Em 2013, uma nova Diretoria, sob a liderança do economista Rodrigo Constantino e do advogado e professor universitário Bernardo Santoro, renovou os quadros do IL em face aos desafios impostos por uma nova geração de tecnologia audiovisual, adaptando o histórico material produzido às novas mídias digitais.

Desde então o IL buscou apresentar-se como alternativa à mídia tradicional, publicando artigos sem o viés dominante de esquerda e, ao mesmo tempo, fomentando a propagação dos princípios liberais no Brasil.

LS: Como você se tornou liberal?

RB: Como a maioria dos brasileiros, eu acreditava que a solução dos meus problemas era passar em um concurso público. Na época eu era Oficial da Marinha e fiz uma prova para a Secretaria de Estado de Fazenda do Rio de Janeiro. Ironicamente, a Secretaria possuía um programa de capacitação, que consistia em enviar dois servidores por semestre para estudar Teoria Econômica no Institute of Brazilian Issues da George Washington University, em Washington DC, onde é realizado o Minerva Program.

Chegando lá tive a oportunidade de ter aulas com grandes nomes da Escola Austríaca, como por exemplo o professor Peter Boettke, que é o atual presidente da Mont Pelerin Society.

Depois de entrar em contato com as ideias liberais e viver em uma sociedade muito mais liberal que a nossa, foi um caminho sem volta…

LS: Qual o principal desafio para o Instituto Liberal nessa nova etapa?

RG: Acredito que o maior desafio do movimento liberal como um todo, e não só do IL, é o de respaldar toda a teoria política e econômica, que sustenta o movimento, com ações e estudos práticos focados na realidade brasileira.

Para que isso aconteça, faz-se necessário a estruturação de instituições capazes de prover soluções alternativas para problemas reais que impactam diretamente a nossa sociedade e, também, oferecer resistência à implantação de medidas sabidamente ineficientes.

Obviamente, uma estrutura desse tipo demanda recursos. Nesse sentido, precisamos, em paralelo, reviver a caridade privada no Brasil.

É um desafio imenso, pois o empresário brasileiro normalmente se vê obrigado a escolher entre o pragmatismo e a falência e o cidadão comum paga impostos elevadíssimos ao ponto de tornar a filantropia quase proibitiva dado o Estado mastodôntico que precisamos sustentar. Entretanto, se não o enfrentarmos, corremos o risco de ficarmos estagnados no campo das ideias, enquanto instituições de esquerda que recebem vultuosos recursos via Leis de Benefícios Fiscais se organizam em busca do “Rent Seeking”.

LS: Na década de 90 o Governo Federal adotou diversas medidas liberalizantes na economia. A obra ‘O que é liberalismo’, escrita em 1995 pelo fundador do IL, Donald Stewart. Jr., em seu último capítulo demonstra bem todo esse otimismo com o futuro do país. Mas o movimento liberal esmaeceu e iniciou uma reorganização apenas ao final do governo Lula e com a crise econômica e política, houve um enorme crescimento do movimento liberal, principalmente por meio das redes sociais. O que fazer a partir de agora para tornar esse crescimento sustentável e não repetirmos o erro da década de 90?

No meu ponto de vista, isso passa tanto pela questão do fusionismo, quanto pela estruturação de instituições sérias que respaldem o crescimento do movimento liberal.

Os liberais fizeram muitas concessões em nome da união, do pragmatismo e do politicamente possível. Dessa forma, passamos da social democracia de FHC, para o capitalismo de compadres do PT.

Acredito que para termos um crescimento sustentável, temos de focar no que Milton Friedman disse para Antony Fisher quando ele se deparou com esse mesmo problema: precisamos criar uma rede de instituições, intelectuais, empresários e cidadãos que lutem para tornar o que hoje é politicamente impossível em politicamente inevitável.

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